ENTREVISTA COM AUTORES #265 | Autor Tom Martins
1 - Qual foi sua inspiração para começar a escrever?
Minha inspiração para começar a escrever veio, na verdade, de uma mistura meio confusa de refúgio e controle. Sempre fui apaixonado por histórias que me tiravam da realidade, ou seja, aquelas que te pegam pela mão e te levam para um cantinho seguro, onde as regras são outras e a dor aqui de fora fica suspensa por algumas páginas.
Mas por trás disso tinha outra coisa também. A atelofobia. Esse medo de nunca ser bom o bastante. No começo, eu escrevia como quem tenta provar algo, para mim mesmo, principalmente. Era como se, colocando as palavras no lugar certo, eu pudesse acalmar aquela voz interna que vive dizendo “Você não é suficiente”. Escrever virou um jeito de organizar o caos. De criar um mundo onde, mesmo que tudo desmoronasse, ainda assim seria bonito.
Com o tempo, isso mudou. A escrita deixou de ser só fuga e virou construção. Hoje escrevo menos pra fugir de mim e mais pra entender o que carrego. Mas a raiz continua a mesma: a vontade de oferecer abrigo. Porque se uma história minha puder servir de lar temporário para alguém, mesmo que por pouco tempo, então talvez eu tenha feito algo certo.
2 - Quais autores ou obras influenciaram seu estilo de escrita?
Olha, não tem nem como esconder: sou completamente obcecado pelo Stephen King. Do tipo que tem a coleção completa na estante — edição por edição — e até tatuagem no braço. Ele foi, para mim, a porta de entrada para entender que o terror não precisa vir só de monstros ou fantasmas, mas pode nascer do cotidiano, das falhas humanas, daquilo que a gente tenta esconder de si mesmo. Dali, surgiram outras vertentes e estou aqui hoje. Fora o King, gosto muito do estilo de escrita de Rick Riordan também, acho uma leitura muito fluida.
3 - Como você lida com o bloqueio criativo?
Eu lido do jeito que dá. Às vezes, escrevo mesmo assim, com raiva, como quem cava terra dura. Outras vezes, eu paro. Me permito parar. Porque aprendi que nem todo silêncio é vazio, alguns são terreno fértil só esperando a chuva.
4 - Quais desafios você enfrentou durante sua jornada como escritor(a)?
Acho que o maior desafio sempre fui eu mesmo. Minha cabeça. Meu perfeccionismo paralisante. E volto a repetir, a atelofobia, embora eu não soubesse o nome dela no começo, já estava ali: esse medo constante de que o que eu escrevo nunca seja bom o suficiente. De que, mesmo depois de horas quebrando a cabeça em cima de uma frase, aquilo ainda soe bobo, fraco, irrelevante. E isso pesa.
5 - Você já teve experiências significativas com seus leitores? Alguma história que gostaria de compartilhar?
Tive, sim e uma delas mudou tudo para mim. Em 2017, eu publiquei uma história de terror chamada Found Footage no Wattpad. Era gratuita, despretensiosa, eu só queria colocar pra fora aquela ideia que não me deixava em paz. Nunca imaginei que ela fosse tão longe. Hoje são mais de 750 mil leituras. E até hoje eu acho isso insano.
Recebi mensagens de gente dizendo que não conseguiu dormir depois de ler, outros que leram de madrugada com fone de ouvido para "entrar no clima". Teve até quem pediu continuação, adaptação, e quem achou que era uma história real, o que, confesso, me divertiu bastante.
6 - Qual é o impacto que você espera que suas obras tenham nos leitores?
Com ATELOPHOBIA, mais do que em qualquer outra coisa que escrevi, o que eu mais desejo é que o leitor se veja. Que ele se reconheça — mesmo nas partes feias, desconfortáveis, confusas. Porque esse livro nasceu de um lugar muito íntimo, muito cru. É sobre o medo de nunca ser bom o bastante, sim, mas também é sobre continuar tentando. Sobre a luta interna que quase ninguém vê, mas que muita gente vive todos os dias.
Quero que minhas histórias sejam esse espelho meio trincado, mas ainda assim real. Que provoquem, que acolham, que deixem uma marca, mesmo que pequena. Porque no fim das contas, é isso que me move: transformar angústia em narrativa, e narrativa em conexão.
7 - Quais são seus planos para o futuro? Você está trabalhando em algum novo projeto?
No momento, estou mergulhado até o pescoço na minha série atual, e ela tem me exigido muito. Criativamente, emocionalmente, em termos de estrutura e de coragem também. São planos grandes: penso em sete livros, talvez alguns contos paralelos, quem sabe até mais pra frente expandir esse universo de formas diferentes. É um projeto que nasceu do peito e que eu quero fazer funcionar com todo o cuidado que ele merece.
É difícil, não vou mentir. Às vezes parece que estou tentando montar um quebra-cabeça no escuro, mas sigo porque ainda acredito na história e principalmente nas pessoas que vão encontrá-la. Porque, no fundo, meu maior plano pro futuro é esse: me conectar cada vez mais com quem gosta do que eu faço. Tocar alguém, mesmo que em silêncio. Fazer com que alguém se sinta visto, acolhido, ou até perturbado, mas de um jeito que ressoe.
Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
E pros leitores do Lost Words, e também pra quem já leu, ou ainda vai ler, minhas histórias:
Tem uma coisa que eu sempre escuto e que me parte um pouco o coração. “Não comentei sobre um livro que gostei porque achei que o autor não se importaria ou sequer se lembraria do meu comentário.”
Autor aqui e posso te dizer com toda certeza: eu me importo, sim. E eu lembro.
Lembro de comentários que recebi anos atrás. Ainda penso neles. Eles continuam aquecendo meu coração nos dias difíceis, nos dias em que tudo trava, nos dias em que a dúvida fala mais alto.
Seus comentários gentis são o que nos motiva, nos inspira e nos dá forças para continuar escrevendo. Conheço autores que tiram prints das mensagens que recebem e guardam como pequenos tesouros --- eu incluso.
As palavras de vocês valem mais do que vocês imaginam.
Se você gostou de um livro, nunca tenha vergonha de dizer isso para o autor. Nunca ache que vai ser irrelevante. Às vezes, uma simples mensagem pode ser o empurrão que a gente precisava pra continuar acreditando no que escreve.
Sobre sua(s) obra(s):
Sinopse: Para todos os padrões possíveis — ideal, realístico, estatístico, moral, cármico, e até astrológico —, Sam e Hendrick não tinham a menor chance de dar certo juntos.
Samuel Starkings sempre seguiu as regras. Não porque queria, mas porque não sabia como quebrá-las sem desmoronar tudo ao seu redor. Filho de uma família onde perfeição é obrigação e falhar não é uma opção, ele aprendeu a engolir o que sente. Mas nada poderia prepará-lo para Hendrick — um dos caras populares, brilhante, carismático e completamente fora de alcance.
Hendrick Godoy tem tudo: amigos, status, um futuro garantido e uma namorada digna de capa de revista. Pelo menos, é isso que todos veem. O que ninguém percebe é o quanto ele está preso em um papel que já não faz sentido. Então, Sam aparece. Diferente de todos, sem tentar impressionar, sem cair no seu charme ensaiado. Pela primeira vez, alguém o enxerga de verdade.
A atração entre os dois é instantânea e errada em todos os sentidos. Eles vêm de mundos que não se misturam, vivem cercados por expectativas que não permitem erros — e se envolver um com o outro pode ser o maior deles. Mas e se, pela primeira vez, quebrar as regras for exatamente o que precisam?
Esta não é apenas uma história sobre o amor, mas o amor está entrelaçado nela… o tempo todo. - Compre aqui!
Sobre o(a) autor(a):
Tom Martins é natural de Maringá, Paraná. Ele se inspira em sua cidade natal e em suas experiências pessoais para criar atmosferas envolventes e personagens memoráveis em cada uma de suas obras. Além de sua paixão pela literatura, é um grande apreciador da cultura pop e costuma aproveitar seu tempo livre mergulhando em outros livros, desenvolvendo novas ideias ou se divertindo com jogos eletrônicos - Sua obra mais conhecida, "Found Footage", foi lançada gratuitamente na internet em 2017 e, poucos meses depois, alcançou mais de 700 mil leituras. Esse sucesso não apenas reflete sua habilidade como narrador, mas também o impacto que suas histórias exercem sobre os leitores.
Beijos!
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