ENTREVISTA COM AUTORES #179 | Autor Victor Sousa Silva
No começo, meus sentimentos. Sempre escrevi como forma de desabafar com o papel. Ao longo do meu crescimento pessoal, fui amadurecendo minha mente, que passou a sentir necessidade de falar sobre o que via, sobre o mundo, de forma a expor ideias que julgava importante de serem registradas e compartilhadas. Logo, sempre digo que minha maior inspiração é a própria realidade.
2 - Quais autores ou obras influenciaram seu estilo de escrita?
Destaco quatro: Machado de Assis, em especial seus elementos realistas e sua crítica social; Clarice Lispector, pela epifania reflexiva de grande parte dos seus personagens; José de Alencar e Mia Couto, pelas suas prosas extremamente poéticas. Todos esses elementos são encontrados e, muitas vezes, o ponto central de quase tudo que escrevo.
3 - Como você lida com o bloqueio criativo?
Eu lido com isso com naturalidade. Não vejo por que me desesperar com isso. É algo totalmente normal em certos momentos da trajetória de qualquer autor. Sei que, quando acontece, possuem algum motivo e logo passa. Não me forço a escrever nada sem algo em mente. Não tenho a responsabilidade de produzir algo escrito como um dever, como um empregado em uma empresa. Só me ponho a escrever quando construo o que julgo ser o mínimo de uma ideia e uma história para passá-la. Então, se isso não acontece, não me ponho pra tentar extrair algo do nada.
4 - Quais desafios você enfrentou durante sua jornada como escritor(a)?
Na verdade, não existe nenhum desafio que eu deixei de enfrentar ainda. O maior deles é não ser reconhecido. Muitos tem um certo receio com autores independentes e em início de carreira, e isso impacta diretamente na venda de livros. Vejo que até mesmo muitos de quem se interessa bastante pela minha obra ficam receosos em adquirir meu livro. Sinto que muitos ainda ficam com dúvida sobre valer a pena isso para lê-lo. Por incrível que pareça, as vendas são muito difíceis, e ainda não cheguei nem perto de recuperar a metade do que já gastei para fazer o livro e divulgá-lo.
5 - Você já teve experiências significativas com seus leitores? Alguma história que gostaria de compartilhar?
Sim, com certeza! Todos que leram meu livro e falaram comigo demonstraram ter gostado da leitura e se impressionado com as reflexões que proponho, e isso me dá muita alegria! Quase sempre ficam perplexos com o fato de realmente se reconhecerem na maioria dos contos, como participantes do que trago neles, o que é justamente a proposta da minha obra. Uma, em especial, chegou a chorar lendo um dos contos, e isso me tocou bastante na época. Aliás, toca muito até hoje.
6 - Como é o seu processo de escrita? Você segue uma rotina específica?
Não, não sigo nenhum tipo de rotina específica para isso. A minha escrita vem de pensamentos acerca do que vivo, o que é algo que não segue uma linearidade. Se eu criasse uma rotina para isso, eu tornaria este hábito como uma obrigação e perderia minha essência na escrita. Sendo assim, quando tenho uma ideia importante a ser registrada e compartilhada, passo a trabalhar nela na minha mente. Então, quando a tenho pronta, penso em uma história em que essa ideia possa ser encaixada. E, só quando isso acontece, é que me ponho a escrevê-la.
7 - Qual é o impacto que você espera que suas obras tenham nos leitores?
O real impacto que espero é que reconheçam atitudes e pensamentos que possuem, mas que nunca percebem, que necessitam de uma reflexão. Isto é, que enxerguem que, muitas vezes, o que julgam errado nos outros também é realizado por si. É justamente por isso que meus contos possuem todos os seus leitores (sim, todos) como personagens deles. Sei que muitos não devem acreditar nisso, mas é justamente isso que minha obra faz, por isso que o mais importante para quem a lê é reconhecer-se como agente do que ele mesmo julga nos outros.
8 - Quais são seus planos para o futuro? Você está trabalhando em algum novo projeto?
Já tenho um livro pronto para ser lançado. Em breve, passarei a começar a divulgá-lo. Também tenho o objetivo de publicar romances (aqui me refiro ao gênero textual), livros técnicos sobre minha área, que é a Química, de poemas, etc. Vem coisa por aí, fiquem ligados e me acompanhem.
Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Consumam autores independentes, iniciantes ou qualquer um que não esteja na bolha do "hype". Os melhores livros não são apenas os que está todo mundo lendo e publicando sobre. Pode ser que até mesmo você, que está lendo isso, não perceba o quanto não procura outros autores, outros livros e algo do qual não se fala tanto. Existem muitas obras incríveis que até são bem melhores do que inúmeras bem famosas. Não leia só o que está na bancada de mais vendidos da livraria. Aliás, muitas obras não atingem esse status justamente por subjulgarem-nas. E, acima de tudo, compre um livro sempre que puder. Afinal, um autor tem muitos custos e pouquíssimo ganho por livro vendido. Muitas vezes, só 3 ou 4 reais por cada. Às vezes, menos. Então, isso é muito importante para suas contas baterem e poderem produzir mais.
Sobre sua(s) obra(s):
Sinopse: Aparentemente, apenas um conjunto de contos. Contos escritos ao longo de alguns anos reunidos, finalmente, juntos. A realidade, porém, é mais profunda. Tão profunda que o leitor mergulhará na reflexão de cada um deles, que mostra um pedaço de mundo real no qual está inserido, e se reconhecerá como parte do que terá lido. Ao final, após tanto nadar em tamanha reflexão, perceberá que é mais do que um mero leitor. As surpresas que cada história contada apresentará não são as maiores deste livro. Ao fim de cada conto e, sobretudo, da leitura de todos eles, entenderá de quem e do que se trata o que terá acabado de ler e, dessa forma, viverá a experiência de se enxergar como a parte central da realidade do mundo humano que o livro traz. - Compre aqui!
Sobre o(a) autor(a):
Nascido em Fortaleza-CE, foi à Unicamp morar em Campinas-SP e vive entre as duas cidades. Escritor desde criança, foi amadurecendo sua escrita ao longo do crescimento como pessoa e, hoje, concilia carreira de escritor com a área da Química, dividindo a mente entre conhecimentos aparentemente distintos, como exatas e humanidades, mas que busca conectar e trazer essa conexão ao leitor. Assim, com base em saberes de diversas naturezas, escreve para levar, através de histórias, reflexões importantes sobre o que vive e faz o próprio leitor, que verá, em sua obra, não apenas histórias, mas uma união de elementos trazidos de diversos conhecimentos. Na literatura, Machado de Assis, José de Alencar, Clarice Lispector e Mia Couto são grandes inspirações.
Beijos!
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