ENTREVISTA COM AUTORES #129 | Autor Rafael Pombo

by - sexta-feira, setembro 09, 2022


1 - Como você percebeu que queria ser escritor(a)?
Quando eu tinha por volta de nove anos de idade, eu gostava de desenhar quadrinhos sobre um mundo de ficção científica e fantasia do qual meus amigos e eu éramos personagens. Eu não sabia por que tinha essa vontade, apenas assistia aos desenhos e jogava os games que gostava na época e, inspirado por eles, criava aquelas histórias. Na adolescência descobri o mundo das fanfics, que foram uma oportunidade para que eu misturasse minhas ideias originais com enredos que já existiam. Com o tempo, percebi que podia escrever histórias que eram totalmente minhas, que havia escritores profissionais que faziam isso e eu poderia ser um. Alguns anos depois publiquei meu primeiro livro digital, um romance que tinha tudo daquilo de que eu mais gostava na época, chamado Elementais: O Receptáculo do Caos. O livro não está mais disponível (oficialmente, pelo menos) e a editora não existe mais, embora eu tenha ideias para reconstruir a história e publicá-la novamente algum dia. Acho que a grande pergunta é: por que um escritor escreve? Isso é subjetivo, mas me identifico com uma resposta que alguns autores já deram, que é: escrevo aquilo que gostaria de ler. Sou, de certa forma, acometido por ideias, imagens e fragmentos de impressões que me deixam curioso demais e necessitado de explorá-las e ver onde dão. Não é que uma pessoa que não escreve ou não trabalha com criação de uma maneira geral não possa ter a mesma experiência às vezes, mas acho que a diferença é que ela não vê um real valor, uma utilidade para aquilo.

2 - Tem algum personagem favorito? Em modo geral ou do seu(s) livro(s)? Se sim, por quê? O que ele significa para você?
O Samuel, protagonista do meu romance Os mecanismos do mundo, tem muito de mim da época em que escrevi o livro. Tendo a ter certa afeição por personagens contemplativos, com um nível saudável, digamos assim, de melancolia e taciturnidade, que trazem uma reflexão a mais sobre as coisas. Costumam mascarar menos os problemas de um mundo como o nosso, repleto de alegria fingida. Mas não dá para viver só dessa modorra existencial, por isso personagens como o Benjamim, sobrinho do Samuel, trazem o contraponto da esperança, da arte, da singeleza infantil, num bom sentido. Acho que é na conversa entre esses dois aspectos que vamos encontrando o caminho a ser seguido. O problema raramente é a coisa em si, mas a medida dela, se é de mais ou de menos. Personagens representam argumentos, e esses argumentos são postos em um debate no palco da ficção para chegarmos às nossas próprias conclusões.

3 - Como foi para você entrar no mundo literário?
Tanto entrar quanto permanecer nele ainda me causam certo nervosismo (risos). Publicar meus livros, falar sobre eles, divulgá-los, tudo isso vem acompanhado de insegurança e questionamentos acerca do meu valor como escritor. Ao mesmo tempo parece ser preciso um pouquinho de arrogância para acreditar que alguém vá querer ler o que eu crio, ou seja, no fundo, preciso pensar que mereço essa atenção dos leitores. É complicado para muitos artistas em geral — pode-se ir de "tudo o que faço é um lixo" a um nível quase narcísico em cinco minutos. Há momentos de inveja, não nego, pois é um sentimento humano como tantos outros, que vêm e vão, como bem sabe quem está mais antenado com práticas meditativas e com o budismo. Às vezes me sinto meio perdido. O que fazer agora? Escrevo mais? Divulgo mais? O ritmo é este mesmo ou já tinha que ter tido resultados melhores? Acho que o sofrimento do artista em geral com essa questão baseia-se na definição dele de sucesso. Para alguns, conseguir escrever e publicar um livro já é um sucesso. Outros almejam uma carreira. De novo, como na resposta anterior, a medida é importante, pois querer de mais pode causar angústia, mas desistir também o pode.

4 - Você faz muitas pesquisas antes de escrever uma história?
Depende da história, mas nem sempre é antes, muitas vezes é durante, e até depois. Há escritores de vários estilos, daqueles que escrevem uma bíblia sobre a história e os personagens que é maior do que a própria história e aqueles que escrevem quase que de improviso, inventando a história à medida que vão escrevendo-a, criando e aplicando somente o necessário. Pessoalmente, acredito que até o teor da história e a estrutura dela podem ditar como ela precisará ser escrita, sem mencionar o tamanho e a complexidade. Eu costumo me encaixar no tipo de escritor que não faz muito além do necessário antes de começar a escrever. Eu me preparo um pouco, penso e faço anotações sobre a história, até chegar em um ponto em que me sinto confiante para começar a escrever, daí começo. Cada escritor terá seu feeling. É uma questão que agrega aspectos objetivos e subjetivos. O estudo e a prática são indispensáveis.

5 - Existem muitas cobranças por parte de seus leitores?
Não acho que eu tenha chegado a um patamar suficientemente elevado para ter cobranças de leitores (risos). Por um lado, acho que gostaria, pois isso significa que meu trabalho interessa a mais pessoas, mas por outro, seria um indicativo de que eu faço coisas que outros não aprovam, e ninguém gosta muito de se defrontar com isso. No momento, adoraria ter mais leitores, seja me cobrando ou não!

6 - Fale um pouco sobre sua forma de criação... Possui alguma mania na hora de escrever?
Como mencionei antes, isso pode mudar até com a história a ser escrita, mas no geral penso um bocado nela, faço anotações, talvez um pequeno roteiro, até me sentir confiante, até ter a sensação de que é possível escrever aquilo até o fim, então começo. É comum haver "começos em falso", especialmente quanto à história a ser escrita, ou seja, começo a escrever algo, mas desisto logo depois por achar que outra ideia me chama mais a atenção. Pode acontecer algumas vezes até que eu estabeleça qual será de fato o próximo projeto. Eu tenho algumas manias como mudar o ambiente de escrita para conferir-lhe certo frescor. Troco cores, fontes e até o programa no qual escrevo para não me deparar sempre com a mesma tela, com os mesmos componentes. Já até escrevi à mão para depois passar o texto para o programa de escrita. Meu humor muda com facilidade, e com ele minhas necessidades escriturais (risos).

7 - Quais são seus projetos para um futuro próximo?
Eu pretendo continuar a escrever em inglês pelo menos por algum tempo. Não exatamente por gostar mais de escrever nesse idioma, mas porque mercadologicamente é mais interessante no momento. Existem algumas facilidades para quem publica livros escritos em inglês na Amazon, por exemplo, como a opção de fazer divulgação dentro da própria Amazon, o que percebo atrair mais leitores. Escrevi dois livros da minha série The Dreamtime até agora, mas ela demandará pelo menos mais uns dois livros, a depender de como tudo ficará estruturado. Adoraria voltar a escrever em português. Escrever na sua língua materna é uma comodidade fenomenal, e só percebi isso depois de escrever dois livros em inglês.

Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Primeiramente eu gostaria de agradecer à Aline pelo espaço e pelo belíssimo trabalho que faz com os autores e a divulgação de suas obras. Agradeço também a quem leu e me deu a oportunidade de falar um pouco do que escrevo e também de mim mesmo. Espero muito que gostem dos livros e me contem o que acharam! Podem me encontrar no Instagram (rafael_pombo) e no Twitter (@rafaelpombo). Ficarei feliz em trocar uma ideia com vocês!

Sobre suas obras:


Sinopse: Samuel é um adolescente melancólico que está no último ano do ensino médio e não sabe bem o que quer da vida. Flávia é sua irmã mais velha, bem mais velha, que acaba de retornar ao Rio de Janeiro com seu filho após um divórcio. Benjamim é o filho talentoso, que adora desenhar e tem de se adaptar a uma nova cidade e uma nova escola.

As jornadas pessoais dos três se entrecruzam enquanto lidam com suas questões pessoais. Samuel descobre que um grande amigo que sempre incentivou sua vocação musical está irremediavelmente doente. Flávia é acossada pelo ex-marido ao mesmo tempo que procura construir um novo relacionamento e tocar seu próprio negócio. Benjamim enfrenta o bullying na escola, aflige-se com dúvidas em relação ao pai e guarda um segredo sombrio de dois colegas de turma.

Samuel tem uma teoria: a sociedade é como uma máquina alimentada pelos próprios padrões negativos daqueles que a compõem, e somente com um sonho ousado é possível quebrar esses padrões e reverter as engrenagens ainda que temporariamente. São os mecanismos do mundo. E um sonho ousado é o que Samuel procura. - Compre aqui!


Sinopse: Quatro mundos.
Quatro histórias.
Quatro jornadas.
Quatro provações.

Jisa mora com os irmãos mais novos na cidade portuária de Fána, ponto de passagem de diversas aeronaves e marcada por ladeiras íngremes. Devido à morte misteriosa dos pais, ela trabalha duro para criar os irmãos da melhor forma possível. Quando o mais velho arranja problemas na escola por conta do uso inapropriado de magia, Jisa vê-se obrigada a repensar sua vida: a relação com os irmãos, os segredos mantidos entre eles e a herança dos pais.

Após ter seu vilarejo destruído por demônios vindos de outro mundo, Ardan parte para a capital Le'Forton em busca de respostas, munido de uma espada mágica que lhe confere poderes fantásticos, a Anima Rossa. Sua única companhia é sua irmã mais nova, Neala, cuja alma está confinada à espada.

Jolan é um membro novato da Tropa dos Caçadores Prateados, responsável por expurgar e eliminar fantasmas que trazem malefícios ao mundo dos vivos. Sua mais nova missão envolve a investigação de um solar na floresta, o qual, segundo informações, está infestado de fantasmas. Lá, porém, ao contrário de uma missão comum, ele será obrigado a enfrentar seu passado e terá revelações inimagináveis.

Murilo é filho de decasséguis trabalhando no Japão. Quando seu pai perde o emprego, ele é obrigado a mudar de uma escola privada brasileira para uma escola pública japonesa, sem saber falar o idioma local e temendo o preconceito que pode sofrer. Após um estranho sonho, ele se vê capaz de entender japonês e acaba fazendo amigos. Entre eles está Yumi, cujo pai está doente. Acreditando em uma lenda de que ao fazer mil grous de papel um desejo será realizado, ela busca curá-lo. Murilo decide ajudá-la — só para descobrir que há mais por trás do sonho que tivera e dos grous de papel.

Aqui é onde todos eles se encontram. - Compre aqui!


Sinopse: Every once in a while, the world undergoes a great transformation and fantastic phenomena become the norm of reality. Colors abound. Strange sounds come out of nowhere. Monsters roam around. Magic is possible.

It's the Dreamtime.

Blaze is a boy who has a strong distaste for the Dreamtime because of its dangers and because, while it lasts, every other person disappears, except for him. To make matters worse, Blaze had a falling-out with his best friend and gets harassed by an entity he calls "the Voice." Hopeless and miserable, he spends most of his time secluded in his room, where he feels safer in case the next Dreamtime comes.

Then, one day, a mysterious girl moves into the house next door... - Compre aqui!


Sinopse: Prairie is searching for her missing brother.

And she doesn't think the police can find him because... she believes he is lost somewhere in the Dreamtime, the magical reality that overtakes the world once in a while, filling it with hostile creatures and strange events.

The mysterious young man Prairie and her brother ran into during the Dreamtime might have something to do with his disappearance.

What about Night, the solitary boy haunted by his past? What could he be hiding?

As if it weren't enough, kids seem to be attracted to a certain place by a shadowy entity that promises to give them whatever they wish for.

And so Prairie's journey begins... - Compre aqui!

Sobre o autor:


Rafael Pombo nasceu e cresceu no Rio de Janeiro, onde ainda reside. Ele gosta de livros, arte, videogames e aprender novas línguas. Ele pode ou não passar tempo demais no Twitter (@rafaelpombo). Ele escreve tanto em português quanto em inglês e espera conseguir escrever em japonês no futuro.

Instagram do Autor | Compre seu livro AQUI

Beijos!

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1 comentários

  1. Oi, Aline. Tudo bem? Adoro as entrevistas do seu blog. É sempre bom conhecer novos escritores nacionais. Abraço!


    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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