ENTREVISTA COM AUTORES #233 | Autora Y. Stylo
As vozes dos personagens em minha cabeça, exigindo que eu desse forma a seus relatos; menos escrevo do que transcrevo o que eles me contaram – e não posso afirmar que sempre falam a verdade, porque há versões bastante conflitantes dos mesmos fatos.
2 - Quais autores ou obras influenciaram seu estilo de escrita?
Ui, são tantos! Alexandre Dumas, as irmãs Brontë, Hermann Hesse, Graciliano Ramos, Monteiro Lobato, José de Alencar, Machado de Assis, Sadie Sill...
3 - Como você lida com o bloqueio criativo?
Há muitos anos que não sei o que é isso. Sofro é de falta de tempo para escrever, ao ponto em que, quando vou acessar os personagens, eles estão aborrecidos comigo e se recusam a conversar. Daí minha única saída é adulá-los, prometer-lhes o protagonismo, a prevalência da sua versão, e logo fazem fila para me contar, às vezes um pequeno detalhe, noutras vezes um evento paralelo que nada tem a ver com a história principal – e que me vejo então forçada a encaixar na narrativa, à custa de muitas páginas que irão encarecer a impressão e desanimar vários leitores. – Mas é assim que se chega aos detalhes de sua intimidade, ao arrebatamento de suas paixões, às motivações inconfessáveis, aos segredos capazes de mudar o curso de uma vida.
4 - Quais desafios você enfrentou durante sua jornada como escritor(a)?
Acredito que o principal desafio de qualquer escritor é suplantar a dúvida sobre o valor de sua escrita. Perguntas como “O que escrevo é realmente bom?” ou “Será que alguém além de mim terá algum interesse nessa história?” acompanham cada batida do nosso coração; e a única solução possível no caso é a publicação, a exposição pública da obra: que venham as críticas, os risos ou a incompreensão – não que eu esteja pronta, mas é uma decisão que você toma ou morre.
5 - Você já teve experiências significativas com seus leitores? Alguma história que gostaria de compartilhar?
Como eu comecei em um nicho muito restrito do fanfic, formei um círculo de amizades maravilhoso com outras autoras-leitoras: sem jamais termos nos conhecido pessoalmente, apoiamos uma à outra, aprendemos juntas, compartilhamos medos, sonhos e conquistas. Cada uma seguiu seu caminho, mas fiz amizades para a toda vida em meio àquele grupo.
6 - Como é o seu processo de escrita? Você segue uma rotina específica?
Escrita demanda solidão, conseguir ficar sozinha por ao menos um par de horas – até porque rio, choro e me descabelo conforme as cenas que vou escrevendo, numa catarse emocional absoluta, e se há pessoas em volta, elas se assustam (ou no mínimo se espantam e ficam perguntando "o que aconteceu?": ninguém acredita que a topada de um personagem imaginário doa no seu dedão).
Procuro criar esses momentos no meu dia, e, quando consigo, é papel e caneta (como o Neil Gaiman): todas as ferramentas que um computador e uma conexão disponibilizam são distrações que atrapalham o fluxo de ideias.
De quanto mais horas seguidas disponho, maior o fluxo, a ponto de virar uma torrente tão rápida que mal consigo registrar no papel. É importante apenas escrever: nada de ficar procurando a frase perfeita, a construção mais correta ou aquele sinônimo agora.
Quando a maior parte da história já se materializou em palavras, começo a passar para o computador; aí sim, boa parte do processo de “reescrita” acontece: vírgulas valsam para lá e para cá, a ordem das frases e o tempo dos verbos se alteram, os pronomes se apresentam, e a palavra repetida 15 vezes na mesma página solicita que o banco de reservas acione as substituições.
Para não dizerem que sou uma ranzinza anti-tecnologia, nessa hora utilizo o corretor para prover a revisão básica – está disponível, vamos usar! – Contudo, acompanho uma por uma das correções sugeridas (a Inteligência Artificial nem sempre é tão inteligente assim, e, de forma geral, não compreende bem sutilezas ou ironias), e jamais deixo de fazer minha própria revisão.
A essa altura já estou totalmente apaixonada pelo texto, tudo se torna uma espécie de namoro, e é árduo não condescender com as falhas – insistimos em vê-las como até charmosas – portanto está na hora de submeter o texto a uma alma amiga capaz de destruir suas ilusões sem destruir (demais) seu ego, e, com sorte, até apontar alguns erros óbvios que não se entende como escaparam.
A tendência é o processo se repetir infinitamente, por isso é imprescindível ter uma dead line, uma data limite para publicar ESTEJA COMO ESTIVER, porque senão a gente não cessa de modificar (o que ou qual texto não pode ser melhorado, afinal?)
7 - Qual é o impacto que você espera que suas obras tenham nos leitores?
Espero que os leitores VIVAM no meu mundo enquanto estiverem lendo minhas histórias: torçam, riem, chorem, surpreendam-se, arranquem os cabelos, xinguem, atirem o livro longe (e depois o peguem de novo), e terminem cada um deles com uma sensação boa de plenitude, mas ao mesmo tempo a sensação de vazio e saudade que a leitura de um bom romance sempre deixa.
8 - Quais são seus planos para o futuro? Você está trabalhando em algum novo projeto?
Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
O Perfume da Rosa é uma série de 5 livros, e embora os próximos 2 – a serem lançados em 2025 e 2026 - já estejam bem adiantados, os 2 últimos – previstos para 2027 e 2028 - ainda podem ser considerados trabalhos em progresso.
Os leitores se dividem a respeito da série ser uma Romantasia ou uma Fantasia com forte componente romântico, e eu também não consigo chegar a uma conclusão, porque há argumentos para defender ambos os pontos de vista: um world building consistente, a ocorrência de eventos extremamente improváveis, a presença de raças como anões, elfos e orcs, mas também o amor como moto dos acontecimentos, os relacionamentos afetivos no centro da narrativa, a inevitabilidade da paixão... Gostaria que os leitores me emprestassem seus olhos, para que eu consiga enxergar como eles a veem.
Sobre sua(s) obra(s):
Sinopse: No primeiro livro da série O Perfume da Rosa, uma mortal que parece ter escapado de um pesadelo chega à floresta que guarda um dos quatro reinos élficos. Sem memória de quem é, ela dá à luz uma criança misteriosa e ganha o amor ciumento e possessivo de um capitão entre os elfos.
Algumas décadas antes, um mercenário misterioso apaixona-se por uma mulher muito à frente de seu tempo — alguns a chamariam de alquimista, outros a chamariam de bruxa, ela se chama de physica — e juntos concebem um príncipe de um grandioso reino decadente, o qual vem a viver um amor por correspondência com uma princesa entre os elfos;
Muitíssimo antes, AQUELE QUE É joga sua Vontade no tempo, e dela emergem os Servos da Vontade, cujo intuito é concretizá-la;
O Mais Poderoso dos Servos engendra uma raça tão amaldiçoada que não consegue conceber a noção de Bem, pois só experimenta o Mal;
Quando os orcs finalmente atingem uma superioridade numérica invencível, mortais, elfos e anões tem que lutar juntos para enfrentá-los. Parece ser o pior momento possível para o amor acontecer, mas a morte de um homem que reinava há 800 anos precipita os acontecimentos:
Um jovem rei é coroado, tão belo que ninguém pode sentir-se indiferente à sua beleza;
Um casal há 10 anos separado por um mal-entendido se reencontra;
Sob a proteção de uma rainha dos anões, uma guerreira criada como se fosse um homem redescobre a própria feminilidade ao apaixonar-se por um homem muito diferente dela;
Quatro líderes milenares dos elfos precisam acertar as contas com o mundo e encarar seu propósito;
Uma horda de bárbaros invade o reino, montada em animais que só podem ter saído da visão doentia de um deus megalômano;
Um rei capaz de encarar os deuses de igual para igual joga dados com o Destino;
E uma mulher que abandonou a família precisa encontrar o caminho de volta para o coração de seu capitão. - Compre aqui!
Sobre o(a) autor(a):
Vim do milênio passado e sou uma mulher estranha que todos pensam que é normal - inclusive meu marido e meus filhos adolescentes. - Apenas Ygritte, minha gata ranzinza, sabe a verdade.
Beijos!
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