ENTREVISTA COM AUTORES #224 | Autor Heitor V. Serpa

by - terça-feira, setembro 03, 2024


1 - Qual foi sua inspiração para começar a escrever?
Eu sempre gostei de criar histórias, mas a primeira vez que me deu na telha de passar o que estava na imaginação para as palavras foi durante o Ensino Médio. Lembro de uma colega minha meio tímida, escrevendo algo que eu descobri ser uma fanfic de uma série da época... Eu li aquilo, gostei, daí pensei "e se eu fizesse algo assim também?". Escolhi um ambiente que eu era fissurado na época (a série de jogos Resident Evil), joguei uns personagens da minha cabeça no meio do enredo que já tinha um esqueleto formado, repassei pra essa minha galera... e eles adoraram! Foi dali para a internet, e mais leitores apareceram elogiando, querendo mais de mim! Foi uma experiência que eu tive certeza de querer repetir para sempre na minha vida. E, naturalmente, evoluí da ficção de fã para histórias totalmente originais conforme a experiência veio. Minha principal criação foi o Mundo-Prisão, onde se passam histórias como "Aleros" e "Sting". Desenvolvo este universo de fantasia desde 2008.

2 - Quais autores ou obras influenciaram seu estilo de escrita?
De início eu peguei meu norte pelo que era comercial e eu mais gostava, como a escrita de Stephen King (principalmente na sua série "A Torre Negra"), Tolkien que é a grande referência de todo autor de fantasia, etc... Porém, conforme aumentei meu repertório, comecei a me identificar bem mais com a trajetória de nacionais como Graciliano Ramos e Lima Barreto. Este último não só foi meu tema de monografia, como mudou minha perspectiva de como se contar uma boa história: pois Lima Barreto buscava escrever para o maior número possível de pessoas, pouco se importando com tendências populares na elite da época. Ele passava a verdade que havia dentro de si, não tinha medo do ridículo ou do desagrado para defender o que acreditava, e isso dialoga muito com o que busco fazer.

3 - Como você lida com o bloqueio criativo?
Quando o bloqueio surge, normalmente é a hora que dedico mais tempo para a leitura. Entrar em contato com outras criatividades faz maravilhas! Busco fazer isso da maneira mais despretensiosa possível, buscando mais desfrutar de algo novo do que aprender alguma coisa... E se o editor interno estiver mais chato que o normal, eu pulo para outras produções culturais: peças, musicais, filmes, séries. O importante é manter a arte viva até as energias produtivas voltarem.

4 - Quais desafios você enfrentou durante sua jornada como escritor(a)?
Enfrentei o que todo autor ingressante precisa encarar: a desvalorização não só da sociedade como um todo, como a do próprio meio literário. Vivemos num contexto de pouca valorização à Cultura e Educação. Aqui no país, escrever livros não é visto como profissão, mas como vaidade, ou seja, é "para quem pode". Nisso, naturalizam-se coisas inaceitáveis, como o escritor ter de pagar para trabalhar, seja em modelos abusivos de pretensas editoras, seja como independente que precisa arcar com toda a cadeia produtiva do livro (revisão, diagramação, capa, etc). Eu nunca desvalorizarei qualquer profissional do livro, mas acho preocupante como todos os envolvidos na indústria tem portifólios bem procurados (e pagos!), enquanto do autor, responsável pela matéria-prima que alimenta a todos, é esperado que ele tenha caixa para investir e pouquíssimas expectativas de retorno. Minha maneira de contornar estes desafios é ser de tudo um pouco: aprender a montar capas sozinho com banco de imagens em domínio público, usar o próprio software da Amazon para diagramar meus e-books, ser bem mais minucioso nas revisões... Quando sobra alguma coisa no orçamento da casa, eu dedico ao essencial para um bom projeto: revisão profissional e, se possível, artes comissionadas, como a que o Clayton Kaito fez para a capa de "Vitória no Inferno". Para pagar as contas, vou sobrevivendo de trabalhos paralelos enquanto aguardo o crescimento dos frutos da escrita.

5 - Você já teve experiências significativas com seus leitores? Alguma história que gostaria de compartilhar?
Nossa, muitas! Já tive pessoas me odiando porque matei determinada personagem, já recebi exigências de continuações, principalmente do meu primeiro romance, o "Aleros" (com direito a "dar final feliz" pra personagem x ou y!). Já encontrei gente que criou uma imagem mental poderosa de mim, acreditando que sou "malvadão" como meus personagens, e se decepcionou a olhos vistos quando descobriu que o Heitor da vida real é um imbecil que faz vozinha pra brincar com seis gatinhos.

6 - Como é o seu processo de escrita? Você segue uma rotina específica?
Eu tento produzir um pouquinho que seja todos os dias, e expando este conceito de produtividade para além de palavras escritas. Tem dia que rende mais um rascunho para a construção de meus universos de fantasia, tem vez que vem detalhe-chave para o desenvolvimento de um roteiro, e tem vez que eu marco lista de artigos interessantes para desenvolver ideias. Um período específico do ano que eu gosto de usar para acelerar a escrita em si é o NaNoWriMo: um desafio global de escrever 50.000 palavras durante todo o mês de Novembro. Já são três manuscritos produzidos assim! O período para revisar e reescrever o material bruto é bem maior do que trinta dias... mas ter o material-base pronto já ajuda bastante! 

7 - Qual é o impacto que você espera que suas obras tenham nos leitores?
Meu objetivo principal é contar uma boa história. Se valer o tempo de leitura o suficiente para quem me lê guardar os personagens no coração, considero missão cumprida! Eu busco, além disso, passar uma mensagem sobre algum aspecto de nosso mundo. Em "Aleros", por exemplo, eu uso a trama de gladiadores para criticar a glamourização da violência como espetáculo. Em "Vitória no Inferno" eu falo, entre memes e robôs gigantes, na inevitabilidade do sofrimento e na busca por um esquecimento que pode não existir. 

8 - Quais são seus planos para o futuro? Você está trabalhando em algum novo projeto?
Atualmente, estou com uma conta no Apoia-se, onde leitores podem ter acesso a conteúdo inédito! Eu falo mais da minha construção de universo, curiosidades, detalhes pessoais, contos exclusivos e mais! Foi no Apoia-se que saiu meu terceiro livro: uma história seriada chamada "Dragão e Titã", spinoff dos eventos de "Aleros". Comecei a publicar capítulos desta novela de forma gratuita no Wattpad depois de adiantar bem o enredo para meus inscritos! O final para este livro já está escrito e revisado, será postado de acordo com o calendário estabelecido de um episódio novo por semana, com adiantamento de três episódios para assinantes!
Tenho roteiros prontos para mais histórias seriadas, e também tenho pelo menos quatro histórias engatilhadas para o Mundo-Prisão, sendo duas delas diretamente ligadas a "Aleros", e uma delas um conto em progresso sobre um mergulhador, prestando homenagem a um tio falecido! Também tenho planos para uma sequência de "Vitória", mas que precisa de mais polimento no roteiro.

Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Leitores, tudo o que fazemos é para vocês, e por vocês! Sem sua atenção, apenas escreveríamos para as paredes. Todo mundo aqui é parte fundamental da produção cultural, e eu agradeço demais cada visualização e comentário! Continuem acreditando em nós, autores nacionais!

Sobre sua(s) obra(s):


Sinopse: Havia uma cidade dominada pelo medo. A ordem se mantinha através de quadros de recompensa: quem se desviava do caminho tinha o rosto espetado em cortiça para alguém clamar por sua alma e por uma fração do tesouro de sangue. O nome da cidade era Kirash, sua ordem era o assassinato, e o tesouro de sangue veio de Sting, um vulto com olhos esmeralda que se cansou da corrupção de uma terra sem leis na noite em que uma caçadora lhe alvejou. Todos conheciam a história. Ninguém conhecia a verdade.

"Acho que as coisas são assim, a palavra do vencedor é a que conta...".

Veja a lenda e depois conheça o garoto tentando sobreviver à Kirash nesta crônica do Mundo-Prisão: o universo de fantasia onde o ódio dos homens alimenta demônios. - Compre aqui!


Sinopse: Vitória era uma adolescente de 15 anos, antes de encerrar sua trajetória no mundo de forma trágica... Agora, Vitória é a comandante da Décima Sexta Legião da Soberba, pois o "outro lado" tem guerras de robôs gigantes travadas em nome de lordes infernais. Nesta releitura da Divina Comédia, os círculos de cada pecado são planetas, o espaço é o campo de batalha, referências pop são ilegais, e os condenados recebem tratamentos criativos, além da simples tortura.

Vitória precisa de uma solução final, e em sua busca pelo livramento da agonia da existência, ela descobre mais do que gostaria sobre a origem de tudo. Incluindo as suas próprias. - Compre aqui!


Sinopse: Existe um mundo em que a violência é glorificada. Gladiadores são lendas vivas, e a maior delas é Aleros: um jovem gênio que ascendeu dos duelos de rua. Poucos sabem que sua genialidade veio de um ato terrível: o roubo da técnica de Thay, uma guerreira forçada a se tornar sua mestra e amante após perder uma luta. Ele mergulha na vida de estrela para esquecer a própria monstruosidade, mas alguns fantasmas se recusam a morrer... e o Prisioneiro, um mal ancestral, avança com seu plano. Esta é uma história de areia e sangue, onde a barbaridade é espetáculo e o ódio alimenta demônios. Esta é a história de Aleros, parte do Mundo-Prisão. - Compre aqui!


Sinopse: Dragão é um guerreiro aposentado. Titã é um filho de Lhor. Os dois são casados. Tudo vai bem, até uma novata desencadear uma revolução nas rinhas de Ore. Nesta história situada no universo de fantasia do Mundo-Prisão, uma região conhecida no livro "Aleros" é detalhada em níveis viscerais, mostrando como alguns monstros não podem descansar, máscaras não duram para sempre, e mudanças rápidas exigem ossos quebrados. - Leia de graça aqui!

Sobre o(a) autor(a):


Autor brasileiro independente de Fantasia, Heitor V. Serpa escreveu "Aleros", "Vitória no Inferno" (finalista do Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica 2022), dentre outros. Além de participar em zines, antologias e fazer roteiros de HQs; dá aulas, faz traduções, produz conteúdo no apoia.se, joga videogame e agarra felinos nas horas vagas.

Beijos!

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