ENTREVISTA COM AUTORES #102 | Autor Gabriel Santamaria
1 - Como você percebeu que queria ser escritor?
Penso que o desejo de ser escritor tenha surgido em mim no mesmo instante em que percebi a existência do talento. Quando isso ficou claro, ou seja, quando notei que era capaz de escrever histórias, e escrever com qualidade, artisticamente, digamos, nasceu ao mesmo tempo o desejo de me dedicar à literatura.
Claro que essa descoberta foi antecedida pelo hábito da leitura. Nesse ponto, minha trajetória é semelhante à de outros escritores. Também eles, em geral, foram bons leitores antes de serem bons autores.
O fascínio de ler um livro foi seguido pelo frenesi de escrever, tornar-me criador de enredos, e naturalmente também ter a perspectiva de ser lido pelas pessoas.
2 - Tem algum personagem favorito? Em modo geral ou do seu(s) livro(s)? Se sim, por quê? O que ele significa para você?
Se me pergunta a respeito da literatura genericamente falando, sim, realmente tenho alguns personagens que considero paradigmáticos, como Dom Quixote ou Raskolnikov ou Riobaldo, por exemplo.
Quanto a meus próprios livros, diria que me entusiasma a criação de antagonistas. Não é fácil criar um bom antagonista porque, na maioria das vezes, lidamos com maldade, defeitos de caráter, baixezas morais, etc. Mas é interessante que eles existam porque refletem aspectos sombrios da alma humana.
Mas para ficar em um personagem específico dos meus livros, creio que escolheria Glauco Valentim, o protagonista de O Evangelho dos Loucos. Isso porque existe algo de mim dentro dele. Trata-se de um escritor em crise existencial, tentando redescobrir a si mesmo em um mundo que não compreende muito bem, e que, no fundo, também não o compreende. Isso dá a esse personagem consistência humana.
3 - Como foi para você entrar no mundo literário?
Refere-se a um círculo literário onde convivem escritores, trocando impressões a respeito da arte literária? Diria que não cheguei exatamente a ter esse tipo de experiência. De fato, conheci poucos escritores em minha vida, ao menos de forma íntima e pessoal.
Agora se a questão se resume a entrar em contato com a literatura, o universo dos livros, etc., isso se deu ainda na adolescência quando comecei a vasculhar bibliotecas, tomando conhecimento de obras clássicas e outras mais populares. Com o tempo, acredito que fui aprendendo a me movimentar nesse tal mundo literário.
4 - Você faz muitas pesquisas antes de escrever uma história?
Faço pesquisas constantemente sobre diversos assuntos que me interessam como literatura, filosofia, religião, esoterismo, psicanálise e ciências naturais. Escrevo todos os dias durante uma hora e meia, em geral. O resto do tempo, se não estou trabalhando, estudo.
Quando surge uma ideia, geralmente está vinculada aos estudos que realizo. Então a pesquisa se encontra praticamente pronta, e só me resta procurar alguns detalhes.
5 - Existem muitas cobranças por parte de seus leitores?
De verdade não. Fui aos poucos conquistando um grupo de leitores que não é extenso, mas parece ser fiel. Mesmo sozinho, como autor independente, acredito ter vendido quase mil exemplares. Não é fácil porque as pessoas não conhecem as obras de escritores independentes, então geralmente estão se arriscando.
Recebo ocasionalmente opiniões bastante positivas de alguns desses leitores, e noto que meus livros conseguem despertar interesse, e suscitam a possibilidade de reflexão.
Quando recebo essas resenhas, digamos assim, observo que os leitores conquistados com muito esforço têm ótima capacidade de interpretar textos literários, e frequentemente se expressam muito bem.
Isso é algo que me deixa profundamente satisfeito.
6 - Fale um pouco sobre sua forma de criação... Possui alguma mania na hora de escrever?
Penso que a inspiração é o princípio do processo criativo. E ela pode surgir a qualquer momento, é um flash que atravessa o pensamento, e faz as coisas terem sentido. Depois a questão é anotar essa inspiração, e trabalhar a estrutura narrativa. Também é importante saber se a inspiração se presta ao gênero do romance, conto, poesia, ensaio, etc.
Por outro lado, nem tudo é pura inspiração. Geralmente elaboro um esboço daquilo que tenciono escrever. Isso pode demorar algum tempo. Penso na texto como um todo: começo, meio e fim. Quando as coisas estão claras, e sei exatamente como a obra se desenvolverá, daí então começa a parte mais saborosa que é basicamente o processo de escrita.
Não costumo interromper o que estou criando porque não sei para onde a trama me levará. Desde o começo estou sabendo, então dificilmente me ocorrem bloqueios.
7 - Quais são seus projetos para um futuro próximo?
Continuar escrevendo...
Tenho muitas ideias em meus arquivos, logo, desejo colocar todas no papel. Antes publicava um livro por ano, agora acredito que possa publicar ao menos dois.
Também penso em criar cursos online sobre esses temas de estudo, porém, falta-me tempo.
E viajar naturalmente. Isso me entusiasma! Trabalhar como psicanalista em atendimento virtual me possibilitou ter uma boa renda e mobilidade. Primeiro quero conhecer alguns lugares no Brasil e mais tarde viajar novamente ao exterior. Claro, quando conseguirmos sair dessa loucura do coronavírus.
Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Embora estejamos vivendo tempos duvidosos, em que a sombra da morte paira sobre a cabeça das pessoas, e os políticos nem sempre honram a confiança que os cidadãos depositam sobre eles, acredito que a humanidade ainda terá um futuro glorioso.
Penso que superaremos as dificuldades, reencontraremos a verdadeira essência espiritual de nossa natureza, e viveremos nesse mundo por muitos milênios.
Continuem buscando o conhecimento, e se aventurando no território incrível da literatura.
Algumas das suas obras:
Sinopse: Há no protagonista de O Evangelho dos Loucos a sensação angustiante de se encontrar dividido entre a existência que pretendeu deixar para trás e a nova realidade que jamais alcançou. Padecendo essa situação, ele tenta reatar os laços com o mundo circundante, mas os signos todos que compõem o cenário externo parecem ter perdido qualquer significado. Sem solução que pareça racionalmente aceitável, deixa-se enfim conduzir pelo mistério e pela extravagância de personagens que o convidam a ingressar em um teatro fantástico. Neste romance, Gabriel Santamaria revela o itinerário de um ser humano que, pretendendo ultrapassar as fronteiras comuns de sua existência, perde-se durante a jornada. Somente a descoberta de tudo aquilo que sempre foi essencial conseguirá resgatá-lo.
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Em O Arcano da Morte, Gabriel Santamaria cria um enredo policial diferente, onde os conflitos pessoais do protagonista ameaçam aprisioná-lo em uma situação sem saída.
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Sobre o autor:
Gabriel Santamaria nasceu em 1977.
Seu nome de batismo é Gabriel Viviani de Sousa, mas adotou Santamaria como pseudônimo literário em referência à sua devoção católica. Seu primeiro livro publicado foi o romance O Evangelho dos Loucos, seguindo-se da coletânea de poemas Destino Navegante e do livro de contos Assim Morre a Inocência. Depois vieram No Tempo dos Segredos (romance), Para Ler no Caminho (crônicas), O Arcano da Morte (romance policial), O Saber Silencioso das Coisas (poesias), A Hora do Demiurgo (romance policial) e O Eu Suposto e Suas Variações (ensaios).
Com formação em psicanálise clínica, desenvolve também estudos paralelos nas áreas da filosofia, literatura, teologia, esoterismo, entre outras.
Embora seja católico, sua obra aborda a natureza humana a partir de diversas perspectivas.
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Beijos!
2 comentários
Você merece ser reconhecido,seus escritos säo valiosos.Parabéns.
ResponderExcluirEu sou apaixonada por tudo que você sempre faz por nossa literatura nacional. Apresentar autores e autoras, trazer conhecimento!
ResponderExcluirMuito, muito obrigada sempre!
Adorei conhecer um pouco mais desse autor que sim, é bem elogiado no mundo literário e que eu particularmente, já quero conhecer os livros!!
Beijo
Angela