ENTREVISTA COM AUTORES #238 | Autor Ed Saraiva Jr.

by - segunda-feira, dezembro 30, 2024


1 - Qual foi sua inspiração para começar a escrever?
Minha inspiração vem da observação profunda do mundo ao meu redor. A complexidade da sociedade e os mistérios da mente humana me fascinam e, ao mesmo tempo, me inquietam. Escrever se tornou uma maneira de dar voz a essas reflexões e inquietações, traduzindo em palavras aquilo que me surpreende, assusta e instiga.

2 - Quais autores ou obras influenciaram seu estilo de escrita?
Vários autores tiveram um impacto significativo no meu estilo de escrita, mas acredito que as obras de Edgar Allan Poe são as mais influentes para mim. Ele possui uma habilidade única de explorar os aspectos sombrios da mente humana e retratar a sociedade de uma maneira que ainda ressoa nos dias de hoje, como em contos célebres como O Corvo, O Gato Preto e Os dentes de Berenice, O Coração Delator. H.P. Lovecraft também me inspirou, trazendo o medo do desconhecido através do horror cósmico em histórias como O Chamado de Cthulhu, Nas Montanhas da Loucura e A Cor que Caiu do Espaço. Já Stephen King, o grande mestre do terror contemporâneo, modernizou o gênero com obras marcantes como O Iluminado, It: A Coisa e Cemitério Maldito, que mergulham no psicológico e no sobrenatural de forma magistral.

3 - Como você lida com o bloqueio criativo?
A leitura é uma das minhas principais ferramentas para lidar com o bloqueio criativo. Geralmente, dedicar cerca de trinta minutos à leitura ajuda a desbloquear minha mente, permitindo que as ideias que estavam ocultas comecem a fluir. Além disso, ouvir música – especialmente clássica ou músicas que carregam histórias profundas – também me faz refletir e desbloqueia várias portas criativas que estavam fechadas. Outro recurso que utilizo é assistir séries, pois elas me ajudam a mergulhar em narrativas diferentes e muitas vezes trazem o impulso necessário para superar o bloqueio.

4 - Quais desafios você enfrentou durante sua jornada como escritor(a)?
Ser escritor no Brasil já é uma tarefa desafiadora, e ser escritor de terror é ainda mais complexo. Lembro de minha mãe me questionando: “Filho, por que você não escreve algo romântico?” (risos). Tentei seguir o conselho dela, mas acabei escrevendo contos que trazem uma perspectiva sombria dos romances contemporâneos. Não tem jeito, sou um autor de terror e aceito isso com orgulho.

Um dos grandes desafios é encontrar e conectar-se com o público certo. Apesar de ser um nicho, o público de terror é muito fiel e engajado, mas a questão é: como alcançá-los? Como atrair leitores que ainda não conhecem meu trabalho? A resposta que encontrei foi através dos bookstagrams (perfis literários no Instagram). Recomendo essa ferramenta para escritores iniciantes. Ela permite que você se aproxime dos leitores e troque ideias, o que é fundamental para crescer e fortalecer sua base de leitores.

5 - Você já teve experiências significativas com seus leitores? Alguma história que gostaria de compartilhar?
Tenho várias histórias legais com meus leitores, mas uma em particular me marcou bastante. Uma vez, eu estava na sala de espera de um consultório odontológico, quando percebi que a moça que estava sentada do outro lado estava lendo um livro. Ao olhar mais de perto, vi que era Jardim para Borboletas Mórbidas. Fiquei em choque e pensei: “Não é possível!” Ela chegou a me olhar, franziu o cenho, mas logo voltou para a leitura. Eu, como sou bastante tímido, fiquei quieto e perdi a oportunidade de interagir com ela. Mesmo assim, foi um momento especial, pois saber que meu livro estava circulando e sendo apreciado por alguém me encheu de alegria.

6 - Como é o seu processo de escrita? Você segue uma rotina específica?
Meu processo de escrita segue um fluxo relativamente comum entre os autores. Primeiro, estruturo um roteiro detalhado, que me serve como guia durante a criação. Depois, estabeleço a meta de escrever mil palavras por dia, sempre acompanhadas de uma xícara de café. Geralmente, estipulo um prazo de 6 a 8 meses para concluir o primeiro rascunho. Após terminar, deixo o livro “descansar” por um tempo e, em seguida, faço uma revisão mais aprofundada antes de enviá-lo para um revisor profissional. Essa pausa é essencial para que eu possa olhar para o texto com uma perspectiva mais crítica e objetiva.

7 - Qual é o impacto que você espera que suas obras tenham nos leitores?
Espero que minhas obras provoquem uma reflexão profunda sobre a decadência humana e como os verdadeiros monstros são muitas vezes moldados por contextos sociais e emocionais. Quero que os leitores se sintam desafiados a explorar as sombras dentro de si mesmos e ao seu redor, compreendendo que o terror nem sempre vem do sobrenatural, mas pode emergir das escolhas, dos traumas e das circunstâncias que enfrentamos. Através de minhas histórias, desejo provocar um incômodo que vá além do medo momentâneo e faça o leitor questionar até onde o ser humano pode ir quando é empurrado ao limite – afinal, os piores horrores frequentemente têm raízes na própria essência humana.

8 - Quais são seus planos para o futuro? Você está trabalhando em algum novo projeto?
Atualmente, estou em plena pré-venda de Jardim para Borboletas Mórbidas no site da editora Crypta Books, disponível em capa dura e com uma nova roupagem – ainda mais sangrenta, visceral e macabra que a edição anterior. Para o ano de 2025, já tenho dois novos projetos roteirizados e prontos para serem publicados, e estou ansioso para apresentá-los ao público, muito provavelmente durante a Bienal do Livro, no Rio de Janeiro.

Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Aos leitores do Lost Words e futuros leitores, quero agradecer por embarcarem comigo nessas jornadas sombrias. Continuem apoiando os autores nacionais e mergulhem sem medo nas profundezas do terror, porque ainda há muitos mistérios a serem revelados e pesadelos a serem enfrentados. Preparem-se, pois o que está por vir será ainda mais perturbador e surpreendente!

Sobre sua(s) obra(s):


Sinopse: No crepúsculo da Segunda Guerra Mundial, em uma fazenda isolada nas montanhas da Romênia, o pequeno Nicolae se vê sozinho após o súbito desaparecimento de sua mãe. Os dias se arrastam, e a fazenda, antes acolhedora, é envolta por uma atmosfera inquietante. As sombras se alongam, e coisas estranhas surgem no jardim da propriedade, presságios de um mal que o espreita na mata. Nicolae percebe que não está mais sozinho e que a floresta oculta uma presença faminta, que se aproxima a cada noite, rompendo o frágil véu que separa o mundo real de algo muito mais antigo e aterrorizante.

Enquanto isso, um grupo de oficiais nazistas, desesperados por poder absoluto, realiza rituais sombrios, quebrando antigos pactos e libertando forças aprisionadas há séculos. O equilíbrio é perturbado, e os terrores que habitam o coração da floresta começam a avançar em direção à fazenda, atraídos pela solidão de Nicolae. Para sobreviver, ele precisará enfrentar os segredos ocultos de seu lar e descobrir o que realmente aconteceu com sua mãe. No entanto, algumas verdades são mais terríveis que os pesadelos, e aquilo que ele desenterrar pode condenar tudo ao seu redor. - Compre aqui!

Sobre o(a) autor(a):


Ed Saraiva Jr. é um escritor brasileiro de terror e fantasia sombria, nascido em 23 de janeiro de 1991, em Belém do Pará. Durante a faculdade de Jornalismo, ele escreveu seu primeiro conto para um trabalho acadêmico, e foi incentivado por professores a investir na criação de textos ficcionais, dando início à sua jornada no mundo literário.

Seu livro Jardim para Borboletas Mórbidas (2018), uma obra de horror cósmico e dark fantasy, foi aclamado pelo público e pela crítica, sendo apontado pelo blog “Toró de Letras” como um dos destaques literários do ano e um dos mais vendidos na capital paraense.

Além disso, Ed foi um dos vencedores da Primeira Edição do Concurso Literário da Editora Folheando com o conto O Acalentar da Morte, que integrou a antologia A Voz da Palavra (2018). Também participou da antologia A Face do Medo com o conto A Catedral dos Mortos e da Quarta Edição da Revistinha Pulp com A Cabra-Cega. Sua escrita explora o limite entre o real e o sobrenatural, criando mundos que arrepiam e fascinam os leitores.

Beijos!

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