ENTREVISTA COM AUTORES #217 | Autor Jean Filipe Lira
Eu não tive uma virada de chave que me levou à escrita, foi algo muito natural. Como alguém que gostava muito de acompanhar histórias através de filmes, novelas, livros e minisséries, escrever foi uma atividade que comecei a desenvolver ainda criança. A minha família se reunia para ver TV, e acho que eu gostaria de poder contar minhas histórias. Acredito que foi nesse período que dei os meus primeiros passos. A partir disso, muitos fatores influenciaram até que eu decidisse publicar o que escrevo.
2 - Quais autores ou obras influenciaram seu estilo de escrita?
Eu admiro muitos artistas e obras, não apenas na literatura. Contudo, determinar influências é algo difícil de se fazer. O que eu crio é produto do mundo que me cerca, das coisas que me chamam a atenção, que me causam um estranhamento… Muito embora eu não escreva textos autobiográficos e respeite muito a trajetória das personagens dentro de uma história, eu não posso negar que elas são criadas a partir de mim neste tempo em que vivemos. A busca por um estilo próprio é um caminho tortuoso que faz parte do trabalho de todo escritor com apreço pelo ofício.
3 - Como você lida com o bloqueio criativo?
Honestamente não acho que seja algo tão perturbador quanto parece. Há técnicas efetivas para vencer o que chamam de “bloqueio criativo". Porém não é algo que me cause sofrimento porque não me forço a escrever. São necessários tempo e disposição a novas experiências para cultivar algo. Uma árvore não dá frutos o ano todo. Existem outras capacidades que ajudam a formar uma narrativa, não fico refém apenas da imaginação, assim como diversas ações que envolvem a escrita (além do ato de escrever em si) e exigem dedicação do autor.
4 - Quais desafios você enfrentou durante sua jornada como escritor(a)?
Escrever é um ofício! Ele demanda dedicação, é uma espécie de sacerdócio. Os maiores desafios foram aqueles impostos por mim, sou bastante crítico com o que faço. Portanto quando publico algo estou certo de que ele passa exatamente a mensagem que deveria. Talvez por isso eu tenha demorado a publicar, não achava que havia atingido o que buscava como escritor. E não penso que essa busca terminou. Ainda há muito a ser explorado, a criatividade exige movimento.
5 - Você já teve experiências significativas com seus leitores? Alguma história que gostaria de compartilhar?
Recebo alguns relatos de pessoas que se identificaram de alguma forma com um personagem, que lembraram de alguém querido, que ficaram emocionadas com as histórias... Acho essa identificação a coisa mais valiosa, como se o personagem passasse a viver também fora do livro.
6 - Como é o seu processo de escrita? Você segue uma rotina específica?
Eu mantenho um caderno em que anoto tudo aquilo que me chama atenção, escrevo observações, ideias, frases, diálogos. Algumas anotações tornam-se contos, poesias, uma pesquisa; enquanto outras não se desenvolvem. Chego a escrever dezenas de páginas em um dia num ritmo frenético, mas também passo por períodos sem escrever uma linha… faz parte do meu processo. Dedico essa fase para lapidar o que já foi feito. Minha rotina de escrita se divide entre criar e trabalhar os textos, sendo que a segunda atividade é a que consome maior parte do tempo.
7 - Qual é o impacto que você espera que suas obras tenham nos leitores?
Espero que elas contem boas histórias. Acredito no poder que a literatura tem, enquanto arte, de causar mudanças através das pessoas. Mas não escrevo com a intenção de entregar livros assistencialistas. Esse é outro ramo e não é reconhecido como literatura.
8 - Quais são seus planos para o futuro? Você está trabalhando em algum novo projeto?
Sempre estou envolvido com algo novo, e isso me move de certa forma. O Oco do Corpo, meu primeiro livro publicado, tem conquistado seu espaço. Por enquanto estou me dedicando para que ele chegue a mais pessoas e continue rendendo as trocas interessantes que tem proporcionado.
Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Eu deixo uma pergunta: Qual obra (livro, música, filme...) você colocaria em uma cápsula do tempo para as futuras gerações entenderem o nosso tempo?
Sobre sua(s) obra(s):
Sinopse: Nos contos presentes em O Oco do corpo, o autor apresenta-nos a personagens muito singulares. Inquietos, em suas existências diminuídas pelas dificuldades, são desafiados na busca por sentido a partir de um estranhamento.
O peso do tempo, os desejos reprimidos, a moral, o profano e o sagrado, empurram os personagens para o desassossego.
As memórias que orbitam suas angústias entram em um jogo de tensão que entrelaça o familiar e o desconhecido. As relações e a natureza humanas convergem para um ponto em comum: O que o tempo não cura, perdura. - Compre aqui!
Sobre o(a) autor(a):
Beijos!
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