ENTREVISTA COM AUTORES #268 | Autora Y. Stylo

by - segunda-feira, maio 12, 2025


1 - Em relação ao desenvolvimento de Daror e Miriennë, como foi o processo de dar mais protagonismo a eles nesse novo volume? Você pode compartilhar um pouco sobre os desafios e surpresas que surgiram ao aprofundar esses personagens?
Para posicionar o leitor, Daror e Miriennë são personagens bastante secundários de A Paixão dos Mortais — o primeiro livro da série O Perfume da Rosa. — Mas em parte eles são secundários lá, para que  no volume da série que leva o nome do casal seu encontro pudesse ter todo um frescor de descoberta, um momento somente deles.

Dar protagonismo a Daror é fácil, ele é aquele sujeito de mais de dois metros e meio de altura, que chama atenção querendo ou não. O desafio em relação a ele é humanizar aos olhos do leitor um personagem que poderia ter muito de caricato.

Já em relação a Miriennë, inicialmente tão frágil, tão errática, tão insegura, o desafio é tornar — SPOILER — seu amadurecimento verossímil.

Ao contrário dos protagonistas cheios de certezas e aparentemente isentos de falhas de A Paixão dos Mortais, Daror e Miriennë, com seus erros, dúvidas e inseguranças, muitas vezes inesperadas, são personagens com os quais a identificação é mais imediata, e dos quais logo o leitor se verá íntimo.

O Chefe dos bárbaros do Sul é um guerreiro temível, cujo mero porte aterroriza seus inimigos, mas ele sabe que para ser o Patriarca capaz de salvar Erath da aniquilação tem que ser mais que isso — o que ele não sabe é como.

Já Miriennë não tem sequer um nobre, ainda que desesperado, objetivo a guiá-la: a imagem que a poderia descrever é a de um barco à deriva, arrastado pelas correntes da vida até um destino que nunca imaginou.

A princípio sem nada em comum, Daror e Miriennë acabam por construir uma conexão, encontrando apoio um no outro para reestruturar seu mundo retirado dos eixos.

2 - Na sua visão, de que forma a autopublicação influenciou a diversidade de vozes e abordagens na literatura contemporânea, especialmente no que diz respeito à representação da sexualidade?
Gostando ou não gostando das práticas da Amazon, a disponibilização da plataforma Kindle é a responsável direta pelo boom da publicação independente.

Sem o funil imposto até o início do milênio pelo sistema editorial vigente, os autores multiplicaram-se em progressão geométrica, libertos das amarras e critérios das editoras tradicionais, aptos a desbravar novas formas e revelar outros anseios do público.

Difícil deixar de perceber que entre os novos públicos e os novos autores, muito aponta para uma predominância feminina: parece haver tanto vozes ansiosas por falar, quanto ouvidos sequiosos por ouvir. Uma sinergia entre autoras e leitoras ainda mais notável no tocante à abordagem de uma sexualidade em que a mulher é protagonista de seus desejos, ativa na busca do seu prazer, em que muitas vezes é o homem o objetificado.

Na visão de alguns, porém, essa tendência, denominada de hot, por vezes tem descambado numa versão masculinizada do erotismo feminino, privilegiando informações visuais e relatos mecânicos de atos sexuais desvinculados do todo maior do enredo, em detrimento da emoção, da conexão e da contextualização.

A interação entre Daror e Miriennë não acontece num contexto estanque, mas num todo em que a sexualidade permeia e é permeada pelos acontecimentos.

3 - Como você vê a evolução do protagonismo feminino na literatura contemporânea, especialmente dentro da ficção independente, e quais os impactos disso na construção dos personagens masculinos?
A ascensão das protagonistas femininas é, provavelmente, outro dos aspectos relacionados ao boom da publicação independente. Personagens femininas fortes tornaram-se de tal forma comuns que não constituem mais elemento diferencial num enredo.

Contudo, algumas vezes esse empoderamento feminino é estabelecido em detrimento da jornada do herói, o que tira a possibilidade de empatizarmos com essa criatura superpoderosa, que, entretanto, torna-se menos humana aos nossos olhos na medida em que não nos foi dado compartilhar das dores, derrotas e provações que a elevaram ao patamar no qual a vemos hoje.

Após ter apresentado ao leitor uma protagonista tão forte quanto Cabelos Negros, em A Paixão dos Mortais, a proposta em Daror e Miriennë é fazer o oposto, trazer ao leitor uma personagem tão frágil e errática, tão pueril e necessitada de proteção, que consiga captar a empatia do leitor para uma jornada de amadurecimento e protagonismo mais leve (embora não superficial), feminina e romântica.

Outra questão umbilicalmente ligada à do protagonismo feminino trazido em parte da literatura atual, é a de que o protagonismo masculino teve de lhe ceder espaço.

Em muitos aspectos, o que ocorreu foi uma inversão de sinais, e os personagens masculinos passaram a ocupar o lugar periférico e por vezes meramente decorativo antes reservado às personagens femininas, deixando de ter histórias e complexidade próprias para orbitar em volta da protagonista (ressalte-se porém que a falta de profundidade de personagens tanto masculinos quanto femininos é, em grande parte, efeito colateral de narrativas que não podem se dar ao luxo de momentos reflexivos ou de contemplação, obrigadas à ação constante nessa era do estímulo permanente, em que o ritmo frenético é uma obrigação, e entediar os leitores um risco que não se pode correr).

Em outros aspectos, ainda, personagens masculinos foram enfraquecidos e desqualificados para que protagonistas femininas sobressaíssem, quando não em termos de força, inteligência ou habilidade, em termos de determinação e retidão de caráter.

Além de ter contribuído para alijar parcela do leitor masculino da literatura de ficção independente, essa tendência também deixa uma fração do público feminino insatisfeita: queremos personagens femininas fortes e personagens masculinos mais fortes ainda, capazes de se conectar em algo além de uma relação de poder.

4 - A ambientação do mundo de O Perfume da Rosa é uma das características que mais encantam os leitores. Quais novas nuances ou locais você trouxe no segundo volume para expandir esse universo e torná-lo ainda mais imersivo?
Daror e Miriennë se passa no hemisfério oposto do mundo que nos é apresentado em A Paixão dos Mortais. Um Sul quente, desértico e sensual. O choque das mulheres do “eurocêntrico” Reino dos Homens face a clima, paisagem, cultura e modo de encarar a vida que encontram em Erath é o próprio enredo da história.

5 - Além de ser uma continuação, o segundo volume de O Perfume da Rosa também carrega a responsabilidade de surpreender os fãs. Quais detalhes ou reviravoltas você tem certeza que irão pegar os leitores de surpresa, e por que decidiu incluir essas viradas na história?
Surpresas? Talvez surpresa nenhuma, afinal o título do livro é o nome de um casal e, como mais romântico dos 5 livros da série, este parece uma colagem de clichês: a mocinha delicada, o brutamontes com coração de ouro, o impasse de entendimento entre o masculino e o feminino de representações quase arquetípicas.

Aos que considerarem tais representações sexistas, esclareço que é proposital. No contexto da história os personagens não teriam como ser outra coisa. Daror é machista sim – mas misógino, nunca. E, se Miriennë, inicialmente, entende-se como “menor” em virtude de sua condição de mulher, à partir da dinâmica que vai estabelecendo com o parceiro, com as demais mulheres e com a nova pátria, vai descobrir um manancial de valor que brota da feminilidade.

Assim como não há surpresas, também não há viradas mirabolantes: a narrativa não se propõe a ser uma montanha russa de acontecimentos e emoções, a deixar o leitor sem-fôlego, ser um soco no estômago ou estabelecer uma tensão que só é aliviada na última página. Bem ao contrário, visamos percorrer o caminho apreciando a paisagem, nos permitindo deitar na grama para refazer as energias, tomar um tempo para refletir e atribuir significados mais profundos aos acontecimentos, colecionar algumas lembranças ternas, e até contar algumas piadas de casal — Se algo acontece para abalar essa sensação de conforto, nunca é para chocar, apenas para nos lembrar de que a vida não oferece garantias, e esse é o principal motivo pelo qual ela precisa ser vivida.

Porém — embora isso não deva ser uma surpresa para o leitor mais atento — são oferecidos vislumbres capazes de jogar uma outra luz sobre um personagem importante de A Paixão dos Mortais, uma luz capaz de projetar sombras de moralidade bastante duvidosa.

6 - Em uma série como a sua, onde o desenvolvimento dos personagens é fundamental, como você mantém a consistência emocional deles ao longo da trama, especialmente quando eles enfrentam desafios tão profundos?
Abrindo espaço para as incoerências e os erros, rsrsrsrs.

Seres humanos são incoerentes, seu desenvolvimento jamais é uma reta, e quanto maiores, maiores são as sombras que projetam. Na série O Perfume da Rosa, as escolhas insensatas, as paixões contrárias ao bom-senso, os eventos implausíveis e as soluções improváveis imperam, bem como os personagens teimam nos mesmos erros a um tal ponto que o leitor vai exclamar: “Ah não! De novo não!”

Sim, de novo sim, porque muitas vezes a única coisa em que um personagem pode persistir é em seus erros.

7 - Tem algo que gostaria de dizer aos seus futuros leitores de Daror e Miriennë?
Primeiramente que é possível ler Daror e Miriennë sem ter lido A Paixão dos Mortais. — Na verdade inverter a ordem de leitura entre eles traz uma perspectiva interessante sobre a história, e, na medida em que este é um livro menor e mais simples, pode ser uma introdução mais amena da série.

Porém, por se tratar de um segundo livro, o ritmo é sim mais tranquilo e intimista, apresentando ao leitor um momento da história em que os acontecimentos internos têm tanto peso na narrativa quanto os que ocorrem no mundo exterior.

Cabe também e sempre o aviso de que se trata de uma obra adulta, com cenas de cunho sexual, e ainda que estas não sejam gratuitas nem chocantes, são mais abundantes e gráficas do que no primeiro livro.

Sobre sua(s) obra(s): 


Sinopse: Nenhum mortal jamais deveria ter cruzado aqueles limites, nunca, nem os limites da Floresta dos Elfos, nem os limites do coração dele, mas ela o fez, e agora o capitão dos elfos estaria condenado a amar Cabelos Negros para sempre.

Quando procuraram a criatura que se esgueirara para dentro da Floresta dos Mistérios, Algeon e seus irmãos não imaginavam que encontrariam uma mulher, e nem o que ela traria consigo, uma benção e uma maldição.

Mesmo sabendo disso, o capitão dos elfos vê sua vida entrelaçar-se à daquela estrangeira, em meio às disputas precipitadas pela morte do Rei dos Homens e na iminência de uma invasão que aniquilará as Três Raças.
A Terra Partida parece um gigantesco tabuleiro em que se joga dados com o Destino apostando a própria vida, e onde cada mulher precisa lutar, com as armas que tem, para viver a própria verdade.

No primeiro dos 5 livros da série O Perfume da Rosa, personagens tão diversas quanto apaixonantes começam a desafiar o Destino em meio ao turbilhão de intrigas, batalhas, ameaças inesperadas, inimigos ressurgidos e acertos de contas com o passado em que a Terra Partida é jogada pela morte de um rei que reinava há 800 anos.

Princesas, plebeias, guerreiras, esposas, rainhas, mães, todas precisam enfrentar inimigos poderosos, deuses ensandecidos, lealdades divididas e corações que se apaixonam num tempo e lugar impróprios.

Mas exatamente no pior momento para o amor acontecer:
um casal separado por um mal-entendido se reencontra;
uma guerreira criada como se fosse um homem se apaixona;
um rei capaz de encarar os deuses de igual para igual joga dados com o Destino e
uma mulher que abandonou a família precisa encontrar o caminho de volta para o coração de seu capitão. - Compre aqui!


Sinopse: Para garantir a sobrevivência de sua nação, Daror de Erath fez às mulheres do Reino dos Homens uma proposta ousada.
Para fugir de seus problemas, Miriennë foi uma das que aceitaram, sem imaginar que seria escolhida como esposa pelo mais temível daqueles bárbaros.
Agora eles tem cinco anos para responder uma pergunta:
Podem um Senhor de Erath e uma Dama do Norte encontrar a felicidade juntos? - Compre aqui!

Beijos!

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