ENTREVISTA COM AUTORES #293 | Autor Ivaldo Meneses Pimenta
1 - Qual foi sua inspiração para começar a escrever?
Minha inspiração é a vida. Vejo o mundo, as pessoas, o dia a dia, tudo como acontece e nem sempre alcançando aquilo que está dentro de nós. Existe uma questão cultural no mundo de que a razão é superior a emoção. Eu discordo, e essa foi a tônica de Aurora, o romance, colocando que a vida, o destino, o amor, especialmente, rouba tudo aquilo que planejamos. E isso me motivou, e motiva, a passar uma mensagem para as pessoas enquanto ainda dá tempo de serem felizes, de viver intensamente, tudo que está dentro de nós. Ainda temos um amanhecer. Ainda temos uma Aurora enquanto estamos por aqui.
2 - Quais autores ou obras influenciaram seu estilo de escrita?
Existem três livros que me marcaram profundamente. E tais livros eu os li na minha juventude, aos meus vinte anos, idade perigosa para ler tais obras, porém, ainda necessário. O primeiro deles foi Crime e Castigo, de Dostoievski, pois, aqui eu compreendi que a culpa pode fulminar nossa alma e, nesse sentido, avaliar melhor a residência desse sentimento é uma forma de se conduzir na vida. Um justo equilíbrio entre a ação e aquilo que lhe possa aprisionar. O segundo livro, para mim, foi avassalador, que é A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera. Como eu disse, ler isso aos vinte anos é essencialmente perigoso, pois, esta é a idade das paixões, e elas podem perpetuar para além do tempo ao ler obras como essa. Eu senti no romance de Kundera que existe uma linha tênue entre o amor intenso e a vulgaridade. Porém, em uma sociedade tão pudica com valores, por conta da nossa herança europeia cristã, talvez, deixa-nos muito no campo dos julgamentos, das acusações e da culpa. Mas a potência de agir quando você encontra um rosto diante de ti, que lhe rouba, lhe toma, lhe leva, faz da sua alma uma substância que só exige ficar em um lugar, que é aquele do ser amado, esse sentimento, essa energia, essa coisa de amor transcende qualquer moral comezinha, algo que nos impede de sermos felizes. Então Kundera, do modo dele, em seu romance, me ensinou que somente vale a pena a amar ser for avassalador, visceral, algo que não se entende. Foi isso que inspirou a escrever Aurora além, é claro, dos perigos dos vinte anos, idade que me propiciou conhecer de forma profunda aquela que roubou não só a mim, mas também o jovem estudante de direito, Rafael. Estou falando de Isabela, a Coroada, a mulher de pele alva, de cabelos além da alça, com um sutil movimento e um perfume natural. Eu a amo, simplesmente... E, para fechar a terceira obra, digo que O Morro dos Ventos Uivantes rasgou minha alma com o romance de Heathcliff e Catherine. Emily Bronte foi uma alma sensível. E essas são pertencentes a quem sabe amar. E ela deixou isso claro no livro. É o que eu tentei colocar nas linhas de Aurora. Eu amo Aurora!
3 - Como você lida com o bloqueio criativo?
Olha, bloqueio criativo eu lido dialogando com ele. O bloqueio é o medo, é o escritor desacreditar nele por instantes. Mas escrever, como tudo na vida, é como andar de bicicleta. Não era para aquilo acontecer. Você olha para o chão, para as duas rodas, e racionalizada demais e, desse jeito, você cai. Contudo, se você simplesmente pedala, feito um menino, mais rápido que o tocar do sino, embalando letras como se fossem notas, divertindo com isso, sem ficar sozinho, na companhia da articulação de frases, o bloqueio vai embora porque o escritor fica. E é isso que eu digo pra mim: eu ando de bicicleta. Eu dou voltas nas letras. Eu circulo em volta de mim.
4 - Quais desafios você enfrentou durante sua jornada como escritor(a)?
Desafios? Todos, rs. Escrever não é fácil, pois, o mundo lhe persuade a bater cartão de ponto, a cumprir deveres da chefia, a sorrir nos dias de tristeza. Depois do livro pronto, sua arte precisa ser apresentada, levada, como se leva um filho para escola até ele atingir a idade adulta. Vender o livro é desafiador, mas, ainda mais desafiador é, a leitura do livro comprado que, muitas vezes, vira objeto de decoração nas estantes de casa. Apesar disso, eu sou um otimista, um Dom Quixote, pois, se você pensa muito no destino não aproveita a travessia. E, como disse Guimarães Rosa, a vida acontece é na travessia. Estou vivendo a escrita! E ela tem feito de mim uma pessoa que expressa seus sentimentos, alguém que não se segura quando está diante de quem ama. Estou feliz!
5 - Você já teve experiências significativas com seus leitores? Alguma história que gostaria de compartilhar?
Tive sim experiências com leitores que me fez ainda mais acreditar em mim mesmo. Uma delas, posso dizer, foi ver minha esposa chorando ao concluir a leitura de Aurora. Percebi que existem verdades na vida que atravessam eras - ela sentiu a dor de Rafael e Isabela. Um outro recorte que lhe posso dizer foi com meu ex-professor de direito que ficou inquieto após ler a obra e queria, por tudo, compreender, quem era a Coroada, Isabela. Entreguei um sorriso pra ele e disse que ela é única. E, por fim, uma outra experiência que tive com leitores foi de uma amiga escritora que, inicialmente, disse que não leria a obra por ter por pano de fundo a ditadura militar brasileira de 1964 mas, ao iniciar a leitura, ficou louca com aquilo que está lá e isso vem acontecendo até hoje, quando conversamos. Escrever é mágico. E eu agradeço, muito, pela força da vida ter me permitido isso.
6 - Como é o seu processo de escrita? Você segue uma rotina específica?
Minha rotina é acordar cedo, caminhar, fazer o café de casa, ler as mensagens e notícias e colocar uma música pra ouvir. Lembro do que foi minha vida, do que está sendo, dos presentes do mistério dado a mim, e começo a escrever. As poesias eu inicio sempre com uma palavra dada no título e sigo compondo até sentir que ela me tocou. Precisa tocar. As crônicas eu penso durante a semana no que vou escrever até surgir um tema. Quando eu encontro eu vou lá brincar com isso. Agora, o romance, ah, o romance, aí é coisa séria. Você não convida a Menina para sentar no banco da praça se não for sério, não é verdade? Então, o romance eu dedico minha alma, minhas energias, tudo o que está em mim até ele ser concluído. E não sigo um roteiro para nada disso. Não tenho técnica. Tenho minha intuição, um pouco de coragem guardada, a volúpia de sentimentos e saudades. Sou canceriano, o signo por natureza emotivo. Não me faça chorar!!! rsrsrs
7 - Qual é o impacto que você espera que suas obras tenham nos leitores?
O impacto que eu espero é que eles sejam felizes, a partir da mensagem deixada em Aurora, por exemplo. Que amem! Que não percam tempo. Digam o que sentem para a pessoa. Digam... A vida é breve e nenhum orgulho pode ser empoderador da letargia ou do medo. Eu nunca tive medo de dizer meus sentimentos. Sempre os disse, independente das questões morais, do que as pessoas iriam pensar, do que iam dizer de mim. Então, o conselho que eu dou, se eu posso ser atrevido a esse ponto é: perde tempo não. Tem alguém esperando você se abrir. E isso é lindo... Eu acho que eu amo demais...
8 - Quais são seus planos para o futuro? Você está trabalhando em algum novo projeto?
Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Meus planos é continuar escrevendo, independentemente dos obstáculos da vida. E quero fazer isso até o fim da minha vida. Estou com um segundo romance pronto, cuja temática é primeiro amor, luto na infância e vidas passadas, obra que espero lançar no ano de 2026. Além desse, estou escrevendo um livro de poesias, um de crônicas e vou retomar a escrita de um terceiro romance, após concluir meu mestrado. Então o plano é: novas histórias surgirão. Assim é a vida. E ela é linda, como Isabela é...
Sobre sua(s) obra(s):
Sinopse: Isabela nasceu em Céu Pequeno, cidade do interior de Minas Gerais. Foi estudar Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1964. Ao chegar lá, com todas as dificuldades próprias aos estudantes, Isabela tenta um emprego que lhe permita estudar. Consegue com a Sr.a Salarz, a chefe da biblioteca, a ocupação de bibliotecária. Amante de literatura
e apaixonada por Política, Isabela era ainda ativista, feminista e comunista em uma época dura para o país — o golpe militar de 1964 impôs ao Brasil uma ditadura de vinte anos.
Isabela era tenaz, voraz, extremamente sensual e uma beleza única, singular, digna de ser fotografada ao entardecer na praia. Mas a Senadora, como também é conhecida, era cuidadosa com seus sentimentos e detentora de uma invejável razão. Anotava, planejava
e organizava toda sua vida com maestria e inteligência. Discursos impetuosos, vorazes e corajosos, combinados a uma voz rouca que soava como música, delineavam a grandeza e beleza de Isabela. Aos amores nem o número do sapato, algo que somente poucos poderiam saber. Cinderela? Não. A Coroada era uma Mulher única, própria de uma nova categorização, quem sabe, um novo livro. Mas Isabela iria amar repentinamente. Tomou posse dos sentimentos de Rafael, mas, pouco a pouco, democraticamente, foi deixando o Amor Acontecer. Nessa derrubada de regime, nessa luta contra o regime, Isabela vai viver o seu romance. E a vida nos entregará mais uma forma de amar. Poesia que falará. Você que não aguentará. Eu que me rendi. Coroada és. Seja! - Compre aqui!
Beijos!
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