ENTREVISTA COM AUTORES #64 | Autor Leverson Chaves
Como você percebeu que queria ser escritor?
Leverson – A escrita veio por uma necessidade minha de seguir em frente sem me esquecer das lições aprendidas. Eu esqueço e perdoo facilmente, e isso me fazia entrar em rodas de dores e problemas, revivendo mesmas situações e pessoas nocivas. Essas rodas são inevitáveis em nossas vidas, mas “cachoro mordido de cobra tem medo de linguiça” (ahahaha). Não precisamos sofrer de novo. O desejo de escrever veio da necessidade de guardar alguns ensinamentos experimentados, palavras, sonhos e ideias que vinham, bem como situações que me traziam algum aprendizado. Era para que eu me lembrasse. Corriqueiramente eu me admoestava antes dos textos: “Leverson, preste atenção nisso...” A intenção inicial não era compartilhar, era guardar para que eu não sofresse novamente ou para que eu lembrasse de algo para sempre. Começou com pequenos bilhetes, depois cartões, canções, passando para diários e agora um livro. Inúmeras vezes, eu voltava a minha caixa de memórias e lia. Algumas vezes eu olhava e pensava: Como eu pude esquecer disso?
Tem algum personagem favorito? Em modo geral...Se sim, por quê? O que ele significa para você?
Leverson - Vários, mas eu gostaria de salientar dois. O primeiro é Elizabeth de “Orgulho e Preconceito” da autora Jane Austen. Lizzy tem um tipo de amor próprio que aparenta presunção, mas que na verdade é apenas senso de liberdade. Uma romântica com amor-próprio. O outro é Alice de Carrol. Alice é alguém que tenta conciliar, em vão, realidades e sonhos. Ela constantemente usa argumentos da vida real para convencer os habitantes do País das Maravilhas e os que vivem atrás do espelho (entendeu isso? Rss). E no mundo real tenta conciliar o que sonha com as mazelas da realidade. Isso é extraordinário!!
Como está sendo para você, entrar no mundo literário?
Leverson - É tudo muito novo para mim! Escrever é um vício, tanto quanto ler. Mas eu sempre escrevi para mim. Agora, saber que as “coisas da minha cabeça” vão ser lidas por outros, é um trem grande demais da conta (ahahaha).
Você faz muitas pesquisas antes de escrever uma história?
Leverson – Lições Naturais, meu primeiro livro, é um livro de prosa poética intimista. Assim, eu apenas deixei fluir e não pesquisei muito. Mas, eu gostaria de um dia entrar em outros gêneros literários e certamente farei várias pesquisas para compor as histórias.
Existem muitas cobranças por parte de seus leitores?
Leverson – Lições Naturais é meu primeiro livro e, portanto, ainda não tive esse feedback. Como eu anseio por isso! Eu acredito que quando alguém tira um tempo para te dizer uma opinião ou crítica, ele está dizendo que se importa. Isso é demais!! Eu recebo de coração.
Fale um pouco sobre sua forma de criação... Possui alguma mania na hora de escrever?
Leverson – Eu gosto de escrever de madrugada, mas também sou adepto a uma boa noite de sono. Estafa, exaustão e estresse costumam me causar bloqueio literário. Acredito que por isso, os sonhos são tão importantes na minha escrita. Não é incomum, eu sonhar, acordar e escrever para não esquecer detalhes. As vezes, eu ouço frases em sonhos que ao ler depois eu penso: como meu inconsciente criou isso? Assim, quando estou escrevendo, eu costumo dormir cedo e acordar de madrugada para escrever. O silêncio, a paz e um céu estrelado ajudam também. Eu sou aficcionado por céu estrelado, pois me remete a plenitude e a sensação de pertencimento. A capa do Lições Naturais reflete isso. Eu sou biólogo e a natureza é tudo para mim. Eu tinha um sharpey, o Emílio, que me fazia companhia sentando comigo no jardim de madrugada olhando as estrelas. Hoje, ele é mais uma estrelinha no céu. Saudade.
Quais são seus projetos para um futuro próximo?
Leverson – Eu estou passando por um momento de transição na minha vida pessoal. O livro Lições Naturais foi para celebrar esse momento. São 45 textos que celebram meus 45 anos. Eu o escrevi na casa de meus pais onde nasci, com eles por perto e no quarto onde vivi. Eu coloquei muitas memórias nesse livro, bem como situações que vivi com pessoas muito importantes para mim. Cada uma delas estão avisadas: olha, esse texto é sobre você! (rsss), mas sem deixar de passar a mensagem principal, isto é, de que devemos nos reconectar com o mundo natural e absorver sua sabedoria, onde reside a essência de todos nós. O homem que não entende seu mundo, de onde veio, suas origens e suas bases, jamais se entenderá e viverá vagando. Nesse livro, eu quis inspirar e realizar tudo isso. E consegui. Eu me emocionei sabendo que meu pai o leu rapidamente. O livro cumpriu seu objetivo para mim. Agora é hora de seguir em frente, seguir rumo a uma nova jornada. Eu comecei a escrever novamente. Um escritor nunca para de escrever, mesmo que não publique. Eu tenho muitos projetos, mas de publicação eu confesso que ainda não sei. Eu sigo as estrelas dentro do meu coração. Mas, eu tenho uns escritos que um dia quero publicar. As estrelas me guiarão (rss).
Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words e para seus futuros leitores?
Leverson – Meus queridxs! Para nós, escrever e ler é um ato de amor. Amor por nossos sentimentos, por nossa visão da vida, pelo trajeto que percorremos e pelo que cada um tem a dizer e a ensinar. Compartilhar leitura, escrever e expressar o que sentiu ao ler, tudo isso é compartilhar amor. Nunca tivemos tanta necessidade de olhar para dentro de nós e para dentro do outro! Nunca precisamos tanto de amor como atualmente. Eu espero compartilhar com vocês meu amor e receber o de vocês, não somente em forma de carinho, mas também na forma de livros, de escrita (por favor, escrevam seus livros e sonhos também) e acima de tudo, pela tranformação que vocês todos causarão no mundo no qual eu também vivo. Que possamos também nos conectar novamente com a natureza, pois sem ela não viveremos. E as histórias são feitas porque estamos vivos. Vamos transformar o mundo! Muito obrigado por tudo! De coração! Coração azul, porque na física do espectro das cores, segundo me disseram, azul é a cor mais quente.
Com amor, Leverson.
Sobre o autor:
Leverson Chaves nasceu em 1974 na capixaba Bom Jesus do Norte. É biólogo e mestre em Ecologia e Recursos Naturais. O contato com a roça na infância despertou desde cedo o seu desejo de observar, entender, estudar e aprender com a natureza. Como leitor, encontrou inspiração no tio poeta, em autores “naturais”, como Manoel de Barros, e em obras de grandes cientistas, como Carl Sagan e James Lovelock, os quais marcaram profundamente sua vida. Quando questionado sobre o motivo de estudar as ciências naturais, responde sempre que o homem que não conhece seu mundo não se entende. Lições Naturais é seu livro de estreia.
Sobre sua obra:
Sinopse: É impossível separar a história da humanidade da natureza. A saga humana foi, em sua maior parte, percorrida sob montanhas, árvores e estrelas, por meio dos quais obtínhamos ensinamentos e lições profundas enquanto éramos parte do ambiente natural, de modo que a desconexão com a natureza nos últimos séculos nos separou de uma inspiração ímpar, inerente, milenar e profundamente natural.
Neste livro, com uma linguagem acessível e poética, o autor expressa algumas de suas próprias reflexões e apresenta respostas obtidas por meio da sua conexão com a natureza. Além das lições aprendidas e das memórias resgatadas, Leverson Chaves expõe sua impressão do mundo ao mesmo tempo em que convida o leitor a buscar a inspiração natural a fim de obter o consolo para todas as suas inquietações e dúvidas, nos fazendo entender que nossa real essência nos é revelada no mundo natural, no qual tudo e todos estão interconectados e todos são autodidatas.
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Beijos!
1 comentários
Olá Aline,
ResponderExcluirFiquei encantado com a entrevista. Conheço o Leverson há algum tempo, e é uma simpatia de pessoa mesmo. Só não conhecia ainda seu lado escritor. Nem imaginava, um dia, encontrar alguém com "estrelas no coração". Acho que a maioria das estrelas por aí está meio apagadinha... As pessoas parecem feitas de papel, e quando encontramos alguém que se sobressai, é algo raro. Comprei o livro e estou esperado chegar. Achei fascinante a forma poética como ele descreve a escrita, e acredito que essa paixão é que faz toda a diferença. Acho que vou encontrar essa poesia no livro, talvez inspiração para terminar meus próprios trabalhos. São muitos problemas, e nem sempre acreditamos que vale a pena. São exemplos assim que me mostram que sim, vale a pena.
Abraços a todos