ENTREVISTA COM AUTORES #209 | Autor Renato Aparecido Rodrigues
1. Como surgiu seu interesse pela poesia alemã, especialmente pelos temas góticos e fantasmagóricos?
Pelos temas góticos e fantasmagóricos, foi uma espécie de atração espontânea, pois desde a infância, tenho fascínio pelo sombrio e noturno. Quando criança, ainda não lia por hábito, o interesse literário apenas ocorreu no fim da adolescência, mas me lembro de adorar cinema "gótico" (adaptações de ficção romântica ou contemporânea considerada gótica), como "Entrevista com o vampiro", baseado em Anne Rice, versões substancialmente fiéis de Drácula e Frankenstein, como a de 1992 e a de 1994, respectivamente, "Raça das trevas", baseado em Clive Barker, entre outros filmes. Essas películas passaram em emissoras tradicionais brasileiras, durante os anos 1990.
Pela poesia alemã gótica, romântica ou expressionista, o interesse deu-se, inicialmente, pelo fascínio com traduções de textos do poeta alemão Gottfried August Bürger, magistralmente feitas por Alexandre Herculano, as quais encontrei num volume de uma edição de suas obras completas. São versões de baladas, um tipo de poema narrativo que faz parte da tradição lírica alemã, o qual relata frequentemente eventos fantásticos ou não, de teor trágico, macabro. Fiquei admirado com a balada, e constatei que havia pouquíssima propagação dela em língua portuguesa. Na época, não conhecia, não era familiarizado com o alemão, e aos poucos, despertou-se em mim, a vontade de aprender o idioma, mas sobretudo, a morfossintaxe poética germânica. Sempre fui de tendência autodidata, e a partir disso, iniciou-se um longo processo de maturação pela busca da melhor "técnica" que eu deveria adotar na tradução; sou de um perfeccionismo doentio pela conservação de certos aspectos da obra original, como conteúdo e rimas. Não tenho formação acadêmica, e minha relação com o leitor tem de pautar-se pela transparência: tudo o que publico, é bilíngue. O leitor é quem me julgará, se sou digno ou não de confiança. Não sei dizer se possuo uma deformidade profissional, porém me atenho a questões de natureza lexical, semântica e linguística de tudo que verto.
2. Quais foram os principais desafios que você encontrou ao traduzir a obra?
De modo geral, creio que os desafios encontrados não se refiram à obra original, mas ao acesso a informações disponíveis sobre um dos protagonistas da obra: Hugo Steiner-Prag, um ilustrador praguense brilhante com raríssima abordagem biográfica e artística no Brasil.
3. Como foi o processo de pesquisa histórica para escolher as ilustrações dos poemas?
Até então, eu não tinha lançado nenhuma obra traduzida, cujos textos dispusessem de ilustrações da edição original. Havia em mim, enorme desejo de publicar livros ilustrados, mas eu queria executá-lo com propriedade, e ao fazer extenuantes pesquisas, descobri o livro "Gespenstische Balladen" de 1924, com gravuras destinadas à seleta de poemas nele presentes, os da tradução. E na descoberta, surgiu o nome de um esquecido ilustrador judeu praguense, cuja arte, além de influenciar o então emergente Expressionismo alemão, "apenas" impactou na concepção do cultuado filme "Nosferatu", de 1922. Uma descoberta e tanto.
4. Quais são suas expectativas para o impacto de "Poemas Macabros" no público brasileiro?
Trata-se de um impacto desconhecido, pois busco publicizar o material pelos meios viáveis, e aos poucos, estou analisando se é literatura de nicho ou não, embora a obra tente dialogar com leigos e acadêmicos.
5. Você já tem planos para futuros projetos de tradução? Poderia nos dar uma ideia do que podemos esperar?
Já tenho um projeto em conclusão. É uma antologia de poemas e contos do alemão Theodor Körner. E há também o interesse de, a longo prazo, trazer ao português, diversos poetas ou baladistas de língua alemã desconhecidos ou famosos, com pouco ou nada vertido no Brasil.
6. Na sua opinião, o que torna a poesia gótica e fantasmagórica alemã tão fascinante e relevante para os leitores contemporâneos?
Muitos desses textos são bastante antigos, com vários a passar já de dois séculos. Porém, a temática deles mantém-se atual. No caso das baladas de Heine, há alguns dos elementos mais excitantes aos apreciadores de horror, como pesadelos, magia negra, loucura, fantasmas, entidades demoníacas, vampiros, redivivos, personagens sinistros, e outros componentes inquietantes. Baladas como a pré-romântica "Lenore" de Gottfried August Bürger, incendiaram o continente europeu em fins do século XVIII, sendo traduzida aos mais variados idiomas. Samuel Taylor Coleridge, autor de "A balada do velho marinheiro", familiarizou-se profundamente com a literatura alemã, antes de compor tal obra, aliás, uma balada.
7. Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Agradeço o espaço concedido a mim, e a confiança daqueles que deram e dão uma chance ao que realizo como profissional da escrita.
Sobre sua(s) obra(s):
Sinopse: Heinrich Heine (1797-1856), escritor alemão de origem judaica, de vida bastante atribulada em decorrência do antissemitismo que sofreu e de outras causas, destacou-se notoriamente na poesia lírico-amorosa, mas também vagou por obscuros meandros passionais, interagindo com o onírico, o soturno e o macabro. Nesta antologia, costurada de variados poemas, evidenciam-se dois traços habituais na obra heiniana, a ironia e a tragicomédia, porém, tingidas de elementos típicos do chamado Romantismo negro, como a melancolia, o pessimismo, a morbidez, o fantasmagórico, o demoníaco, o grotesco e o irracional. Nesses versos, sombrios contos folclóricos, diferentes espíritos e entidades malignas, um caso singular de vampirismo, e até, incrivelmente, aspectos lúgubres de tráfico negreiro – aliás, uma possível inspiração para Castro Alves – são explorados por Heine.
Hugo Steiner-Prag (1880-1945), igualmente judeu a Heine, foi um visionário gravurista de litografias, designer gráfico, cenógrafo e educador praguense. Pertenceu ao lendário grupo Jung Prag (Praga Jovem), formado de jovens artistas e escritores interessados por questões místicas e ocultistas, entre eles, os escritores Gustav Meyrink (1868-1932) e Rainer Maria Rilke (1875-1926), e o ilustrador Richard Teschner (1879-1948). Radicando-se em território alemão, estabeleceu uma multifacetada carreira de prestígio, assumiu destacados postos nos meios acadêmico e editorial, e promoveu a arte do livro, engajando-se na organização de importantes exposições internacionais. Notabilizou-se ao ilustrar O Golem, de Meyrink, um marco gráfico alemão – e um dos alicerces do então emergente Expressionismo –, cuja influência alcançou obras como o filme Nosferatu, de 1922. - Compre aqui!
Sinopse: Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), em sua obra, abordou diferentes temas de diferentes campos (o religioso, o filosófico, o lendário, o passional, etc.), e nesta compilação, trago-vos sua poética ambientada no cenário obscuro dos confins infernais, apresentada em dois textos primordiais: Prosérpina – Um Monodrama (Proserpina – Ein Monodrama) e A Descida de Jesus Cristo aos Infernos (simplificação do original Poetische Gedanken über die Höllenfahrt Jesu Christi). O primeiro, expõe os desabafos melancólicos da deusa bucólica romana do título, raptada pelo deus Plutão, e obrigada a viver conjugalmente nos domínios dele, isto é, a sina de uma condenada imortal às profundezas; o segundo, traz explanações sobre a lendária ida de Cristo aos recônditos avernos, pelo resgate de almas, isto é, o trajeto espontâneo do Filho de Deus ao abismo, a livrar almas sentenciadas à condenação eterna. Tais textos permitem um confronto de conceitos antagônicos: a resignação e a insurgência, a condenação e a libertação, a desilusão e a esperança. - Compre aqui!
Sinopse: Durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), um poeta germânico retratou em seus versos, os traumáticos horrores advindos dela, com uma linguagem tingida de matizes góticos, na qual o grotesco e o sacro se amalgamam de modo magistral. De formação barroca, Andreas Gryphius, tal poeta, acrescentou aos típicos antagonismos dessa literatura, o elemento macabro. - Compre aqui!
Sinopse: O que Goethe tem a dizer de especial, sobre almas? Sobre cristandade, Schiller, um literato cuja obra poética voltou-se à Grécia Antiga e a outros assuntos mundanos? Autores que se dedicaram ao horror, como Johann August Apel? Esta obra, caros leitores, faz-nos um convite: tentar decifrar a essência cristã, do sentimento de imortalidade proposto por Ludwig Kosegarten, passando pelos versos polemicamente confessionais de Friedrich Klopstock, à religiosidade morbidamente medieval de Andreas Gryphius. - Compre aqui!
Sinopse: Eu, caros leitores, vos convido a experienciar o que registrei aqui. Os mais variados sentimentos, as mais variadas sensações vos surgirão. Deturpar realidades e contextos, é o meu propósito. - Compre aqui!
Sobre o(a) autor(a):
São-manuelense do estado de São Paulo, sou, há mais de uma década, servidor da educação municipal de Botucatu, atuando na conservação de acervo bibliográfico e material tecnológico escolares, e assessorando pedagogicamente docentes e alunos em atividades que envolvam leitura, propagação de cultura e manuseio de aparelhos de informática.
Beijos!
0 comentários