ENTREVISTA COM AUTORES #156 | Autor Leonardo Lopes Silva
1 - Qual foi sua inspiração para começar a escrever?
Sempre gostei muito de ler por causa do encorajamento da minha mãe. A minha experiência de leitura me permite visualizar o que leio de forma tão marcante e especial que muitas vezes me senti encorajado a criar o mesmo. Escrever mensagens para as pessoas que amava e amo foi sempre parte da minha vida, já que desenvolvi uma personalidade introvertida durante o meu crescimento como adolescente. Quando tinha 14 anos, participei de uma atividade criativa organizada pela minha amada professora de Redação, Mônica Janara (ave, mestra!, onde escrevi um poema com um título bem cafona (Debaixo da Noite Estrelada) ouvindo música numa sala de aula com as luzes apagadas. Apesar de ter achado o poema muito ralo, foi bom o suficiente para a minha professora me inscrever no concurso de poesia da escola. Acabei por ganhar o primeiro lugar na minha categoria e faixa etária! Esse sucesso inicial e uma série de paixonites me estimularam a continuar a escrever frequentemente durante a minha adolescência. Depois de me familiarizar com outros poetas nas minhas aulas de literatura brasileira, portuguesa, inglesa, e americana, uma explosão aconteceu e comecei a escrever de forma menos ferina e mais organizada, técnica.
2 - Quais autores ou obras influenciaram seu estilo de escrita?
É uma pergunta muito propícia, já que tem tudo a ver com o que estava falando. Felizmente (ou infelizmente, para alguns) nunca se escreve num vácuo, e ainda bem que amadureci com a minha escrita, com a certeza de que estou tentando subir nos ombros de gigantes que foram e são muito mais talentosos do que eu. Comecei a minha poética numa veia claramente romântica, alimentada pela poesia de Álvares de Azevedo, Castro Alves, Olavo Bilac. Numa fase fulcral da minha poesia, escrevendo quase compulsivamente (os poemas que fazem parte do capítulo “Adoidescente” do meu livro), bebi muito de poetas simbolistas e modernistas como Cruz e Souza, Augusto dos Anjos, e cantores como o Cazuza e Renato Russo. Quando mais eu lia, mais experimentava com poesia modernista, concretista e surrealista. Ao começar a escrever poesia em inglês, notei claramente o acento e sotaque de grandiosos poetas como John Donne, D.H. Lawrence, Walt Whitman, Emily Dickinson, Tennyson, Keats, Shelley, e toda uma geração de poetas que adotei como um projeto pessoal relembrar todos os anos - os poetas-soldados da 1ª Guerra Mundial. Há um espaço especial no meu coração para escritores tão marcantes como Wilfred Owen e Siegfried Sassoon. Espero honrá-los com o pouco e parco que escrevo.
3 - Como você lida com o bloqueio criativo?
A melhor forma de se resolver o bloqueio é dar um tempo para se vivenciar o que você quer escrever. Viajar, perambular pelas ruas, observar a vida ao seu redor, todas as coisas que lhe forcem a sair de si mesmo e notar. Sem notar o quê, quem está ao seu redor, não há o que se anotar.
4 - Quais desafios você enfrentou durante sua jornada como escritor(a)?
O principal é achar leitores numa realidade onde a leitura não é apreciada realmente. Decidir publicar e expor a sua escrita ao mundo é um ato de grande coragem, loucura, e até mesmo falta de noção, pois nunca se sabe se o que você pensa, idealiza, e põe no papel, vai ter ressonância nas mentes e nos corações daquele que o lê. Mesmo com amigos e familiares, a chance do desentendimento ou mesmo da total indiferença é algo que sempre temi. Depois disso, há a batalha hercúlea para conseguir ser publicado. E há todo o tipo de histórias de riso e de choro nesse mundo literário. Lancei o meu livro em 2015 e até agora não consegui que os livros vendidos pela editora fossem vendidos para que uma segunda edição fosse feita. É muito frustrante porquê instantaneamente é de se achar que se o livro não vende, é porque é ruim. E não é. Eu teria a chance de corrigir erros feitos e talvez mesmo reimaginar o conceito gráfico do livro. Espero não repetir os mesmos erros ao lançar futuramente a versão inglesa da Língua do Pulsar, que finalmente traduzi para o inglês no fim do ano passado. Uma verdade que é válida unicamente para mim, não necessariamente para os colegas escritores, é que tenho a plena certeza de que nunca poderei viver do que escrevo, e que sempre dependerei do meu trabalho como educador para poder sustentar a minha escrita, que parece ser um “hobby de desocupado” mas não é. É um bocado triste não ser reconhecido por todas as identidades que desejo ter.
5 - Você já teve experiências significativas com seus leitores? Alguma história que gostaria de compartilhar?
Sim. Vários leitores se tornaram amigos e colaboradores meus. Uma pessoa muito especial na minha vida interior visitou um blog meu em 2003 e me deu tanta força, tanto amor, tanto apoio, que levou a minha poesia a um outro estado de existência, e me deu as ferramentas para que eu finalmente tirasse os meus poemas da gaveta. Há um capítulo inteiro dedicado a ela no meu livro. É por causa dela que agora vejo o poema como o resultado de um ato de amor entre o escritor e o seu leitor. O amor concretiza-se no papel, nas palavras escritas no papel, na música aos ouvidos, nas cores da tela, no sabor do prato. Se nunca existiu, agora existe e sempre existirá.
6 - Como é o seu processo de escrita? Você segue uma rotina específica?
Tento escrever num local silencioso, no meu quarto, de preferência. É preciso tempo de sobra para se escrever com calma. E um pouco de conforto. Já escrevi sentado na cama, ou deitado de lado. Hoje em dia o meu iPad é imprescindível para que eu escreva com a minha letra e depois digite o que escrevi. Dessa forma não há como perder poemas escritos em guardanapos (que eu também escrevi). Mas se há algo irresistível dentro de mim que eu precise escreve, eu escrevo, mesmo que seja de pé no ônibus, ou sentado no banheiro.
7 - Qual é o impacto que você espera que suas obras tenham nos leitores?
Quero partilhar com os meus leitores o que é ter uma voz dentro de si mesmo que precisa ser ouvida, mesmo que seja um pouco melancólica, colérica, exagerada ou extasiada. Que é importante sentir o que estamos sentindo, e vivenciar o que estamos vivenciando, que tudo isso faz parte da experiência humana, e que devemos continuar a entrar em contato com a nossa criança, adolescente, adulto, e idoso interior, pois todos eles existem dentro de nós, e esperam ser tratados com o seu devido respeito e carinho. Ultimamente, que a experiência que estamos vivendo intimamente dentro de nós inevitavelmente nos leva ao outro, o estranho, o estrangeiro, o diferente, que devemos nos abrir para ele, pois somos todos irmãos e irmãs, “folhas de grama”, como Walt Whitman diria. Sem isso, não há cura e harmonia, só separação e destruição.
8 - Quais são seus planos para o futuro? Você está trabalhando em algum novo projeto?
Sim, como já mencionei, terminei a tradução d’A Língua do Pulsar para o inglês - the (pulsing) language (of a pulsar), e estou agora concretizando um sonho meu que é dar aos poemas um tratamento multimídia, que envolve música, vídeo, pintura, e quem sabe, até moda?! Na minha página do Instagram podem conferir as minhas releituras dos poemas que escrevi no livro traduzidas para o inglês, com músicas que eu mesmo crio no GarageBand, e edito em vídeo numa plataforma muito boa, chamada Kapwing. Estou fechando parcerias com outros poetas, pintores e ilustradores - uma delas é a madrilenha Elvira Fernandez, que mui gentilmente criou um primor de ilustração para um reel nosso, resultando em mais de 120 mil visualizações e centenas de likes. Assim que achar uma editora para o meu livro em inglês, porei em marcha a edição do meu segundo livro de poemas, em formato bilíngue e multimídia, nos mesmos moldes d’A Língua do Pulsar.
Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Sim! É um grande prazer conhecê-los! Já conheço alguns de vocês baseado na nossa experiência do poema a dois, certo, Aline? Desejo muito reencontrar a minha pátria com pessoas como vocês, que apreciam livros, apoiam escritores, são carinhosos com eles. Ficarei muito feliz em ouvir as suas opiniões, impressões e ideias sobre o que escrevi, e estou muito animado para participar em eventos onde possamos trocar presenças, seja no formato, seja no presencial (se Deus quiser, estarei no Brasil em agosto). Espero que o nosso encontro comece no papel ou na tela e termine com um abraço forte! Agradeço muito pela leitura dessa entrevista!
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Beijos!
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