ENTREVISTA COM AUTORES #199 | Autor Marcelo Antunes
Cresci rodeado de livros, numa casa onde se lia muito. Entre minhas primeiras lembranças, está meu pai nos lendo alguma história na hora de dormir e minha mãe auxiliando a vizinhança em suas pesquisas escolares. Acho que todo escritor, antes de tudo, é um leitor apaixonado. Quando me dei conta, queria contar histórias iguais aquelas dos livros que devorava.
2 - Quais autores ou obras influenciaram seu estilo de escrita?
Amo o Lourenço Mutarelli. Sou fã incondicional da escrita da Clarice, do Raduan, do Milton Hatoum. Acho que meu primeiro romance, o TODOS ESTÃO SURDOS, tem muito da Cassandra Rios também.
3 - Como você lida com o bloqueio criativo?
Eu não lido. Dou um tempo, faço outras coisas, até desencantar. Tenho a impressão de que dar murro em ponta de faca é pior.
4 - Quais desafios você enfrentou durante sua jornada como escritor(a)?
Eu tinha uma visão muito romântica da coisa. Achava que o pior era escrever o livro em si, e que o ponto final encerrava o processo. Quem é mais experiente, sabe que o buraco é beeeem mais embaixo. Talvez escrever seja o mais divertido. O livro tem um sem-número de versões, sendo concebido como um, mas até “nascer” pode ser outro completamente diferente.
5 - Você já teve experiências significativas com seus leitores? Alguma história que gostaria de compartilhar?
Pra mim, o mais bacana é receber críticas elogiosas de gente que tá nessa há mais tempo. Tipo o Peter LaRubia, que tem uma pá de livro publicado, super generoso com o meu livrinho, me comparando com super autores que amo e admiro.
6 - Como é o seu processo de escrita? Você segue uma rotina específica?
Escrevo todo dia, faça chuva ou faça sol, as musas vindo me visitar ou não.
7 - Qual é o impacto que você espera que suas obras tenham nos leitores?
Não acho que o que escrevo cause grandes reflexões e transformações. Se eles se divertirem, tá super de boa.
8 - Quais são seus planos para o futuro? Você está trabalhando em algum novo projeto?
Tô finalizando um novo romance que, por ora, é segredo. Se tudo der certo, daqui a pouco, trago novidades.
Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Leiam autores estreantes e valorizem as pequenas editoras. Publiquei pela Patuá, uma editora super aguerrida que tem feito grande diferença no mercado editorial. Se não fosse a sensibilidade e oportunidade do Eduardo Lacerda, possivelmente, meu livro ainda seria um sonho. É o mais importante: leiam autores nacionais. Pra que Colleen Hoover quando temos Marcelo Antunes?
Sobre sua(s) obra(s):
Sinopse: Léa é uma figura. Professora aposentada, temperamental e desbocada, enfrenta um câncer há cerca de dez anos e descobre que, agora, qualquer tratamento tem efeito paliativo. Decidida, resolve viver tudo que lhe resta — para desgosto de Vera, a filha.
Vera é psicóloga, mas não consegue resolver as próprias questões. Centralizadora, controladora e com um descontrole emocional que beira a histeria, mantém uma relação de gato e rato com a mãe. Tem um filho de dezenove anos que trata como se ainda tivesse doze, fruto de um romance que prefere esquecer. Indisponível sentimentalmente, foge das investidas de Zé Carlos, antigo admirador dos tempos da escola, que ressurge disposto a conquistá-la.
Fábio não sabe o que quer da vida. Não conseguiu terminar a escola, passa os dias fumando maconha, ouvindo música e transando com desconhecidos que conhece em apps de pegação. Em um desses encontros, conhece Marcus, escritor ganhador do Jabuti de Melhor Romance, que atravessa um período de crise criativa, tornando-se uma espécie de muso inspirador do autor. O que os dois não sabem é que Marcus é paciente da sua mãe.
Quem vê Sueli cuidando do jardim e assando bolos, não imagina estar diante de Antônio Fontes, destemido repórter policial que, aos quarenta e cinco do segundo tempo, se descobre mulher. Grande amiga de Léa, carrega uma dúvida de uma vida inteira: Vera é ou não é sua filha?
E para completar o álbum de família, Juan Marone, uma cópia mal acabada do Fábio Júnior, que jura ter feito sucesso nos anos 90 e ter uma de suas músicas “quase” gravadas pelo Roberto Carlos. Figurinha carimbada das churrascarias da Dutra, namorido de Rose Glamour, sua parceira de palco e cama, e pai desaparecido do Fábio, ressurge do nada disposto a bancar o paizão que não foi uma vida inteira.
Todos Estão Surdos é a história dessas pessoas seus medos, dúvidas, erros e acertos. Uma gente que fala muito, o tempo todo, mas parece nunca se escutar. - Compre aqui!
Sobre o(a) autor(a):
Nasci em Niterói, me criei em São Gonçalo, mas vivi mesmo com a cabeça nas nuvens.
Cresci numa casa cheia de livros, onde a vizinhança batia, numa época em que as Barsas eram o nosso Google. “Dona Shirley, a senhora tem um livro sobre Bacias Hidrográficas? E sobre o Teorema de Tales? A biografia do Zumbi dos Palmares, tem?”
Por essas e outras que tomei gosto em ler dicionários e enciclopédias, me tornando um quase especialista em quase tudo. Só não me faça discorrer sobre um assunto por mais de dez minutos, senão ferrou.
Geminiano, incapaz de escolher praia ou montanha, vinho ou Coca, Beatles ou Stones, já quis ser astronauta, ator, dançarino de axé e monge budista. Acabei fazendo História como segunda opção. A primeira sempre foi escrever. Contar as mil histórias que brotavam na cabeça. Parece que finalmente chegou a hora.
Beijos!
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