ENTREVISTA COM AUTORES #220 | Autor Leandro Domingos

by - sexta-feira, agosto 30, 2024


1 - Qual foi sua inspiração para começar a escrever?
A Manu. Acontece que conheci uma garota especial em 2019 e desde então ela vem me inspirando em muitos “departamentos”. Na época, eu escrevia sobre cultura pop – cinema, séries de TV, quadrinhos, livros -, mas ela sabia que eu tinha uma formação literária clássica, com leituras de Homero, Shakespeare, Tolstoi, Nabokov, etc. Então, disse: “Em vez de ficar rabiscando listinhas, por que não começa a escrever? Tenho certeza que alguém vai ler”.

2 - Quais autores ou obras influenciaram seu estilo de escrita?
Amo literatura policial, mas minhas influências estão em um passado distante. Bem distante, aliás. “Macbeth”, de William Shakespeare, por exemplo, à parte toda a riqueza da tragédia, pode ser visto como um ótimo “policial noir”, com uma femme fatale bem definida e que serviu como modelo de perfídia para muitos escritores. Os americanos Dashiel Hammett e Raymond Chandler; James Cain e Cornell Woolrich; Elmore Leonard e James Ellroy também são prediletos. Não dá para esquecer a falsa simplicidade de Hemingway e o nosso Rubem Fonseca, único brasileiro porque não quero ser omisso ao citar alguém vivo.

3 - Como você lida com o bloqueio criativo?
Se existe um bloqueio criativo, ainda não fomos apresentados. O que falta é tempo para sentar e escrever. As histórias estão todas prontas na minha cabeça. Neil Gaiman incluiu em “Sandman” uma biblioteca de livros sonhados, mas nunca escritos. Parei de sonhar e decidi deixar impresso no papel cada sonho ou pesadelo que tive.

4 - Quais desafios você enfrentou durante sua jornada como escritor?
A autoestima, sem dúvida. E novamente cito a Manu. Ela me convenceu a escrever, mas não apenas isso. Foram muitas páginas rabiscadas com a caneta vermelha, rasgadas ou simplesmente abandonadas. Se não fosse ela me dizendo que “está ruim”, acho que nunca chegaria em algo “bom”, que acabou aprovado por editoras. Não tenho dinheiro para publicar meu próprio livro e precisei esperar anos até que a editora Vila Rica apostasse nele. Sou muito grato.

5 - Você já teve experiências significativas com seus leitores? Alguma história que gostaria de compartilhar?
Sim, cheguei na biblioteca e encontrei uma menina no site da Amazon comprando “Enquanto Estamos no Escuro”. Larguei “sou o cara que escreveu”. Ela me encarou meio sem acreditar. Tirei a identidade da carteira e mostrei. Ela riu, é claro. Conversamos por cinco minutos. Foi algo inesperado, porque estou começando e não imaginava que algo assim pudesse acontecer.

6 - Como é o seu processo de escrita? Você segue uma rotina específica?
Assisti alguns vídeos de escritores tratando do “processo de escrita” e de programas criados para desenvolver tramas e roteiros. Quem me conhece, sabe que ando com um monte de folhas de papel Chamequinho rabiscadas, que posteriormente viram personagens, tramas e livros. As ideias vão surgindo e vou jogando na papelada solta. Então o que me ajudou mesmo foi ler “Sobre a Escrita”, do Stephen King, que além de ser uma leitura apaixonante ensina que qualquer um pode usar experiências pessoais e se aventurar pelo mundo das letras.

7 - Qual é o impacto que você espera que suas obras tenham nos leitores?
Comecei a escrever com a intenção de jogar merda no ventilador. A ideia é essa. Colocar no papel aquilo que, como jornalista, venho observando há duas décadas. Embora tenha criado o que chamam de “distopia” sobre um Brasil literalmente no escuro, ela tem os pés cravados em um País bem real de injustiça social, violência e corrupção política. O leitor pode até não acreditar que policial X faria isso ou aquilo, mas o que acabou no papel tem muito não apenas da minha própria experiência na cobertura jornalística, mas também da vivência como menino pobre criado na vila.

8 - Quais são seus planos para o futuro? Você está trabalhando em algum novo projeto?
O próximo livro está na revisão. Chama-se “Bola no Chão”. Começa em uma tarde de clássico do futebol entre dois clubes do interior gaúcho. Minutos antes da partida começar, o massagista do time da casa, o Bola, cai duro no meio do gramado. Alguém matou o Bola e todos no estádio são suspeitos. Parece Agatha Christie, mas não é, já que a trama avança com sexo e punições violentas. Além de “Bola no Chão” em revisão, estou escrevendo sobre um crime perfeito e conduzindo uma pesquisa de uma trama policial ambientada na São Paulo dos anos 50.

Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Sim, que deem uma chance a “Enquanto Estamos no Escuro”. O livro editado pela Vila Rica está um capricho só e quem leu, não se arrepende. Diverte e faz pensar, dizem. Já chamaram de “soco no estômago” e “leitura obrigatória”, mas também brigaram, se revoltaram e xingaram personagens, trama e autor. Acho que no fundo, ninguém quer viver no escuro para sempre.

Sobre sua(s) obra(s):


Sinopse: Imagine ficar sem luz? Imagine viver sem o conforto de um banho quente? Ou sem poder ligar a televisão? Ou ainda sem o sinal instantâneo do aparelho celular e internet? Imagine longas e escuras noites se repetindo dia após dia.

A trama de "Enquanto estamos no escuro" acompanha o casal Isabela e Davi, que se esforça para permanecer unido após sete anos de casamento; a jovem estudante Adèle, que tenta se reerguer após a morte inesperada da mãe em um acidente; e o repórter Eduardo, que busca inspiração em uma profissão que já o desiludiu há anos. O destino de cada um muda quando um misterioso ataque atinge o sistema de distribuição de energia elétrica do Brasil, lançando a todos em um cenário transtornado pela escuridão.

Embora repleto de crítica social, "Enquanto estamos no escuro" é construído como um suspense policial contemporâneo e garante uma visão panorâmica ao leitor de tudo o que acontece na vida da população de um Brasil distópico e, ao mesmo tempo, próximo da realidade. Sua narrativa dinâmica é envolvente e nos garante pequenas surpresas e reviravoltas a cada capítulo. - Compre aqui!

Sobre o(a) autor(a):


Meu nome é Leandro Domingos. Trabalho como jornalista há 20 anos no Rio Grande do Sul. Participei de uma oficina de contos como primeira experiência no mundo das letras há dois anos, antes de escrever uma novela policial que serviu como uma espécie de ensaio para “Enquanto Estamos no Escuro”.

Beijos!

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