ENTREVISTA COM AUTORES #256 | Autor Guilherme de Lima

by - terça-feira, abril 22, 2025


1 - Qual foi sua inspiração para começar a escrever?
A escrita, pra mim, surgiu de maneira muito íntima, quase secreta. Comecei escrevendo diários escondidos nos computadores dos meus pais, como uma forma de lidar com o mundo ao meu redor. A inspiração veio quando, relendo esses textos, percebi que muitas das dores que eu colocava ali não eram só minhas. Eram dores coletivas, partilhadas. A partir daí, nasceu o desejo de transformar aquilo em ficção, de dar forma literária ao que antes era só desabafo.

2 - Quais autores ou obras influenciaram seu estilo de escrita?
Eu sou muito atravessado pela literatura brasileira contemporânea. Gosto de autores que escrevem com verdade, que não têm medo de tocar nas feridas. A Aline Bei e o Stênio Gardel são duas grandes inspirações pra mim — a forma como eles lidam com a dor, com a linguagem, com o corpo e com o afeto me ensinou muito sobre o que pode ser dito (ou sugerido) na literatura. É difícil citar nomes sem ser injusto, mas costumo dizer que tudo o que leio me atravessa de alguma forma — mesmo aquilo que não me agrada tanto, me ensina. E também sou muito influenciado pelas vozes ao meu redor, pelas histórias que ouço como professor, como amigo, como alguém atento ao mundo.

3 - Como você lida com o bloqueio criativo?
Aprendi que não adianta forçar. Quando o bloqueio vem, é porque algo dentro de mim está pedindo silêncio. Costumo me afastar do texto, sair para caminhar, conversar comigo mesmo — às vezes em voz alta mesmo. A solidão e o silêncio são partes fundamentais do meu processo. Só depois de um tempo de respiro é que consigo voltar a escrever com verdade.

4 - Quais desafios você enfrentou durante sua jornada como escritor?
Acho que o maior desafio foi o da exposição. Escrever é, inevitavelmente, se mostrar. Mesmo quando escrevemos ficção, nossos sentimentos estão ali, à flor da pele. Lançar meu primeiro livro foi um misto de apreensão e alívio — uma sensação de ter cumprido algo importante, mas também de estar me colocando no mundo com toda a vulnerabilidade que isso exige.

5 - Você já teve experiências significativas com seus leitores? Alguma história que gostaria de compartilhar?
Muitas. Acho que as mais marcantes foram os relatos que recebi de leitores que se sentiram representados ou compreendidos por “As flores do lençol”. Pessoas LGBTQIAPN+ que passaram por violências semelhantes às do Otávio e encontraram no livro um lugar de acolhimento. Mas também leitores que, mesmo sem viver essas dores na pele, disseram ter entendido mais sobre elas. Esses retornos me emocionam demais — é quando sinto que a literatura cumpriu seu papel.

6 - Como é o seu processo de escrita? Você segue uma rotina específica?
Não sigo uma rotina rígida, mas preciso de dois elementos essenciais: boas leituras e momentos de solitude. Como professor, passo o dia todo cercado de gente e ideias, o que é maravilhoso, mas também exaustivo. Então preciso de um tempo só meu, pra organizar as ideias, conversar comigo mesmo e encontrar o caminho da história. É um processo muito intuitivo.

7 - Qual é o impacto que você espera que suas obras tenham nos leitores?
Espero que meus livros sejam espaços de afeto e de escuta. Que toquem quem precisa se sentir visto, e que provoquem reflexão em quem precisa ouvir outras vozes. Escrevo sobre dores, mas também sobre resistências. E acredito que, se um leitor se sente um pouco mais acolhido depois de fechar um dos meus livros, já valeu a pena.

8 - Quais são seus planos para o futuro? Você está trabalhando em algum novo projeto?
Sim! Estou escrevendo meu segundo romance, ainda de forma calma e cuidadosa. Pretendo publicá-lo em 2026. Não posso revelar muito ainda, mas posso adiantar que também será um romance escrito em frases, com bastante drama e violência, ambientado em pequenas cidades do sul de Minas Gerais. Estou animado com o que está nascendo.

Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Gostaria de agradecer por estarem aqui, por se abrirem à literatura e às histórias que nascem do afeto e da dor. Escrever é um ato de cura, mas também de coragem. Espero que, ao lerem o que escrevo, vocês se sintam mais vivos, mais tocados, mais humanos. E que, de alguma forma, encontrem um pouco de si nas minhas palavras.

Sobre sua(s) obra(s):


Sinopse: Amar é intrínseco ao ser humano. Amor de pai e mãe, de amigo, de família. Encontrar esse amor pelo caminho é, muitas vezes, natural. Não neste caso. “As flores do lençol” traça uma linha do tempo da vida de Otávio, alguém que teve que lutar contra a crueldade e violência vindas de sua própria família, principalmente quando precisa ir morar com seus tios Américo e Eleonor, após a perda de seus pais. A jornada não é fácil. Adversidades parecem fazer parte da estrada sinuosa que é viver na pele de quem está desesperado para amar e não recebe um pingo de afeto. Em meio a livros e paisagens, Otávio busca por autoconhecimento, autoaceitação, perdão e amor, não o romântico, o próprio. - Compre aqui!

Sobre o(a) autor(a):


Guilherme de Lima é nascido em Guaratinguetá e residente da cidade de São José dos Campos, onde leciona História e Geografia para o Ensino Médio. Desde jovem viveu em constante contato com a arte: aprendeu a tocar clarinete aos 12 e fez parte de bandas e orquestras sinfônicas do Vale do Paraíba e da capital paulista até seus 20 anos, quando ingressou na faculdade de História. Seu amor por literatura emergiu no Ensino Médio, viveu com livros na mochila para acompanhar seus passos, e, sua vontade de leitura o levou à universidade, lugar em que estabeleceu contato com a literatura acadêmica. Através de sua escrita, procura fazer florescer o amor. “As flores do lençol” é seu primeiro romance.

Beijos!

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