ENTREVISTA COM AUTORES #210 | Autor Vilto Reis

by - sábado, agosto 17, 2024


1 - Qual foi sua inspiração para começar a escrever?
Minha inspiração para começar a escrever veio do desejo de contar histórias que sempre me coçava por dentro. Desde criança, eu adorava ouvir as histórias, piadas e causos do meu pai, que me deixavam imerso em outros mundos. Aos poucos, percebi que queria criar minhas próprias narrativas, inventar personagens e levá-los a lugares que só existiam na cabeça do moleque estranho que eu era. Escrever se tornou uma forma de conectar essas ideias e, de certa forma, compartilhar um pedaço de mim com os outros.

2 - Quais autores ou obras influenciaram seu estilo de escrita?
É difícil falar em um outro nome, e como dizia um professor de redação da faculdade: "a gente lê livros para roubar palavras". Vários autores deixaram suas marcas no meu estilo. Jorge Luis Borges foi um dos primeiros que me fez ver a literatura de um jeito diferente, com suas histórias que misturam realidade e ficção. Na fantasia, Tomi Adeyemi e Leonel Caldela me inspiram bastante, principalmente pela maneira como constroem mundos e personagens complexos. Também não posso deixar de mencionar a influência da literatura africana, que descobri enquanto pesquisava para escrever "Nascida para o Trono" e "Fim do Império". 

3 - Como você lida com o bloqueio criativo?
Muita gente tem bloqueio porque não planeja antes de escrever. Há quem fique chateado quando falo isso, mas é a verdade, o que percebo no trato com meus alunos de escrita. Planejar é como traçar uma rota de uma viagem longa, você não sabe o que vai acontecer na viagem, porém sabe onde quer chegar. É evidente que há bloqueios de outros tipos, por fatores externos à escrita, questões emocionais e tal. Quando sinto que as ideias não estão fluindo, tento mudar de ares. Às vezes, viajar, jogar RPG ou até assistir a um bom filme me ajuda a desbloquear. Outra coisa que costumo fazer é escrever algo sem muita pressão, só para manter a engrenagem girando. Mesmo que não saia nada espetacular, esse processo ajuda a quebrar o bloqueio e me coloca de volta nos trilhos. O importante é não desistir e lembrar que faz parte do processo.

4 - Quais desafios você enfrentou durante sua jornada como escritor(a)?
Um dos grandes obstáculos foi enfrentar o preconceito contra autores nacionais. Quando comecei a falar de literatura na internet, lá por 2010, parecia que o mercado só tinha espaço para livros estrangeiros, o que tornava difícil encontrar meu lugar. Além disso, conciliar a escrita com outras responsabilidades do dia a dia foi (e ainda é) um desafio constante. Mas esses obstáculos acabaram me motivando a buscar novas formas de me conectar com os leitores, seja através do meu canal no YouTube, dos meus cursos ou das redes sociais

5 - Você já teve experiências significativas com seus leitores? Alguma história que gostaria de compartilhar?
Tenho recebido muitos feedbacks positivos tanto de "Nascida para o Trono" quanto do quadrinho "Fim do Império", mas algumas experiências me marcaram. Uma delas foi de um menino de 12 anos que pegou o quadrinho e ficou fascinado porque nunca tinha visto uma história com os heróis, os personagens principais de um quadrinho, negros. Isso não tinha chegado até ele, feito por alguém do Brasil, então ele devorou o quadrinho. Outra experiência interessante foi com uma leitora de "Nascida para o Trono", que comparou a protagonista do meu livro com a Joana, da série "3%" da Netflix, o que achei bastante curioso. Aliás, tenho recebido feedbacks variados sobre a protagonista deste livro. Algumas pessoas acham incrível ter uma personagem transexual como protagonista em um cenário de fantasia inspirado na cultura africana, enquanto outras acham a personagem horrível, mas me dizem que não conseguiam largar o livro até o final. Esses feedbacks têm sido muito interessantes e exatamente o tipo de resposta que todo autor gostaria de ouvir. Sinto que estou cumprindo o que me propus ao escrever o livro: atingir diferentes tipos de pessoas de maneiras diversas e provocar opiniões distintas, sem ser algo uniforme. 

6 - Como é o seu processo de escrita? Você segue uma rotina específica?
Costumo escrever mais pela manhã, quando minha mente está mais descansada. Estabeleço metas diárias, como número de palavras ou capítulos, e utilizo técnicas de sprint de escrita para manter o foco (inclusive, faço lives de Sprint de Escrita de segunda a sexta, às 8h da manhã, no meu canal do Youtube). Mas também tento ser gentil comigo mesmo – se num dia a coisa não flui, aceito isso e recupero depois. O importante é manter a constância, mas sem se pressionar demais.

7 - Qual é o impacto que você espera que suas obras tenham nos leitores?
Gosto de pensar que o livro é um ponto de encontro entre as pessoas. O maior impacto que eu gostaria de causar com meu livro é justamente esse: gerar conversas, empolgação e temas para discussão. Acho que quando o livro cumpre essa função de unir pessoas, ele atinge seu auge como obra literária. Mas é claro que não podemos pensar no processo de leitura sem considerar o leitor completando a leitura e compartilhando essa experiência. Esse é o meu maior desejo. Ao mesmo tempo, quero que o leitor se empolgue com uma grande aventura, com uma história que entretém e faz pensar. Não vejo necessidade de separar essas duas coisas. Acima de tudo, gostaria que as pessoas lessem os livros. Espero criar obras que despertem a atenção, a curiosidade e que tragam mais pessoas para o mundo da leitura. Um dos meus maiores desejos é ouvir alguém dizer: "Eu comecei a ler depois que li o seu livro." Vamos ver se isso se concretiza.

8 - Quais são seus planos para o futuro? Você está trabalhando em algum novo projeto?
Tenho alguns projetos em andamento que estou bem empolgado. Estou trabalhando numa história que se passa anos depois de "Nascida para o Trono" (lembrando que cada volume da série "Serpentes & Traições" é uma história fechada), onde vou aprofundar ainda mais as intrigas e os personagens que os leitores já conhecem e apresentar outros. Também estou desenvolvendo um novo quadrinho, "Combate das Deusas", que expande o universo de "Fim do Império". Além disso, estou criando um RPG (jogo de interpretação de personagens) para que as pessoas possam criar personagens nesse universo e interpretá-los. Já estamos testando e está ficando incrível. 
No fundo, meus planos são continuar contando histórias e explorando novas maneiras de me conectar com os leitores.

Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Com certeza, eu gostaria que as pessoas valorizassem trabalhos como esse, espaços como esse, e as pessoas que estão fazendo a divulgação de livros na internet. Afinal, precisamos de mais escritores, de mais influencers literários e, claro, de mais leitores. Quanto mais gente atuando em torno do livro, mais conversas, reflexões e vidas sendo mudadas. 
O recado que eu deixaria para vocês é: me acompanhem nas redes sociais, adquiram meus livros, leiam, compartilhem com mais alguém, e leiam também outros autores nacionais, porque o que está sendo produzido aqui não deve em nada para o que vem de fora. A única diferença é que o que vem de fora tem uma verba muito maior de divulgação, mas nenhum autor de fora pode oferecer o que um autor brasileiro pode: histórias que refletem as nossas realidades e o contato pessoal. Se quiserem me mandar uma mensagem, estou a um Instagram de distância, e será um prazer conversar com cada um de vocês. Muito obrigado pelo espaço e pela entrevista.

Sobre sua(s) obra(s):


Sinopse: No coração de Camara, repousa a Cidade Prateada, a capital de uma confederação de povos guerreiros onde manipulações, traições e disputas do Conselho — liderados pela Guardiã — oprimem a população através do poder do Totem da Serpente, uma joia capaz de despertar habilidades sobrehumanas em pessoas comuns.
É lá que vive Núbia Naja Branca, uma debochada ladra que foi um prodígio de sua geração no domínio da energia vital, mas acabou com os poderes bloqueados como punição por um crime do passado. Hoje, entrega-se à decadência de ser uma renegada de seu povo, afogando as mágoas em bebidas e drogas destrutivas para o corpo, como o Bagandolá.
Uma nova oportunidade de recomeçar surge quando é contratada para roubar o Totem da Serpente, a joia mais importante da confederação, protegida pela Nona Guardiã, sua própria irmã. Contudo, um general lendário e revolucionário deseja o mesmo item para derrubar o poder político de Camara, motivado por um fato que se liga ao passado de Núbia.
Em Nascida para o trono, da série Serpentes & Traições, Vilto Reis cria um mundo de fantasia baseado em diversas culturas africanas, abordando temas como intolerância religiosa, uso abusivo de drogas e discussões de gênero. - Compre aqui!


Sinopse: Dezoito anos depois de Nascida para o trono, o equilíbrio do império está ameaçado. Samira, uma das três filhas da Pitonisa, foi raptada e uma guerra com outra potência militar se aproxima, lançando uma sombra de incerteza sobre o destino de todos.
Diante dessa iminente catástrofe, cinco jovens desajustados são chamados para embarcar em uma missão crucial. Serão eles capazes de superar os obstáculos, resgatar Samira e evitar um conflito ainda maior?
Fim do Império é um quadrinho escrito por Vilto Reis e desenhado por Lucas Machado, uma narrativa épica que nos transporta para um universo inspirado nos majestosos impérios africanos, encantando quem ama aventuras fantásticas não só nas HQs, mas nos RPGs, filmes, games e livros. Acompanhe Dandara e seus amigos nessa jornada para restaurar a paz, em que superar suas diferenças e desafios pessoais vai uni-los para sempre. - Compre aqui!

Sobre o(a) autor(a):


Vilto Reis é escritor, roteirista de quadrinhos, professor de escrita criativa, jogador de RPG e participante do Podcast de Literatura 30:MIN, um dos mais ouvidos do Brasil sobre livros. Autor dos livros “Nascida para o trono”, “Fim do império” e “Um gato chamado Borges”, obra finalista do Prêmio SESC 2015, ele também teve contos veiculados em diversas antologias e revistas.
Fundou o portal Homo Literatus, onde atuou como editor por mais de sete anos, e esteve à frente de iniciativas como a Editora Nocaute e a Revista Pulp Fiction. Com experiência como apresentador do programa de televisão LiteratusTV, em 2022, fez parte do júri do Prêmio Jabuti na categoria Literatura de Entretenimento.
Atualmente, mantém um canal no Youtube dedicado a quem busca escrever livros. Além disso, ministra cursos e oficinas, realiza leituras críticas e oferece mentoria para aspirantes a escritores. Mais informações em www.viltoreis.com.

Beijos!

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