ENTREVISTA COM AUTORES #34 | Autor Ed Saraiva Jr.
1 - Como você percebeu que queria ser escritor?
Por incrível que pareça, aos 7 anos de idade. Meus amiguinhos da rua queriam ser médicos, outros queriam ser bombeiros, jogadores de futebol, mas eu, sempre dizia que queria ser escritor.
Como nessa fase eu estava desenvolvendo a leitura e a escrita, fiquei apaixonado pelos livros e os devorava, deixando as brincadeiras um pouco de lado.
Na infância, eu tive crises de asma muito fortes e não podia ir à escola por conta do pó do giz, então as minhas professoras foram a minha mãe e minha irmã mais velha que me alfabatizaram. Além de me ensinarem tudo, me mostravam várias estórias infantis como “O casamento da baratinha” e “A lua de queijo”.
Foi assim que eu comecei a dar os primeiros passos para a escrita e criei um personagem chamado Capitão TV. Em 2001, o SBT nos trouxe a TV CRUJ, mas passava no horário da novela e a minha mãe não me deixava assistir ao meu programa favorito, haja vista que só tinha um aparelho televisor em minha casa. Foi assim que surgiu o Capitão TV, ele aparecia para as crianças quando elas queriam assistir desenhos e os adultos não deixavam. Esse personagem tinha um capacete de astronauta em formato de TV e o mesmo reproduzia programas infantis para a gurizada. Foi uma forma de desabafo que eu encontrei por não poder ver televisão durante a TV CRUJ, enquanto minha mãe sintonizava na novela, eu ia para o quarto, escrever.
Na adolescência, comecei a escrever uma obra romântica por causa de um amor platônico que eu tinha por uma moça da escola. O livro se chamava “O homem de lata” que se baseava naquele personagem do Mágico de Oz que aparecia no clipe da música “Na sua estante” da cantora Pitty. Desisti de desenvolver o livro quando a tal moça que era a minha inspiração, se casou.
Em 2015, resolvi me aventurar no gênero do terror, que é a minha verdadeira paixão desde que comecei a assistir aos filmes e ler os livros de Stephen King, Edgar Allan Poe e H.P Lovecraft. A experiência foi incrível e até hoje, tenho prazer em assombrar os meus amados leitores.
2 - Tem algum personagem favorito? Em modo geral ou do seu(s) livros? Se sim, por quê? O que ele significa para você?
Essa pergunta é bem difícil, mas vamos lá: Sou apaixonado por todos os meus personagens, mas vou destacar o Nicolae Packwood (Jardim para Borboletas Mórbidas). Tenho um carinho muito grande por este personagem e percebo que público também. Nicolae foi inspirado em mim quando eu era criança, ele tem as mesmas características, fantasias e os mesmos medos que eu tinha na infância.
3 - Como foi para você, entrar no mundo literário e publicar seu primeiro livro?
É uma longa história, mas vou tentar resumir.
Quando eu descobri o site “Recanto das Letras” para ler contos de terror, notei que havia um Certame chamado DTRL (Desafio do Terror Rascunhos Literários), mas eu era apenas um leitor e jamais me imaginei escrevendo contos para o desafio, haja vista que competiria com autores brilhantes como a nossa rainha do terror, Glau Kemp, que hoje é um sucesso na Amazon com o seu e-book “Quando o mal tem um nome” e o Carlos H.F. Gomes que é editor do projeto Arte do Terror.
Entretanto, um dia, fui encorajado pela autora Ana Carolina Machado quando a mesma leu um conto que escrevi. Participei do concurso... E fui um fracasso, quase ninguém gostou do meu conto, fiquei dentre os últimos colocados, mas não perdi as esperanças.
Na outra edição do certame voltei a participar, mas um crítico literário (acredito eu, não ter coração) me chamou no privado e me disse as seguintes palavras: “Ed, você não é um péssimo escritor, você simplesmente NÃO É UM ESCRITOR e nunca será. As suas ideias são tão ruins que não fazem menor sentido. Quer um conselho de amigo? Não faça nenhum curso de literatura e pare de escrever imediatamente. Faça outra coisa da sua vida, pois você está perdendo o seu tempo tentando ser o que você não é”. Imagine que depois de ler isso, eu não dormir direito e chorei bastante por várias noites.
No fim do desafio, fiquei dentre os últimos colocados mais uma vez, porém eu já esperava isso. Sentindo-me frustrado na literatura, parei de participar do DTRL e foquei apenas na minha faculdade de jornalismo. Mas, certo dia, olhando o meu Facebook, vi o anúncio da 28° Edição daquele Concurso e que os autores não se revelariam durante o certame, apenas no final. Foi aí que eu decidi arriscar.
Fiz pesquisas, muitas pesquisas mesmo, escrevi com mais cuidado e com mais dedicação, como se aquele conto fosse um caso de vida ou morte para a minha carreira literária. Enviei o conto para a administração do concurso no limite do prazo e esperei os comentários.
Meus caros amigos, eu fiquei em choque com a chuva de elogios que recebi, dentre eles o mesmo crítico que disse que eu não era escritor. Naquele momento, aquele moço dizia que o conto merecia ser o vencedor da Edição e que foi uma experiência maravilhosa ler a obra (lembrando que ele não sabia quem era o autor).
No final do certame, o meu conto ficou em terceiro lugar geral e em primeiro lugar como “Melhor Título” da Edição. Quando o crítico viu o meu nome ao lado do conto, achou que a administração havia cometido uma gafe, mas a mesma revelou que eu era o autor daquela obra, obra esta que se tornou um livro: Jardim Para Borboletas Mórbidas.
Após alcançar o meu objetivo literário, fui para a parte de publicação e esta foi muito mais difícil do que eu imaginei. Fiz uma tiragem independente de 40 exemplares de Jardim Para Borboletas Mórbidas e eu tive que vender várias coisas minhas para poder realizar esse sonho.
Infelizmente, eu faço parte do índice de desemprego que fragmenta o nosso país. Mas com o dinheiro arrecadado dos primeiros exemplares, consegui fazer uma belíssima e nova versão do Jardim Para Borboletas Mórbidas junto a Folheando, uma editora que tem me ajudado muito.
4 - Você faz muitas pesquisas antes de escrever uma história?
Faço sim e é o primeiro passo que eu dou ao publicar alguma obra. Não posso de jeito nenhum entregar algo artificial e superficial aos meus leitores, portanto a pesquisa em outros livros e internet são imprescindíveis para um escritor que pensa em seu público.
5 - Existem muitas cobranças por parte de seus leitores?
Os leitores que eu conheço são bastante exigentes e isso é perfeito para mim. As trocas de conhecimentos são sempre bem-vindas e o meu e-mail está disponível para qualquer leitor dar a sua opinião.
6 - Fale um pouco sobre sua forma de criação.. Tem alguma mania na hora de escrever?
Eu gosto muito de tomar café ao escrever e tenho uma mania de olhar para capas de Best Sellers para incentivar o meu cérebro a trabalhar mais.
Meus vizinhos são muito barulhentos e quando tem festas aqui na rua, coloco os meus fones de ouvido e procuro por som de chuva no Youtube.
Sobre as formas de criar, acontecem seis situações que despertam a minha imaginação antes de escrever, são elas: Hábito de leitura, músicas (clássica e rock), séries e filmes, filosofias de vida, cotidiano e as pessoas.
Quando surgem ideias novas (às vezes por uma simples situação como: um pássaro pousar na janela), geralmente elas não me deixam dormir e ficam martelando o dia inteiro na minha cabeça até eu sentar para escrever. É como se os personagens ganhassem vida no meu subconsciente e ficassem gritando “Ei, cara, você precisa falar de mim!”. Parece loucura, mas não é, são apenas as ideias tentando sair da minha cabeça para o papel.
7 - Quais são seus projetos para um futuro próximo?
Eu tenho contos e romances engavetados no momento e quero investir neles. Estou pensando em publicar um conto de dark fantasy gratuitamente na Amazon, mas por falta recursos, ainda estou estudando essa ideia. Também tenho um romance de terror chamado “O esconderijo dos Pesadelos Famintos” e uma ficção cientifica/fantasia chamada “O navegante que ancorou nas estrelas”.
Recentemente a Editora Folheando, que está publicando o Jardim para Borboletas Mórbidas e que me premiou em seu Concurso Literário pelo conto "O acalentar da Morte" na coletânea "A voz da Palavra', também me convidou para ser avaliador de sua antologia de terror "A face do Medo" e me deu a oportunidade de participar da mesma com o conto "A catedral dos Mortos".
Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Com certeza. Primeiramente, quero agradecer por esta linda oportunidade de tê-los como leitores e espero trazer estórias que façam valer a pena cada segundo de leitura.
Gostaria de dizer que as minhas estórias não se limitam apenas no elemento “medo” presente em todas as obras de terror, mas também lições e filosofias do mundo em que vivemos e que o amor precisa ser a chave para abrir as portas certas.
Sei que vocês não gostam de clichês, mas preciso soltar um para que vocês entendam o quanto são especiais para Deus e para as pessoas que amam vocês:
Jamais desistam dos seus sonhos, mesmo que eles estejam nas profundidades dos oceanos ou em um planeta distante de nós. Seja um tripulante, seja um astronauta, mas não pare de sonhar.
Sobre o Autor:
Ed Saraiva Jr é um escritor brasileiro do gênero terror e do subgênero dark fantasy, nascido em 23 de janeiro de 1991, em Belém do Pará.
No período da faculdade de jornalismo, o autor escreveu o seu primeiro conto de suspense e terror “Epidemia Walteriana” em 2015, no site de literatura Recanto das Letras para o Desafio do Terror Rascunhos Literários (DTRL).
Sua obra de maior destaque o conto de dark fantasy “Jardim para borboletas mórbidas” (2017), participou da 28º Edição do Desafio do Terror Rascunhos Literários, sagrando-se vencedor na categoria “Melhor Título” e conquistando o Terceiro Lugar Geral no certame, onde recebeu incentivos dos leitores e outros autores para tornar a obra em livro no ano seguinte. Ed (1991) também foi um dos vencedores da Primeira Edição do Concurso Literário da Editora Folheando com o conto “O acalentar da morte” para a antologia A voz da Palavra em 2018.
Sua Obra:
Sinopse: No período pós 2ª Guerra Mundial, em uma isolada fazenda na Romênia, vive Nicolae, um garoto muito inteligente que descobre um universo mágico e sombrio ao redor de sua casa. Quando sua mãe, Aurora Packwood, decide fazer uma viagem, deixando o garoto cuidando dos afazeres da fazenda, coisas assustadoras acontecem. Durante a ausência de Aurora, Nicolae começa a receber visitas de estranhos e acaba se tornando presa de uma criatura temida há séculos. Kaverah ressurgiu do mundo dos pesadelos para buscar suas crianças solitárias.
Beijos!
14 comentários
Ed é um dos grandes presentes que o ig me deu e uma pessoa de coração superaberto. Hoje o que vem colhendo nada mais é que fruto do seu empenho, força e desejo de realizar, não somente um sonho, mas sim descoberta de quem és. Nenhum objetivo é alcançado sem esforço, dedicação e amor. Adorei conhecer mais sobre a sua história e tenho ainda mais orgulho desse meu menino. Parabéns querido! Quando um porta se fecha, com certeza, outras se abrem e Borboletas é apenas o início do seu voo. �� �� �� �� ��
ResponderExcluirOlá Aline! Estou muito sensibilizada com a história de vida do autor. Esse crítico foi muito cruel em desestimula-lo dessa maneira, isso não se faz gente! Não curto muito terror mas pela sinopse vi que o história é muito interessante, espero que Ed se aventure por outros gêneros para que eu possa conhecer sua escrita. Beijos
ResponderExcluirOlá, só posso pedir por mais autores tão preocupados com a opinião dos leitores como Saraiva, visto que são árduas pesquisas e muita dedicação que tornam um livro singular e denso, como aparenta ser Jardim Para Borboletas Mórbidas, uma obra que já encanta pela capa. Beijos.
ResponderExcluirAline!
ResponderExcluirGosto demais do estilo terror e ver mais um escritor nacional enveredar por esse caminho, muito me enche de orgulho.
Não conhecia o autor nem suas obrase ver que a história de vida e pocesso criativo foi tolhido por alguém, mas ainda assim ele persistiu e se tornou conhecido, é digno de se tirar o chapéu.
Desejo ainda mais sucesso para ele.
Desejo uma ótima semana!
“Se você realmente quer algo na vida, tem que lutar por isso.” (Homer Simpson)
cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA JULHO - 5 GANHADORES - BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!
O que mais me prende em um blog é esta possibilidade de conhecer o novo ou no caso, aquele autor que poucos conhecem e por isso, não valorizam.
ResponderExcluirAinda mais quando é nosso, literatura nacional de primeira.
Adorei a entrevista e adorei ainda mais saber que há todo um trabalho por trás da vontade de escrever do autor. Esse zelo com o leitor é maravilhoso e por isso, o moço já começa mandando bem!
Capa, título e sinopse perfeitas do seu trabalho e quero saber mais, com certeza.
Beijo
Já me identifiquei com ele quando ele citou o problema pra assistir a TV CRUJ rsrs, eu amava esse programa e tinha sempre confusão pra eu assistir haha, quase sempre perdia, esse lance de passar novela no mesmo horário era horrível e a ideia dele do Capitão TV é ótima, super divertida, ainda mais vindo de uma criança.
ResponderExcluirGostei muito da entrevista dele e achei super bacana e inspirador o fato dele não ter desistido depois daquele conselho horrível (que tipo de pessoa faz isso??!!) e ter persistido, se aperfeiçoado e conseguido dar a volta por cima em grande estilo.
Espero que ele se firme na profissão e desejo muito sucesso pra ele ;)
Querido Ed, te conheci por esse blog e sou muito grata por isso!
ResponderExcluirSobre o que citou que quando tem uma ideia e ela não te deixa dormir até passar para o papel, preciso falar: tenho certeza que essas ideias que deixam os autores com noites mau dormidas, são as mesmas que fazem a mesma coisa com os leitores. Por que estou falando isso? Porque, ultimamente, os livros que tenho lido e vivido nas páginas junto com a história estão me deixando com bastante sono no outro dia por ficar acordada de noite devido ao que foi lido rsrsrs
Ed, tenho certeza que aquele crítico sem coração apareceu em sua vida para te encorajar e provar para si mesmo que nenhuma crítica nos tira do que tanto desejamos.
Parabéns pela entrevista, pelo livro e por tudo. Boa sorte nessa sua caminhada incrível!!
Se apenas as respostas já me colocam nos cenários descritos, imagine seus livros. Se não me engano, conheci o Jardim Para Borboletas Mórbidas justamente aqui e já estava nos meus planos tentar a leitura. Muito sucesso para o autor!
ResponderExcluirOi,
ResponderExcluirNossa, até a forma que o autor inseriu a leitura e a escrita em sua vida á criativa, bom saber que esse amor é desde pequenino.
Sempre bom surpreender exatamente aqueles que desacreditam em nós, e melhor, sem precisar rebaixar ninguém...
Parabéns pela dedicação, e por lutar pela escrita que é algo tão bonito.
Beijos
Adorei a entrevista, o autor demostra sua paixão e o torna envolvente com os leitores. Fico muito feliz e espero conhecer muitos escritores nacionais assim. Acredito que crescerá muito profissionalmente e desejo muito sucesso. Desde a leitura da resenha no blog da Lost Words, fiquei interessada na obra misteriosa.
ResponderExcluirAinda bem que o autor não deu ouvidos as criticas e continuou escrevendo,pois é assim que melhoramos e vamos fazendo sempre o melhor!! Adorei a capa do livro e a história também deve ser ótima,adoro suspenses e esse sem duvidas vai despertar uma boa leitura!!
ResponderExcluirGrandiosa entrevista! Que capa magnífica é essa??? Difícil encontrar uma obra nacional tão bem elaborada. Gostei muito de conhecer o Ed Saraiva Jr, fiquei bem curioso pelo livro e pelo seu futuro investimento em dark fantasy.
ResponderExcluirAhhhhhhhhhhh mais um conterrâneo na literatura mds. Que bom conhecer mais um autor de Belém. E essa tv cruj eu era também fã e toda vez que começava eu saia correndo e foi numa dessas correrias que eu quebrei a perna kkkkkkkk. Bons tempos esses.
ResponderExcluirTenho curtido muito essas entrevistas do blog e gostando bastante. Gostei por escrever terror, algo que ao mesmo tempo que gosto, eu não leio por medo. Parabéns ao blog por essas entrevistas maravilhosas.
ResponderExcluir