ENTREVISTA COM AUTORES #197 | Autora Jaslin Alexandra

by - segunda-feira, junho 03, 2024


1 - Qual foi sua inspiração para começar a escrever?
Eu escrevi meu primeiro livro, Jovens Ilusões, em umas férias de verão quando tinha 14 anos e ia sair da escola em que estudei desde o Jardim de Infância. Sempre gostei de escrever e adorava fazer redações e trabalhos de aula, mas não lembro exatamente o que me motivou a escrever este texto específico. Eu só lembro que tinha esse sentimento de que deixaria para trás tudo que eu conhecia até então, inclusive meus melhores amigos, mas que, por outro lado, poderia experimentar novos desafios e aventuras não imaginadas. Eu perdi o arquivo digital, mas tinha ele impresso. Quando veio a pandemia acabei revisitando essa lembrança e me motivando a reescrevê-la (agora com a experiência de uma pessoa adulta e com a intencionalidade de trazer reflexões sobre a sociedade em que vivemos e seus problemas).

2 - Quais autores ou obras influenciaram seu estilo de escrita?
O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, inspirou muito a forma como construí Jovens Ilusões. Assim como em O Cortiço, neste meu livro não há um personagem principal, mas muitas vidas e dilemas que se entrelaçam na sociedade brasileira. Além disso, na minha infância e adolescência eu sempre lia, no jornal que meus avós recebiam em casa, as crônicas de Luís Fernando Veríssimo. Adorava como ele me fazia despertar um olhar diferente para fatos simples do cotidiano, de forma bem humorada, mas surpreendentemente inteligente e irônica. Também tento usar isso nos meus textos.

3 - Como você lida com o bloqueio criativo?
Como infelizmente ainda não sou paga para escrever (muito pelo contrário, tenho que tirar do bolso ou fazer eu mesma tudo que é necessário para publicar e divulgar livros), o bloqueio criativo não é um problema, pois meus prazos e metas sou eu quem faço e cobro. Gostaria muito que, em breve, isso mudasse e que eu tivesse de achar uma forma produtiva de lidar com eventuais bloqueios para atender demandas que pagassem meus boletos.

4 - Quais desafios você enfrentou durante sua jornada como escritor(a)?
O maior desafio é a dificuldade de fazer com que os livros cheguem em quem poderia se interessar por eles. O autor independente dedica muito tempo e esforço a cada detalhe das obras e o retorno não vem! No meu caso, escrevo, reviso, faço correção gramatical, formato, diagramo, ilustro e divulgo. As betagens dos meus dois primeiros livros e de alguns contos foram feitas de graça por amigues (obrigada, gente!). Para economizar, tentei também fazer minhas primeiras capas, mas ficaram horríveis e acabei tendo de contratar um profissional. Então, o desafio é ter dinheiro para seguir escrevendo e estômago para produzir conteúdo de qualidade nas redes sociais para tentar atrair leitores, quando a grande maioria das pessoas só está interessada em ver memes, corpos e acreditar sem o mínimo raciocínio em qualquer desinformação.

5 - Você já teve experiências significativas com seus leitores? Alguma história que gostaria de compartilhar?
Eu posso dizer que conheço a maioria dos meus leitores: ou são ou viraram pessoas próximas. Adoro quando alguém vem me contar que a cena tal do livro a lembrou de tal pessoa ou de tal situação que ela viveu igualzinho à que descrevo. Isso acontece muito frequentemente e essa é a ideia dos meus textos: trazer coisas que acontecem na realidade e tocar as feridas para que possamos tratá-las. 

6 - Como é o seu processo de escrita? Você segue uma rotina específica?
É importante ter o apoio das pessoas que moram junto para que a concentração seja mantida pelo tempo necessário. Felizmente, tenho isso e quando estou escrevendo, posso pôr minha música clássica e durante horas deixar minha mente pensando apenas na história a ser desenvolvida. Antes de sentar para  escrever, já ruminei bastante o enredo na cabeça e, só então, ele vai para o papel (ou melhor, para o HD). Conforme a escrita vai se desenvolvendo, vou abrindo arquivos paralelos de apoio, para fazer linhas do tempo e fichas descritivas de personagens e cenários. Assim, posso consultá-los em outros momentos da escrita e não cometer imprecisões no enredo. 

7 - Qual é o impacto que você espera que suas obras tenham nos leitores?
Espero que tragam reflexões profundas e críticas sobre a sociedade em que vivemos e sobre como agimos para manter o status quo. E espero que isso ajude a pensarmos em formas de construirmos uma sociedade melhor para todos.

8 - Quais são seus planos para o futuro? Você está trabalhando em algum novo projeto?
Desejo que minhas obras alcancem e toquem cada vez mais leitores. No momento, estou reeditando o conto Maria Brasil para publicá-lo na forma de livro. Ele conta a história de uma moça que passa sua juventude no Rio de Janeiro na época da ditadura e aborda, não só esse período histórico, mas diversas questões e preconceitos que envolvem a vida de uma mulher negra no Brasil. Também tenho mais alguns projetos já iniciados para tocar depois deste, um inclusive em parceria com o Vira-lata Editorial (mas isso é surpresa, acompanhem no @viralaeditorial).

Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Memes e séries são legais, mas se nossas vidas se resumirem a isso, nosso cérebro vai atrofiar e nossa capacidade de refletir e mudar o mundo vai ficar cada vez mais limitada. É isso que quem domina as sociedades quer: massa de manobra pacífica e apática incapaz de concatenar ideias, de se revoltar e de se mobilizar. Então é isso que não podemos nos permitir virar. Leiam, estudem (em fontes confiáveis) e lutem por dias melhores para todos! Meus livros certamente vão contribuir com pensamento crítico, não só no seu enredo, mas em todas referências externas que trazem.

Sobre sua(s) obra(s):


Sinopse: Em uma escola de elite, várias situações da realidade brasileira atual se esbarram e conflitam na vida de um grupo de adolescentes, de suas famílias e daqueles que os cercam. Acompanhem a história pelos pensamentos de cada personagem e descubra se eles vão conseguir se entender ou se eles nem fazem questão disso! Um enredo com pitadas de humor, mas com grandes doses da conturbada e real vida das diferentes camadas da nossa sociedade. ATENÇÃO, não se espante se encontrar muitas semelhanças com o Brasil contemporâneo. - Compre aqui!


Sinopse: Vinte e uma crônicas tentam explicar o "inexplicável" apoio de parte do eleitorado brasileiro a um candidato preconceituoso, ineficiente e desprezível. Prepare-se para altas doses de sarcasmo e de ironia para abordar as hipocrisias e ódios atualmente aceitos e normalizados em uma sociedade cheia de "inexplicáveis". - Compre aqui!


Sinopse: Esta antologia do Vira-lata Editorial reúne contos e poemas de diversos autores contemporâneos brasileiros e traz críticas à sociedade brasileira do presente, do passado e até do futuro. No conto "Família: a base de tudo", de Jaslin Alexandra, a xenofobia, o racismo, o machismo, a homofobia e os mais diversos preconceitos comuns em nossa sociedade são colocados à mesa de um almoço de domingo para serem digeridos (ou não) no seio familiar. - Compre aqui!

Sobre o(a) autor(a):


Millennial de 1987, criada em uma família cheia de contradições, mas também com diversos privilégios. Engenheira de Alimentos não praticante e ex-servidora pública concursada. Feminista, antirracista, vegetariana, agnóstica, vacinada e contra homo e transfobia.  Apaixonada por literatura e línguas, especialmente a brasileira, escreve histórias que mais parecem a realidade contemporânea brasileira.

Beijos!

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