ENTREVISTA COM AUTORES #157 | Autora Barbara Bein

by - sexta-feira, abril 19, 2024


1 - Qual foi sua inspiração para começar a escrever?
Eu sempre tive facilidade em escrever e sempre senti que eu me comunicava melhor assim do que falando. Com cerca de 12 anos, comecei a pegar gosto pela leitura de livros maiores e, consequentemente, a imaginar personagens, histórias, cenários... Comecei a escrever e desenhar sobre tudo isso, anotando as ideias, fazendo roteiros de quadrinhos que eu nunca cheguei a desenvolver de verdade, escrevi muita fanfic, mas foi só aos 30 anos que eu finalmente pensei "por que eu não tento escrever um livro?". E aí a coisa foi acontecendo.

2 - Quais autores ou obras influenciaram seu estilo de escrita?
Eu li um pouco de tudo ao longo da vida, mas fantasia sempre foi meu gênero favorito, e eu sempre gostei de coisas estranhas e polêmicas. Acho que os estilos de escrita e obras que mais me marcaram foram Cem anos de solidão, do Gabriel García Márquez, A casa dos espíritos, da Isabel Allende, As brumas de Avalon, da Marion Zimmer Bradley, As crônicas do rei Artur, do Bernard Cornwell, O nome do Vento, do Patrick Ruthfuss, livros em geral do Stephen King, entre outros. Além disso, eu tive uma influencia muito grande de obras mais esquisitas, como O Cristal Encantado, de animes e de video games.

3 - Como você lida com o bloqueio criativo?
Não sei haha. Eu acho que eu só dou tempo ao tempo, tento consumir coisas diferentes que possam dar aquele click, sabe? Uma música diferente do que estou acostumada, um filme que me faça pensar, um livro pouco conhecido... Mas geralmente é a música que embala a minha inspiração mesmo. Uma boa receita pra um bloqueio criativo é conhecer músicas novas enquanto lava a louça haha.

4 - Quais desafios você enfrentou durante sua jornada como escritor(a)?
Eu acho que o meu maior desafio sempre foi a falta de confiança. E claro, a frustração de não ser aceita em seletivas e concursos, ou de não conseguir crescer em redes sociais, ou de ver que alguma obra minha não teve o sucesso que eu gostaria... E tudo isso vem atrelado a uma rotina de trabalho que já consome muito a minha energia mental e o meu tempo (fui professora de inglês por mais de um década e agora sou tradutora de jogos), então é muito difícil produzir na velocidade que eu gostaria. Existe pouco tempo pra dar conta de tudo e nem sempre sobra um espaço pra escrita.

5 - Você já teve experiências significativas com seus leitores? Alguma história que gostaria de compartilhar?
Eu acho que uma das experiências mais legais foi ter publicado no Wattpad como uma forma de testar a viabilidade da minha obra e ter acompanhado a reação de quem gostava (e de quem não gostava também) ao longo do tempo. Tinha gente que sofria junto com os personagens, gente que ria, chorava e que passou a amar aquela obra tanto quanto eu. Isso não tem preço. Uns quatro ou cinco leitores de lá se apaixonaram tanto pela história que fizeram questão de comprar o livro físico assinado, mesmo depois de já tendo lido mais de uma vez, e eu confesso que fiquei bem surpresa e emocionada com isso. Outra experiência importante foi ver essa mesma reação dos poucos amigos próximos que leram meu livro ainda nas fases iniciais. Acho que sem esse apoio genuíno deles, talvez eu tivesse desistido de escrever e reescrever e tentar publicar de verdade um dia.

6 - Como é o seu processo de escrita? Você segue uma rotina específica?
Quando eu sento pra escrever, costumo ser um misto de arquiteta com jardineira, como dizem. Faço um roteiro inicial da história toda, capítulo a capítulo ou só um apanhado geral pra que eu tenha um guia de começo, meio e fim. Mas durante o processo em si, as coisas vão acontecendo e mudando e aumentando, e muito daquilo que foi pensado no começo muda completamente. Às vezes preciso de alguns dias pra pensar, às vezes fico horas a fio escrevendo feito uma maluca... "Rotina" não é a melhor palavra aqui haha.

7 - Qual é o impacto que você espera que suas obras tenham nos leitores?
Depende muito do que eu estou escrevendo. Há contos que eu fiz com o intuito de emocionar, tratando, por exemplo, do amor perante a morte (por algum motivo, gosto muito desse tema), como é o caso de "De sogra para filha", que conta sobre uma senhora que vê todos os seus preceitos de uma criação machista sendo confrontados pela nova namorada do filho. 

Em outros, a ideia era chocar mesmo, causar desconforto e mexer em questões que as pessoas tratam como tabu, como em "Os meninos de bruges", baseado na história real de dois adolescentes torturados pela inquisição por sodomia com um padre. 

Também amo escrever coisas bobas, engraçadas e até absurdas, como o conto da mulher que assava os melhores sonhos da cidade, só que o ingrediente especial era justamente o ódio que ela sentia de cozinhar (sim, eu consigo dar saltos bem distantes entre os temas dos meus contos hahaha).

No fim, sempre há um questionamento por trás de tudo que escrevo, uma provocação, um "e se...?", um "rapaiz, mas tá certo isso memo?" haha. Eu não tenho nenhuma condição de apresentar respostas e soluções para o mundo. Quem sou eu pra isso, né? Mas eu não consigo não fazer as perguntas, especialmente as que incomodam.

No entanto, quando eu escrevo fantasia, além de todo o questionamento, também quero que o leitor seja livre pra viver o impossível. O meu primeiro romance publicado, "A menina branca", é sobre a omissão de uma cidade inteira diante de uma criança abandonada por conta das crenças religiosas controversas da população (ah lá o questionamento), mas, ao mesmo tempo, situado em um cenário fantástico e cheio de estranhezas, como o próprio protagonista, uma criatura capaz de se alimentar da energia das emoções alheias, mas que quase não possui emoções próprias.

Pra concluir, acho que o impacto que eu quero causar nos leitores é uma mistura de catarse ao mexer com questões e emoções nem sempre confortáveis e apresentar um mundo aonde eles possam revisitar e se refugiar, com personagens que eles possam imaginar como quiserem, vivendo o que eles quiserem. 

8 - Quais são seus planos para o futuro? Você está trabalhando em algum novo projeto?
Eu tenho muitos planos, muitas ideias e pouco tempo pra pôr em prática haha. Eu gostaria de fazer uma continuação de "A Menina Branca", isso é algo que eu já pretendia fazer desde o início. Mas essa é apenas uma história dentro de um universo muito maior que eu gostaria de explorar. Além disso, queria muito aliar a minha escrita com a minha arte, como parte do pacote da autora hahah. Nem todo mundo gosta de ilustrações, mas me dá prazer poder fazê-las e ter um toque todo meu ali, por mais imperfeitas que elas sejam. 

Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Como recado final, eu queria agradecer muito pela oportunidade de participar dessa entrevista, espero que eu tenha conseguido despertar um tiquinho de curiosidade nos leitores do Lost Words, especialmente os que têm um pezinho no New Weird, como eu. Porque os primeiros tijolinhos pra construir um novo mundo surgem quando um esquisito lê um livro que outro esquisito escreveu hahaha.

Sobre sua(s) obra(s):


Sinopse: Até onde é possível suportar a angústia de se perder de si para, literalmente, sentir a dor e o prazer do outro? Em A Menina Branca, somos apresentados a uma criatura monstruosa que vive para consumir as emoções de uma sociedade hipócrita e que, contra todas as chances, encontra em uma garota albina aquilo que nem sabia que lhe faltava. Dentro de um universo fantástico e sombrio, somos convidados a também encontrar aquilo que nos falta, mergulhando em uma história marcante sobre aqueles que buscam seu lugar no mundo. Uma leitura que, certamente, ficará na memória por muito tempo. - Compre aqui!

Sobre o(a) autor(a):


Barbara Bein foi professora de inglês por muitos anos e agora é tradutora de jogos. Escreve e desenha quando vence a guerra contra a procrastinação. Tem diversos contos publicados em antologias e projetos digitais, incluindo dois contos adaptados para audiovisual. Um deles, "De sogra para filha", foi vencedor do prêmio FUNARTE RespirArte 2020 e Qualicult 2021. Experimenta escrever de tudo um pouco, mas gosta mesmo é de falar do estranho e do impossível.

Beijos!

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