ENTREVISTA COM AUTORES #239 | Autora Jaslin Alexandra

by - segunda-feira, dezembro 30, 2024


1 - O que inspirou você a escrever "Jovens Ilusões"? Você pode compartilhar um pouco sobre seu processo criativo ao desenvolver a trama e os personagens?
Jovens Ilusões é a reedição de um texto que eu tinha escrito quando tinha 14 anos. Agora, com mais de 30, adaptei aquele enredo adolescente para incluir  críticas político-sociais na trama, de forma que as ações e pensamentos de cada personagem está fortemente conectado com a realidade em que ele vive. Na versão atual, eu levei bastante tempo construindo cada personagem. Todos os principais têm uma ficha (não publicada) com suas características físicas (que na maior parte das vezes, não é explicitada, mas que pode ser inferida pelas ocorrências da história), gostos, contexto e composição familiar e etc. Além disso, usei fatos que estavam acontecendo na nossa sociedade por volta dos anos 2020 para ambientar a história.

2 - Você aborda temas como bullying, pressão social e relações familiares conturbadas de forma sensível. Como você escolhe quais temas incluir em suas histórias, e por que acredita que são importantes para a juventude brasileira?
Eu escolho justamente temas que estão em discussão na sociedade ou que julgo que devessem estar por impactarem no desenvolvimento dos jovens, na formação de seu caráter e na consolidação de sua personalidade. O tempo de reflexão é próprio da adolescência e da juventude e acredito que a literatura possa contribuir imensamente para essa construção, mais inclusive do que outras formas meramente contemplativas e passageiras. Ajudar a construir a mente de cidadãos críticos e responsáveis é ajudar a melhorar a sociedade.

3 - A diversidade de personagens em "Jovens Ilusões" reflete a complexidade da sociedade brasileira. Qual é a sua intenção ao representar diferentes realidades e experiências dentro de uma mesma narrativa?
Excelente colocação! Eu quis de fato reproduzir essa complexidade e contrapor as diversas realidades e percepções de cada personagem sobre sua trajetória e as trajetórias alheias. E com isso, espero trazer essa reflexão para o cotidiano do leitor! Espero imprimir no leitor esse pensamento empático que usa a alteridade, em detrimento do egocentrismo, para avaliar as situações das diferentes realidades que nos cercam. 

4 - Você conseguiu retratar bem a dualidade entre a imagem que os personagens apresentam e seus pensamentos internos. Como você trabalha essa complexidade ao construir seus personagens?
Eu observo muito as pessoas e meus próprios pensamentos. A diferença entre o que somos, o que gostaríamos de ser e o que apresentamos para a sociedade é gigante. É um trabalho árduo e diário tomarmos consciência disso para chegarmos cada vez mais perto da concretude de sermos nossa melhor versão. Mas muitas pessoas não fazem esse exercício e simplesmente têm um discurso completamente desconexo da ação sem a menor ambição de aproximá-los.

5 - As ilustrações foram um destaque na sua obra. Qual foi a sua visão ao incorporá-las e como você acha que elas complementam a narrativa?
A ideia das ilustrações foi principalmente de dar leveza ao texto, já que é um livro "grosso". Então, apesar do feedback que tenho recebido de ser uma leitura fluida, achei necessário trazer essa complementação visual, ainda mais levando em conta como os jovens (e todos nós) estamos cada vez mais acostumados a passar muito tempo vendo imagens prontas, ao invés de imaginá-las na nossa mente. Inclusive, pensando nisso, alguns desenhos refletem justamente postagens em redes sociais. Porém, tive o cuidado de ilustrar apenas personagens cujas características físicas são evidentes na história, deixando os demais para o trabalho de criação imaginativa do leitor.

6 - Como você lida com o feedback dos leitores, especialmente quando eles se identificam profundamente com os desafios enfrentados pelos personagens?
Eu fico muito feliz! Tenho tido retornos de profunda identificação de diferentes leitores com diferentes personagens e também tenho recebido relatos de leitores que identificam alguns personagens com pessoas conhecidas delas. É muito satisfatório, pois era justamente essa a ideia: através de uma história de ficção, promover o reconhecimento e a reflexão sobre a vida real.

7 - Que conselhos você daria para jovens escritores que desejam abordar temas sociais em suas obras, como você fez em "Jovens Ilusões"?
Estude, pesquise e ouça críticas construtivas dos seus leitores beta. É muito ruim ler uma história que não passa verdade, na qual se percebe que o autor tentou abordar um tema sobre o qual não entende. E não espere grandes retornos! O nicho de escritor independente é de muito esforço e pouco retorno! Esforce-se para fazer boas relações com pessoas da área (outros autores e influencers) e, se o dinheiro não vier, pelo menos você fez bons amigos, fazendo o que gosta. 

8 - Você está trabalhando em novos projetos ou livros? Pode compartilhar um pouco sobre o que vem pela frente?
Sim, acabei de enviar meu conto "Doce Amargo" para a próxima antologia do Vira-lata Editorial e ajudei minha mãe no texto dela "Retalhos". Além disso, gostaria de finalizar meu texto Maria Brasil, que inicialmente foi escrito na forma de conto, para publicação em livro até o final deste ano. Veremos!

Sobre sua(s) obra(s):


Sinopse: Em uma escola de elite, várias situações da realidade brasileira atual se esbarram e conflitam na vida de um grupo de adolescentes, de suas famílias e daqueles que os cercam. Acompanhem a história pelos pensamentos de cada personagem e descubra se eles vão conseguir se entender ou se eles nem fazem questão disso! Um enredo com pitadas de humor, mas com grandes doses da conturbada e real vida das diferentes camadas da nossa sociedade. ATENÇÃO, não se espante se encontrar muitas semelhanças com o Brasil contemporâneo. - Compre aqui!


Sinopse: Vinte e uma crônicas tentam explicar o "inexplicável" apoio de parte do eleitorado brasileiro a um candidato preconceituoso, ineficiente e desprezível. Prepare-se para altas doses de sarcasmo e de ironia para abordar as hipocrisias e ódios atualmente aceitos e normalizados em uma sociedade cheia de "inexplicáveis". - Compre aqui!


Sinopse: Esta antologia do Vira-lata Editorial reúne contos e poemas de diversos autores contemporâneos brasileiros e traz críticas à sociedade brasileira do presente, do passado e até do futuro. No conto "Família: a base de tudo", de Jaslin Alexandra, a xenofobia, o racismo, o machismo, a homofobia e os mais diversos preconceitos comuns em nossa sociedade são colocados à mesa de um almoço de domingo para serem digeridos (ou não) no seio familiar. - Compre aqui!

Sobre o(a) autor(a):


Millennial de 1987, criada em uma família cheia de contradições, mas também com diversos privilégios. Engenheira de Alimentos não praticante e ex-servidora pública concursada. Feminista, antirracista, vegetariana, agnóstica, vacinada e contra homo e transfobia.  Apaixonada por literatura e línguas, especialmente a brasileira, escreve histórias que mais parecem a realidade contemporânea brasileira.

Beijos!

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