ENTREVISTA COM AUTORES #79 | Autor Rafael de Pauda Chunques

by - quarta-feira, março 18, 2020


1 - Como você percebeu que queria ser escritor(a)?
Acredito que fiquei uns três dias pensando nesta pergunta antes de entender a origem da resposta, mas aqui está: eu dou o crédito desta vontade de ser escritor as minhas noites conturbadas. Veja bem, eu sonho muito enquanto durmo, sonhos vívidos, coloridos, digo até mesmo, palpáveis. E a primeira vez que escrevi foi para relatar estes sonhos, a minha graça era tentar dar um sentido a eles, colocar um início e um fim. Hoje eu diria que sonho pelo menos 5 vezes por semana, e ao longo dos anos isto me deu a habilidade de criar histórias.
    Tudo isto me levou a ser apaixonado, não só por cinema, mas por revistas em quadrinhos, teatros, séries e todo tipo de entretenimento relacionado a criação de histórias.
    Por fim, eu aperfeiçoei a técnica ao entrar na academia internacional de cinema onde fiz um workshop de roteirista, que foi o divisor de águas: lá eu aprendi a verdadeira essência de como criar uma história do início ao fim, sem falhas, sem pontas soltas. Também aprendi como fazer a evolução do personagem, e principalmente: a como tirar originalidade de temas batidos.
    Eu acredito que devo ter algumas dezenas de histórias não concluídas, a vida me levou a caminhos comuns como faculdade e trabalhos sem sentidos que nunca me levaram a lugar nenhum.
    Mas só agora em 2020 o que está me impulsionando realmente a ser escritor é o alto índice de desemprego, do qual sou apenas mais um. Enquanto este alto índice obriga as pessoas a terem trabalhos paralelos como por exemplo, vender salgados em suas casas, ou artesanato pelas redes sociais, o que eu Rafael sei fazer de melhor? E a resposta ecoou facilmente do meu coração para os dedos que batem as teclas: Eu sou escritor.

2 - Tem algum personagem favorito? Em modo geral ou do seu(s) livro(s)? Se sim, por quê? O que ele significa para você?
Na realidade tenho sim, foi o primeiro personagem real complexo dentro de seu próprio universo que criei, por amadorismo coloquei meu próprio nome nele acrecido do PH: Galeão Raphael – Que é um pirata em busca de vingança.
    Foi a primeira história completa que escrevi, isto em meados de 2011 chamada: Alto mar em fúria. Ela se passa em um mundo fictício que criei.
    Eu sempre fui viciado em histórias de piratas, e por curiosidade no mesmo ano de 2011 havia saído o quarto filme da franquia Piratas do Caribe: navegando por águas misteriosas.
    O personagem Galeão Raphael é importante pra mim pois foi com ele apliquei todo meu conhecimento de desenvolvimento de história, o que é um marco pra mim.
    Confesso que este livro, ortograficamente é bem mal escrito, possui erros grotescos, mas também, foi em 2011, hoje eu estou muito mais poeticamente refinado. Talvez “Alto mar em fúria” seja um projeto do qual eu refaça do zero pois possuo muito carinho.

3 - Como foi para você, entrar no mundo literário?
Hollywood alimenta no escritor amador de que as editoras vão correr atrás de você e te pagar fortunas para publicar seus livros. Pelo menos no mercado editorial no Brasil isto é uma mentira. Quem tem dinheiro publica, quem tem fama publica mais fácil ainda.
    Porém eu já sabia que entraria no mercado independente, e as redes sociais facilitam este acesso, por isto hoje eu vendo ebook: mais barato, menos burocrático e para o leitor, mais fácil.
    Por hora eu busco parcerias de pessoas que possuem influência no mundo literário, é bem mais fácil ser indicado por pessoas já conceituadas, do que bater a cabeça de porta em porta, por isto o Lost Words é importante para minha carreira.

4 - Você faz muitas pesquisas antes de escrever uma história?
Apesar de que minha vida toda foi uma grande pesquisa, eu evito fazê-las, pois gosto de criar histórias do zero, ou seja, sem inspirações. Não por que sou arrogante, mas porque eu prezo pela originalidade e ousadia, e pesquisas podem me influenciar a fazer algo já feito.
    Quando decidi ser escritor, decidi por ser escritor de TERROR, é por que eu sou apaixonado pelo tema? Sim, óbvio. Mas também tem um motivo escondido, eu particularmente acredito que de todos os gêneros literários dois deles sejam dificílimos de escrever: terror e comédia.
    Veja bem, criar com palavras uma atmosfera perturbadora capaz de fazer arrepiar os cabelos do leitor é uma tarefa árdua, por um simples motivo: o ambiente em que o leitor esta lendo o livro dificulta a imersão. Você sentiria medo ao ler um livro a noite, no escuro e sozinha? Provavelmente. Mas e ler o mesmo livro em um metrô lotado com a preocupação de não perder a estação? Já não teria o mesmo efeito. Terror tem esse grave problema, não se pode quebrar a atmosfera. Já precisou parar um filme de terror no meio pra fazer algo urgente, e ter que continuar depois? Garanto que não terá a mesma graça. Escrever comédia então, nem se fala.

5 - Existem muitas cobranças por parte de seus leitores?

Sim, mas é uma cobrança MUITO chata, na verdade, desnecessária. Como meus fãs são meus amigos, eles acabam criticando minhas histórias não pelo que elas são, por quem eu sou. Por exemplo, eu recebo crítica do tipo “Ah, mas por que você não faz o personagem tal fazer tal coisa?”, entende? Meus amigos leem minhas histórias não para curtir, mas para procurar “erros” ou fazer sugestões das quais não pedi. E isso eu acho muito chato, por exemplo, por mais frustrado que eu seja, eu não ligo pra J.K. Rowling xingando ela por ter matado o Sirius Black pedindo pra ela reescrever a cena. Também não gosto que façam este tipo de coisa comigo.
    As verdadeiras críticas sensatas são por pessoas que não me conhecem pessoalmente.

6 - Fale um pouco sobre sua forma de criação... Possui alguma mania na hora de escrever?
Dependendo do que estou escrevendo faço de uma ou outra forma, mas para terror eu decidi ser contista, ou seja, crio textos na primeira pessoa onde eu conto pra você o que está acontecendo, diálogos só quando extremamente necessário. Um fato curioso, eu não dou nome aos personagens e evito que eles tenham gênero definido ( a não ser quando necessário para a história), faço isto para que o leitor se ponha no lugar do personagem.
    Gosto de escrever contos curtos pois eu trabalho diretamente com o climax e o plot twist, o que me dá uma liberdade tremenda pra “aleatorizar” a situação em que a personagem se encontra.
    Meus contos de terror possuem uma particularidade de temas, eu gosto de envolver, sexo, religião e bebês, transformar essas coisas boas em algo grotesco é um prazer indescritível.
    Minha maior mania é esconder uma crítica social através do medo do sobrenatural. A segunda maior mania é abusar do gerúndio, o que me faz ter que reler para consertar.

7 - Quais são seus projetos para um futuro próximo?
Possuo alguns projetos em mente, dentre eles uma sequência do 30º conto do meu livro, Oculto na Floresta, intitulei de “O que fizeram com o meu bebê?”.
    Mesmo o futuro sendo incerto, não pararei de escrever contos de terror, fato.
    Ainda mais agora que o meu mestre platônico Mojica Marins passou a atormentar os anjos do céu. Espero um dia poder ser tão importante para o terror brasileiro quanto ele foi.

Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
    Deem valor ao terror nacional, não somos muitos que o escrevem, e o mercado estrangeiro nos engolem dia após dia. Peço para valorizar os escritores independentes, pois deles saem obras magníficas que, infelizmente, não chegam às prateleiras.
    Por isto a todos peço um voto de confiança, pois escrevo com a amor no coração.
    E por favor, verifiquem o armário antes de dormir.

Sobre o autor:


Rafael de Pauda Chunques – 30 anos.
Principal obra: 30 contos doentios para ferrar a cabeça.

Minha biografia é muito simples: ainda não sou nada, ainda não sou ninguém…
… ainda.

Sobre sua obra:


Reuni 30 contos originais perturbadores para amargar o seu dia. Só tome cuidado, pois alguns dos contos possuem uma realidade brutalmente palpável. Já peço desculpas por contos como “Vagigêmeas” (sim é exatamente o que o nome sugere) e “Comendo minhas fezes”. Gostaria de dizer que estava sob o efeito de álcool e drogas pesadas quando os escrevi, mas seria uma grande mentira. Boa sorte!


Em breve resenha do livro, já li alguns contos da obra e juro, o cara é um gênio gente <3

Beijos!

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