Há livros que não apenas contam uma história, mas também carregam em suas páginas o peso da memória, da dor coletiva e daquilo que nunca se cala. A Canção do Rio é um desses livros.

Narrado como uma canção antiga que atravessa gerações, no coração de Pedra do Rio, uma comunidade que vive entre lendas, silêncios e a presença constante do Tapajós, algo antigo desperta. O rio, que deveria ser abrigo e memória, revela-se também como juiz, guardando em suas águas segredos, culpas e vozes que recusam o esquecimento. Quando sua canção ecoa, ela não consola: ela exige. E todos, vivos ou mortos, acabam arrastados pela força de uma justiça que não se deixa calar.

O rio aqui não é apenas cenário, mas personagem vivo, testemunha e cúmplice das tr4géd1as humanas. Suas águas trazem ecos de luto, de vi0lênc1a e de silêncios impostos, mas também a força de quem insiste em contar histórias que o tempo tentou afogar.

Ellen constrói sua narrativa como quem compõe uma melodia: capítulos curtos, ritmo envolvente e uma prosa carregada de lirismo e dor. A cada página, fui levada pela correnteza de memórias que não pertencem só aos personagens, mas que ecoam também nas nossas próprias feridas enquanto sociedade. O romance aborda temas difíceis — vi0lênc1a de gênero, 4bus0s, tr4umas — mas faz isso de forma poética e, ao mesmo tempo, brut4lmente honesta.

A atmosfera é sombria, quase mítica, mas é justamente nessa mistura de realismo e fantasia que a autora alcança sua força: transformar dor em canto, silêncio em palavra, esquecimento em permanência.

Ellen se tornou uma das minhas autoras nacionais favoritas. Sua escrita é viciante, daquela que prende, machuca e ao mesmo tempo encanta. A Canção do Rio não é uma leitura leve, mas é necessária. É daquelas histórias que marcam, porque o rio, como a literatura, nunca esquece.

Quero dizer que amei demais a capa, li em e-book, mas a edição física está lindíssima. Aproveitem! (Disponível na Amazon, Kindle Unlimited e físico na loja da Boteco Editorial).

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Beijos!