ENTREVISTA COM AUTORES #67 | Autor Felipe Nani

by - terça-feira, dezembro 17, 2019


1 - Como você percebeu que queria ser escritor(a)?
Primeiramente, obrigado pelo espaço e pela disposição em ajudar a divulgar o meu trabalho. Toda boa vontade e disponibilidade para ajudar já é uma grande força de impulsão.

Desde muito novinho estive próximo da arte, embora sempre houve uma grande resistência para que eu não praticasse nada voltado nesse segmento. No sentido em que, na minha realidade, como a de muitos, o caminho de fazer um curso profissionalizante em uma área da tecnologia ou que tenha consolidação no mercado de trabalho é o caminho “certo” a ser seguido. Isso foi (ainda é) um fator determinante para que eu migrasse pelas beiradas em diversos segmentos artísticos. Comecei com a música, que me levou a escrever minhas primeiras poesias, isso eu tinha mais ou menos 9 anos de idade. Depois migrei para o desenho de HQ, onde comecei a rascunhar as minhas primeiras estórias. Como eu comentei, foi um momento pelas beiradas, nada muito a sério, então entrei no ramo da indústria de energia elétrica e deixei de lado tudo referente a arte, isso com 14 anos. Por um acaso da vida, aos 18 anos o teatro em minha vida, onde atuei em cerca de 10 peças. E foi no teatro, em alguns processos criativos onde nós, atores e atrizes, por indicação da direção, éramos produtores da nossa própria dramaturgia que veio a vontade de escrever e escrever. Essa foi a brecha para que eu voltasse a rascunhar estórias, crônicas e poesias, produzindo os meus próprios textos como ator, foi um momento extremamente importante para que eu entendesse que dentro de qualquer forma de arte que eu estiver, serei um contador de estórias, criador de metáforas. Foi aí que eu percebi que não adiantava ficar sufocando meu sonho em um emprego em uma área que não me contemplava como ser humano. Fiquei um bom tempo para reunir um dinheiro para que hoje eu tenha uma folguinha para me dedicar a escrita.

2 - Tem algum personagem favorito? Em modo geral ou do seu(s) livro(s)? Se sim, por quê? O que ele significa para você?

Eu não tenho um personagem favorito, mas quando eu pensei nessa pergunta o que veio na minha cabeça foi o Jean Valjean de “Os Miseráveis”, talvez por que foi o primeiro romance que li, então há um carinho especial por ele. Foi através dessa estória que tive a primeira experiência de sentir de que não estava no meu quarto mais no meu quarto lendo. Veio aquela sensação de que eu havia sido transportado para outro lugar, o local onde a estória estava se passando. Foi muito estranho, ao mesmo tempo mágico. Lembro que eu tinha uns 7 anos e como a maioria das crianças ao meu redor, eu não lia nada. Foi dada uma atividade na escola em que tínhamos que pegar um livro na biblioteca da escola e fazer um resumo. Eu deixei para o ultimo dia e o famigerado livro era “Os Miseráveis”. Não tinha internet na época, então não dava para pesquisar um resumo e levar como atividade. Eu peguei uma versão bem resumida do romance por que achei o título interessante. Comecei a ler de manhã e não consegui parar até eu terminar. Realmente foi uma experiência transformadora.

3 - Como foi para você, entrar no mundo literário?
Ainda é um mundo muito novo para mim. Cada dia estou aprendendo um pouco. Acredito que estou conhecendo o maior desafio, que é o de fazer o livro chegar até as pessoas. Como autor independente e desconhecido é muito difícil que as pessoas apoiem ou se interessem pelo trabalho. Para a pré-venda do “Insânia” fiz um projeto no Catarse para cobrir os gastos que tive com a publicação, que não foi nada barato. Então nesse período pude ter o feeling de muitas situações que rondam esse meio literário e alguns até similares com o das outras formas de arte. Como por exemplo em que as pessoas estão muito mais interessadas em criticar tecnicamente do que de fato consumir a estória. Também existe o lado de não entender que escrever um livro é um trabalho, que necessita de tempo e dinheiro para que vingue e se sustente. Acredito que precisamos abrir formas de diálogo para que esteja mais claro que as manifestações artísticas, deslocadas do eixo industrial e convencional de se ter uma fonte de renda, é sim um trabalho. Quando eu fazia teatro, dedicava o meu dinheiro e tempo em estudos e ensaios. No momento de apresentar as pessoas pediam ingresso gratuito para assistir as peças. A mesma coisa aconteceu e acontece com o livro. Ninguém é obrigado a consumir a arte de ninguém, mas precisamos evidenciar essa questão que barra o crescimento dos artistas, para que haja um campo de maior respeito e disponibilidade para que artistas sobrevivam do seu ofício.

4 - Você faz muitas pesquisas antes de escrever uma história?
Estou no meu primeiro processo de pesquisa mais aprofundado no romance em que estou trabalhando no momento. É um momento diferente de tudo o que já escrevi, pois envolve aspectos científicos, então para que tenha o mínimo de verossimilhança com a realidade e que tenha impacto, estou pesquisando bastante para que a minha metáfora seja o mais impactante possível. Mas tudo o que escrevi até hoje, inclusive um projeto de ensaios poéticos que tenho pronto, são frutos de situações muita da emoção e principalmente dos meus sonhos. Eu sonho muito e as minhas ideias surgem basicamente desse campo. O “Insânia” surgiu de um pesadelo. Então posso dizer que as estórias veem mais desse campo emocional, não de uma pesquisa aprofundada. Me apaixonar pelo ofício de contar estórias e dizer por aí que sou um escritor me fez estudar muito técnicas de roteiro. Fiz diversos cursos e até hoje aprendo coisas novas, porém na hora de fazer, eu não consigo estruturar tudo como ensinam que deve ser feito, tem de haver uma brecha para o momento que só a criação é capaz de preencher.

5 - Existem muitas cobranças por parte de seus leitores?

Ainda não (risos), mas eu já faço essa parte. Eu me cobro muito no que faço, até certo ponto é legal, pela qualidade do que escreverei, por outra, eu mesmo acabo me sufocando. São muitas possibilidades que rondam a cabeça e que acabam atrapalhando o hoje.

6 - Fale um pouco sobre sua forma de criação... Possui alguma mania na hora de escrever?
Eu gosto de escrever com a caneta no papel. Me atrapalha muito escrever diretamente no computador. Acredito que por essa afinidade com o desenho, o que há dentro de mim sai de forma mais autentica se eu desenhar as palavras no papel. Me sinto desenhando, cirando imagens. É um grande esboço de tudo, aí quando eu passo para o computador acrescento e retiro as coisas que produzi.

7 - Quais são seus projetos para um futuro próximo?
Bom, eu tenho um projeto de Ensaios, que venho escrevendo faz algum tempo, mas não sei se está no momento de lançar, acredito que eu tenho que viver mais, construir um público com romances antes de eu lança-lo. Estou em um processo de criação já faz 1 ano de um romance novo. É um processo árduo e que exige muita persistência.

Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
O recado que eu gostaria de deixar é: Obrigado por ter lido essa entrevista até aqui. Obrigado Lost Words pelo espaço cedido. Me acompanhem nas redes sociais, pois é só o começo da minha carreira como escritor. Nós, apaixonados por literatura, vamos olhar com mais carinho ao redor, pois há muita gente bacana produzindo coisas legais por aí, não falo necessariamente de mim. É só entrar nos projetos de financiamento coletivo ou ir em feiras de autores independentes, tem muito material lindo e de qualidade sendo feito. Vamos dar uma chance para os artistas independentes e novos que estão por aí precisando do nosso apoio.

Valeu!

Sobre o Autor:


Ator, eletricista e designer. Felipe Nani escreve poesia desde o começo da infância, mas foi no teatro que se reconectou com a escrita e decidiu praticar o ofício de contar estórias. Após processos coletivos no teatro, onde atores e atrizes eram produtores da própria dramaturgia, veio para ele o desejo visceral de voltar a escrever e devorar literatura.
Iniciou em 2016 a construção de uma estória que fala sobre mistério, fragmentos da realidade e uma seita misteriosa. Foi esse o germinar do Insânia: nos domínios do pesadelo. Primeiro romance do autor, publicado pela editora Empíreo.


Sobre seu livro:


Sinopse: Dois garotos disputam uma corrida de bicicleta no Parque Anhanguera. Otávio, que está liderando, é surpreendido pelo ataque de uma ave misteriosa que o tira da pista, fazendo-o cair dentro da floresta. ele e seu amigo Caíque, envolvidos pelo medo e o mistério, descobrem uma cabana que até então ninguém havia descoberto.
Esse encontro curioso com o desconhecido desperta pesadelo cruéis que parecem tomar forma física além da imaginação de Otávio.
Apavorado e sem explicações, é convencido pelos amigos de escola a investigarem juntos o que de fato existe dentro dessa cabana e qual os limites de seus sonhos. Será tudo uma brincadeira fruto de sua mente ou realmente estão brincando com o fogo do sobrenatural?


Em breve resenha
Beijos!

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