ENTREVISTA COM AUTORES #216 | Autor João Marcos

by - quarta-feira, agosto 28, 2024


1 - Qual foi sua inspiração para começar a escrever?
Essa é uma história bem interessantes. Foi uma junção de fatores. Quando criança, eu amava assistir desenhos animados e os clássicos da Disney eram meus filmes favoritos. Um dia eu pensei que eu mesmo poderia pensar e até escrever as continuações de alguns deles. Aquelas histórias me cativavam tanto que eu só pensava nelas. O outro ponto foi algo que aconteceu comigo quando eu fazia a quinta série. Talvez em 2006, 2007, não lembro. Sei que um dia a professora de língua portuguesa pediu para que escrevêssemos um texto sobre uma ilustração colada no quadro. Era um menino e uma tartaruga. Desde então, não parei de escrever.

2 - O que te levou a explorar o gênero gótico em um contexto regional neste novo livro? Como o cenário local influencia a atmosfera da obra?
Isso aconteceu quando eu estava escrevendo o meu livro-reportagem “À Sombra da Gameleira”, no qual conto a história da minha cidade João Lisboa, Maranhão, na perspectiva dos moradores da cidade. As histórias que ouvi, os lugares que visitei, tudo isso corroborou para que eu tivesse uma reflexão profunda sobre a minha identidade. Eu já escrevia fantasia nessa época, mas nunca havia pensando em fazer algo voltado para a minha realidade. Foi então que tive um estalo, uma catarse. Comecei a ver o meu cotidiano como uma possibilidade de fazer a fantasia acontecer e assim parti para uma pesquisa sobre o folclore maranhense. Me deparei com um imaginário rico em histórias de horror, para o gótico, o maravilhoso se tornava real no momento em que muitas dessas histórias eram contadas. O local deu o tom da narrativa e a narrativa revelou o gótico local.

3 - Existe algum personagem ou evento no livro que tenha uma ligação direta com alguma experiência pessoal ou história da sua região?
Minha nossa, sim! Coloquei inúmeras referencias do que vi, vivi e ouvi. Uma delas é a frase: “Fiado só quando este olho piscar”, seguida com um desenho de um olho bem aberto. Passei a vida toda vendo esse tipo de coisa aqui no interior. Outra coisa foi a minha primeira viagem a São Paulo. Me encantei com tudo o que vi e resolvi colocar nesse novo livro. Houve também um momento em que ouvi a história de um homem conhecido como Zé das Cordas (que virou um personagem) de um dos meus entrevistados para o meu livro-reportagem... Enfim, Curacanga é uma mistura, uma sopa boa do que é real e ficcional e de como o regionalismo na literatura pode ser uma ótima oportunidade para se criar histórias bem originais. 

4 - Quais são as suas principais referências literárias para o gênero gótico? Algum autor em especial te inspirou para este projeto?
Muito do que foi para as páginas de Curacanga eu me inspirei em livros da minha região, mas dois deles foram o ponto de virada. O primeiro se chama Repressão e Resistência em Imperatriz (2016) de Adalberto e Valdizar, que diferente de ser um livro de fantasia, conta a história de uma família política que faz parte do desenvolvimento da cidade de Imperatriz, Maranhão e foi de lá que tirei a ideia de que Curacanga se passaria em meio a efervescência da construção da rodovia Belém-Brasília. O segundo se chama Emoções Sentidas (1986) de Raimundo Miranda, um escritor imperatrizense que teve o nome esquecido na literatura do Maranhão. Mas digo uma coisa a vocês: é um livro de uma preciosidade narrativa e de escrita difíceis de encontrar. Lembro que após a leitura de seus contos, lá em 2021, me dei conta de que eu precisava mudar a minha escrita, fazer algo ligado a fantasia regional. Um outro exemplo de escritor que admiro a escrita é do Neil Gaiman e ouso dizer que enquanto eu escrevia meu livro, falava para mim mesmo que eu estava escrevendo o meu Deuses Americanos. Este por sua vez é um dos livros mais intrigantes que li na vida. Gaiman é um grande fã de Edgar Allan Poe, um dos maiores nomes do gótico mundial e que também já li diversos contos. Esta, em resumo, foi a minha base.

5 - Quais são suas expectativas para participar da Bienal do Livro de São Paulo este ano?
As expectativas estão nas alturas! Estive na Bienal do Rio, ano passado, mas como leitor e ainda não consegui mensurar a magnitude do evento. Fui nos dias 7 e 8 de setembro e era praticamente impossível andar pelos estandes devido a presença massiva do público. No entanto, foi uma experiencia maravilhosa. E voltar a Bienal agora como autor, apenas um ano depois, é algo interessante. Eu tinha esse sonho de lançar livros no evento, mas não imaginava que seria tão rápido. Ainda bem.

6 - Como você enxerga a importância de eventos como a Bienal para a divulgação de novos autores e gêneros literários menos explorados no Brasil?
Espaços como a Bienal, além de seu apelo comercial, muito ligado ao mercado editorial, é um local para troca de experiências, de fazer amizades e conhecer o que há de mais novo no mercado. O autor precisa estar nesses espaços. A gente sabe que a leitura no Brasil não anda tão bem e é inevitável o desânimo, só que, no entanto, eu entendo que onde existe escassez, há oportunidade. Acredito muito em algo que ouvi uma vez: o seu colega escritor não é o seu concorrente! Isso é muito real. A classe precisa mais do que nunca se ajudar, cooperar. Sem isso, a gente fica a par das reinvindicações que precisam ser feitas. Um exemplo disso foi quando alguns poucos anos atrás houve a possibilidade de taxar a produção de livros. Um absurdo. Os escritores e todo o mercado editorial pressionou e a possibilidade dessa catástrofe fosse cessada. Quando falo em união, falo disso. De mobilização, de criação de clubes de leitura, da mobilização real e não apenas ancorada em compartilhamento e likes.

7 - Conseguir uma publicação tradicional pela Editora Flyve é um grande marco. Como foi o processo de submissão e o que você acredita que fez a diferença para que seu livro fosse aceito?
Estou muito fez em estar nessa nova fase como escritor. Mas para que eu chegasse a Flyve, tive a ajuda do meu agente literário, o Lívio Meireles da Casa Projetos Literários. Ele viu o potencial da obra e levou até a editora, que não hesitou em abraçar o livro. Acredito que o que fez a diferença nesse processo foi a originalidade que Curacanga carrega. Não estou inventando um gênero e muito menos negando dizendo que sou o primeiro. No entanto, eu vejo a minha obra rodeado de elementos que ainda não foram explorados na literatura maranhense e por mais que tenha sim uma raiz regional, este é um livro que pode ser livro em qualquer lugar do Brasil. Existem sentimentos, angustias e histórias que se repetem independentemente do local onde eu more. É o peso de sermos humanos.

8 - Que conselhos você daria para outros escritores que buscam uma oportunidade de publicação com editoras tradicionais?
É preciso, antes de tudo, ser um escritor que tem certeza do seu valor, de que o seu trabalho é algo que faz a diferença. Isso vai corroborar, além de horas de muito trabalho, escrita, pesquisa e leitura, que o seu texto tenha um diferencial. Depois disso, recomendo que, se puder, busque ajuda profissional, seja um leitor crítico, agente literário ou editor. Pessoas qualificadas podem mudar a rota da sua carreira como escritor. Por fim, mas algo que deve ser feito independente do que foi colocado, viva em comunidade. Escreva, poste, se exponha. O escritor que fica enclausurado, a não ser que você seja o George R.R. Martin, dificilmente será livro. É uma escolha difícil, sei disso, porém, vai valer a pena.

9 - Quais foram os maiores desafios ao longo desse caminho até a publicação e como você os superou?
Escritores tem a mania de acharem que cada texto escrito é uma pérola da literatura mundial. Isso é algo que atrapalha nosso crescimento. É preciso ter humildade para reconhecer o que precisa ser aprimorado dentro da sua escrita. Eu, por exemplo, por vezes sofro desse mal. Às vezes, no entanto, eu odeio tanto um texto que me sinto um escritor medíocre. Escrever é uma constante briga consigo mesmo. As ideias nos perturbam. A reescrita nos fadiga. É preciso um esforço constante para se manter com um mínimo de consciência de si mesmo. 

Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Como ouvi uma vez em uma canção: Caminhar é esperar. Não se realiza nada sem que tenha um mínimo de esforço, mas as gratificações de tal esforço chegam apenas depois de um grande período de espera. A gente se depara todos os dias com um cenário de adversidades. Os pés precisam estar no chão e a cabeça nas nuvens. Eu tenho uma filosofia pessoal na qual eu acredito em que tudo na vida tem um propósito a ser cumprido. O seu é escrever? Não pare nunca. Não sabe ainda? Caminhar é esperar.

Sobre sua(s) obra(s):


Sinopse: Ele corre desesperadamente pela floresta enquanto pensa em como vai sobreviver. Com frio e faminto, ele vaga apenas esperando o pior. E quando descobre ser vítima da traição de seu próprio irmão, Dominik Broughton é levado preso.

Perdido e confuso em seus pensamentos, ele conhece uma jovem que pode ser a chave para o que ele procura. Mas nem todos são confiáveis, pois o poder e os desejos pessoais sempre falam mais alto, mesmo que isso custe a vida de alguém.

Submerso em uma luta interminável, Dominik terá que fazer escolhas e com as próprias forças, tentar ao máximo se manter vivo em meio a uma falida aliança de paz entre os reinos. Os boatos de uma guerra deixam todos sob alerta. E neste momento, magia e política se unem.

Dominik deve decidir entre fugir ou lutar. Vingar a morte do seu pai ou salvar a vida de alguém especial. Um paradoxo infernal, que somente o Círculo de Fogo dará a última palavra. - Compre aqui!


Sinopse: NO VENTRE DELA, OS DOIS HOMENS MAIS FORTES DO REINO FORAM GERADOS.

Coriandra fazia parte do reino de Jusperend e, assim como todos os seus vizinhos, trabalhava juntamente com o marido para se sustentar e pagar os impostos, até que engravidou. A dor de dar à luz dois meninos, um como a noite e outro como dia, foi algo que ela nunca imaginou que iria passar. Porém, aquelas eram crianças especiais. Eram armas. E, mais do que isso: eram o sinal de que o equilíbrio estava ameaçado.

“Espadas Gêmeas” é uma coletânea de cinco contos independentes inspirados no universo do livro “O Círculo de Fogo”, ainda inédito.

Existem mais mistérios, segredos e verdades no mundo dos vivos e dos mortos que se possa imaginar. - Compre aqui!


"O pré-lançamento do livro ocorrerá no dia 14/09 às 15h no Estande da Editora Flyve @editoraflyve na Bienal do Livro SP. Brindes especiais esperam pelos leitores. Não perca!"


Sinopse: Todos os lugares possuem uma narrativa que acompanha as pessoas que moram ali. As vozes são múltiplas e trazem consigo suas experiências, emoções, vivências e fatos que, quando revisitados, reconstroem o passado, tornando-o atemporal.

João Lisboa, emancipado no dia 22 de dezembro de 1961, é um dos 217 municípios do estado do Maranhão. Foi construído por lavradores e sertanejos que vieram em busca de uma nova forma de vida. Hoje com mais de 20 mil habitantes, segundo do Censo de 2010, nasceu como um bairro de Imperatriz, que a 12 quilômetros de distância.

No livro-reportagem “À sombra da Gameleira: histórias e memórias da cidade de João Lisboa”, o leitor terá a oportunidade de visitar o passado do município e descobrir como foi o desenvolvimento cultural, social e geográfico de uma pequena vila que nasceu quando Joaquim Alves da Silva montou um barraco à sombra da copa de uma grande gameleira.

Compre seu exemplar com o autor. Entre em contato pelo Instagram: @jjoamarcos

Sobre o(a) autor(a):


Nasceu em 1997 na cidade de Imperatriz, mas reside na cidade vizinha João Lisboa, no estado do Maranhão. É mestrando em Comunicação Social e formado em Jornalismo, ambos pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). É membro fundador da Academia de Ciências, Letras e Artes de João Lisboa (ACLAJOL).
Na sua vivência no Jornalismo, escreveu o livro-reportagem "À Sombra da Gameleira: histórias e memória de cidade de João Lisboa", que em 2021 ganhou a premiação da lei Aldir Blanc.
No campo da ficção, participa das antologias “Arrependa-se” (2019), “Prenúncio do Medo: Morte” (2020), e “O misterioso assassinato na Mansão Castro” (2023) e organizou a antologia "A Maldição do Tesouro" (2021) e “Contos da Lua Cheia” (2023) pela Peculiar Editora. Em 2022, lançou o primeiro livro de uma trilogia, intitulado de "O Círculo de Fogo".
É produtor de conteúdo digital no Instagram e semanalmente promove debates sobre livros, mídias e cultura. Além disso, é criador do projeto de incentivo a leitura, o Ler Transforma, no qual faz distribuição de livros por escolas públicas do seu Estado. Faz parte da Academia João-Lisboense de Ciências, Letras e Artes (ACLAJOL) É mestrando em Comunicação na Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Beijos!

Você também pode gostar desses posts:

0 comentários