ENTREVISTA COM AUTORES #130 | Autor Rafael Sales

by - quarta-feira, fevereiro 01, 2023


1 - Como você percebeu que queria ser escritor(a)?
Eu sempre quis produzir arte e trabalhar com cultura, apenas não sabia por qual caminho seguir, qual eu teria afinidade e talento para explorar, então eu me aventurei em muitas verterdes até me encontrar de fato. 
Cantei em corais da igreja, atuei no teatro e tentei, sem nenhum sucesso, produzir uma HQ desde o roteiro até as ilustrações, tudo isso na adolescência e foi nessa época também que conheci o RPG de mesa. Excluindo o fato de cantar, que foi apenas um delírio da minha parte, pois sou desafinado até para o karaokê. Percebi que, em todas essas tentativas de produção de arte, tinha algo que eu sentia certa facilidade e prazer em executar, e era contar e narrar as histórias. Passava horas escrevendo e planejando os roteiros das HQs, histórias dos personagens de RPG e até mesmo criando campanhas para o jogo. Após ler “Semente no Gelo” do autor André Vianco em meados de 2006-2007, foi como se uma “chavinha” tivesse virado na minha cabeça, a partir dali percebi que “sim” eu também poderia ser escritor, criar meus próprios mundos e personagens, e desde então eu “não parei mais”. Com bastante aspas, porque minha trajetória na escrita até aqui foi marcada por diversas “desistências e retomadas” e pausas bastante longas em razão de diversos fatores, mas um padrão que estou determinado a quebrar.

2 - Tem algum personagem favorito? Em modo geral ou do seu(s) livro(s)? Se sim, por quê? O que ele significa para você?
Sou muito apegado aos meus personagens (risos), talvez seja uma herança do RPG, pois até aquele mais secundário eu costumo criar um pequeno background mesmo que não vá para a história final, é importante para mim ter bem definido o passado do personagem, assim consigo visualizar melhor suas motivações, caráter, como ele agiria em determinada situação e por aí vai. 
Mas, escolhendo apenas um, hoje acho que apostaria em Kenneth, protagonista do conto “Sacrifício ao Fogo” da antologia “Silhuetas na Penumbra: As Crônicas dos Mestiços”. 
Kenneth é um tipo de personagem que por muitas vezes senti falta, tanto na literatura, quanto em séries e filmes, ele é um personagem gay, porém fugindo de todo o estereótipo forçado pelas mídias de entretenimento ou servindo apenas como alívio cômico. Em “Sacrifício ao Fogo” existe sim uma certa dificuldade em aceitação sobre a sua sexualidade, mas isso é um segundo plano, pois Kenneth está mais preocupado em se manter vivo diante de um ritual e outras questões mais sobrenaturais

3 - Como foi para você entrar no mundo literário?
Eu comecei publicando poemas, lá em 2010, depois fui para antologias de contos, e por fim, em 2018, publiquei meu primeiro livro solo com a Editora Pendragon. E entrar nesse universo não foi tão glorioso quanto eu imaginava (risos). Em 2012, após uma grande decepção com uma publicação que nunca ocorreu por quebras de contrato e minha falta de conhecimento na época, eu desisti da literatura e de escrever, fiquei ausente durante 5 anos sem produzir absolutamente nada, retornei em 2017 publicando no Wattpad os primeiros contos que hoje formam a antologia “Silhuetas na Penumbra: As Crônicas dos Mestiços” e deram origem a esta série. 
Eu voltei para o mundo literário não só como autor, mas também como designer editorial, focado em diagramação, após tentar publicar “Silhuetas na Penumbra: Semente de Âmbar” de forma completamente independente, o projeto foi levado até a Editora Pendragon por uma das autoras da casa, a Jéssica Albino, e além de conseguir a publicação, firmei uma parceria profissional que já dura quase 6 anos, mas, entre outros motivos mais pessoais, e me fez ficar nos bastidores por muito tempo, só em 2022 retomei as atividades também como escritor. 

4 - Você faz muitas pesquisas antes de escrever uma história?
O universo de “Silhuetas na Penumbra” foi construindo tendo como base o folclore e as mitologias, cosmologia e lendas dos povos originários, como os Guajajara e Guaranis e muitas outras etnias falantes do dialeto tupi-guarani. Então, eu fiz muitas pesquisas sobre esses povos para construir uma mitologia própria para a história, misturando e adaptando em prol da narrativa sem correr o risco de me apropriar de uma cultura ainda viva de pessoas que contribuíram para a identidade da nossa nação, mas infelizmente vivem as margens da sociedade e sofrem com políticas públicas desfavoráveis e muitas vezes genocidas. 

5 - Existem muitas cobranças por parte de seus leitores?
Eu gostaria que existisse um pouco mais, (risos), mas eu compreendo os leitores e o motivo que muitos “me abandonaram”. Eu publiquei meu primeiro livro em 2018 “Silhuetas na Penumbra: Semente de  Âmbar” com uma boa repercussão e resenhas positivas, o livro esgotou no ano seguinte e até tentamos emplacar uma edição em capa dura, para os eventos, mas aí veio a pandemia e os eventos foram cancelados, e eu sumi como escritor. Fiz uma carta aberta nas minhas redes sociais me desculpando e revelando o que me fez tomar essa decisão. Mas se passaram cinco anos desde a minha primeira publicação, e eu não estou no patamar de Beyoncé ou Rihanna para ter um comeback super esperado pelos fãs (risos). 
Vivemos em uma sociedade imediatista e muito veloz, onde são publicados centenas de autores por ano, diversos livros e aqueles que conseguem manter uma constância nas redes sociais acabam sendo mais lembrados. Eu confesso que não aproveitei o “hype” do meu próprio livro, e  fui esquecido e agora tento chegar novamente nos leitores antigos de Silhuetas na Penumbra e encontrar novos para essa série que fiz com tanto carinho. Porém, aqueles que ainda permaneceram me acompanhando já tem me pedido a nova edição de Semente de  Âmbar, que após esgotar em 2019 não teve outra reedição.

6 - Quais são seus projetos para um futuro próximo?
Finalizei a nova versão de “Silhuetas na Penumbra: Semente de  Âmbar”, em agosto de 2022 e agora sigo em contato com a Editora Pendragon para publicar essa nova edição que conta com algumas mudanças na mitologia do livro e algumas cenas novas. A premissa em si não mudou, mas, eu senti a necessidade de recontar a história de Elisa Adágio de uma forma levemente diferente, até para que esse livro seja coerente com o universo que estou desenvolvendo. Parte desse universo já pode ser visto em “As Crônicas dos Mestiços” e, como o planejado, agora sigo na escrita de “Ritos da Criação”, que foi um volume bônus publicado no Wattpad, mas, estou adaptando ele para uma narrativa mais envolvente. Existem outros títulos já rascunhados dentro do universo de Silhuetas na Penumbra, e como sempre digo, não pretendo fazer uma trilogia ou uma saga enorme, apenas histórias que se passam no mesmo universo com personagens diferentes, mitos diferentes e desfechos diferentes. Assim, tanto faz a ordem ou se você só leu um ou outro título de Silhuetas na Penumbra, a proposta é que cada livro funcione de forma independente, assim como é “As Crônicas dos Mestiços” e “Semente de  Âmbar”.

Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Quero agradecer a você, leitor, que acompanhou essa entrevista até o final, torço para que você possa se aventurar nesse universo de fantasia urbana com elementos do folclore e mitologia nativa, e também agradecer a Aline, pelo profissionalismo, empenho e vontade em divulgar cada vez mais a literatura nacional e os pequenos autores.

Sobre suas obras:


Sinopse: Antes do nascimento de uma humana amaldiçoada quando o primeiro ar preencheu seus pulmões, destinada a desempatar a guerra milenar entre Ordem e Caos, algumas decisões e consequências entrelaçaram os caminhos de indivíduos distintos.
“As Crônicas dos Mestiços” reúne os contos de origem de muitos dos personagens apresentados em “Semente de Âmbar”. Neste copilado de histórias você descobrirá que ninguém está imune ao doce sabor do pecado. Como o amor de vidas passadas pôde unir duas criaturas de lados opostos em um conflito milenar. Verá o destino de um exilado e um grupo em fuga se cruzando. Presenciará o começo do cumprimento da promessa feita no início das Eras e conhecerá a maldição lançada sobre uma recém-nascida. O surgimento e declínio daqueles que partiram com a missão de salvar a humanidade da destruição eminente provocada pelas conspirações dos Celestiais e abissais.
Nestes contos, você será transportado para um mundo oculto aos mortais, de seres escondidos nas matas, nas vielas e becos das cidades, sedentos por sangue ou disfarçados de artistas circenses. - Compre aqui!

Sobre o autor:


Rafael Sales é paulistano, formado em publicidade. Já publicou em diversas antologias de contos e poemas desde 2010.
Após uma pausa nada prevista, recomeçou sua jornada na escrita em 2016 e jamais imaginou que ela o levaria a atuar no mercado editorial não somente como autor, mas como designer editorial.
Somente em 2017 concluiu seu primeiro projeto literário, acrescentando diversos elementos do folclore brasileiro e unindo a anjos e demônios, intitulado Silhuetas na Penumbra. A série iniciada no Wattpad ganhou o prêmio "Wattys 2017" na categoria "Contadores de Histórias" e posteriormente "Silhuetas na Penumbra - Semente de Âmbar" foi publicado pela editora PenDragon em 2018, ganhando uma versão especial em capa dura com todos os contos da série em 2019.
Atualmente, Rafael divide seu tempo entre a escrita, os projetos de diagramação para algumas editoras de literatura nacional e autores independentes e design para o nicho de Marketing Digital.


Beijos!

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1 comentários

  1. Muito obrigado por esse espaço maravilhoso onde pude falar um pouquinho da minha jornada. E agradeço também por todo o seu apoio e profissionalismo, Aline. <3

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