ENTREVISTA COM AUTORES #296 | Autor L. Z. X. Maia

by - quarta-feira, novembro 19, 2025


1 - Qual foi sua inspiração para começar a escrever?
Acredito que todo leitor aficionado por literatura sonha um dia em escrever. Eu era um leitor e agora escrevo. Para mim, um processo mais do que natural. No entanto, eu era um tanto melindroso. Queria seguir os passos de Saramago, por exemplo, que só começou a escrever para valer depois dos 50 anos, quando achou que tinha bagagem e conhecimento o suficiente para se aventurar nessa empreitada. Isso mudou quando eu me dei conta que posso morrer antes do 50. O cemitério está cheio de sonhos enterrados; não queria ser mais um. 

2 -  Quais autores ou obras influenciaram seu estilo de escrita?
Um já citei. Saramago. O Evangelho Segundo Jesus Cristo, para mim, é um monumento artístico e filosófico. Mas muitas outras obras me influenciaram. Memórias Póstumas de Brás Cubas, por exemplo, é o livro que mais me marcou. Costumo dizer que eu era uma pessoa antes de lê-lo, e, ao terminá-lo, era outra. Também tenho uma grande paixão pelas obras de J.R.R. Tolkien (li quase todas) e Dostoievski. Outros que me são muito caros são: Ursula Le Guin, Asimov, Haruki Murakami, George Orwell (1984 é o livro que me fez amar Ficção Científica), Aldous Huxley, Jorge Luis Borges, Clarice Lispector, George R. R. Martin (autor que conheci pessoalmente e tenho autógrafo — sim, vou me gabar mesmo), Guimarães Rosa, Bernard Cornwell, Friedrich Nietzsche, Elena Ferrante e muitos outros. Todos eles, acredito, contribuíram um tanto para meu estilo.

3 - Como você lida com o bloqueio criativo?
Isso pode ser um pouco polêmico, mas não acredito em bloqueio criativo. Às vezes empacamos, ficamos desmotivados ou desinteressados pelo que estamos escrevendo, mas criatividade nenhuma fica bloqueada. Ela não é uma torneira que pode entupir. Isso vem da ideia de que a literatura — ou a arte em geral — é movida por inspiração ou uma vontade divina. Arte é trabalho, e como qualquer trabalho, exige compromisso. Criatividade é justamente a capacidade de resolver problemas com os recursos que temos. É usar o simples para solucionar o complexo. Se um escritor está com a “criatividade bloqueada”, ele precisa perguntar a si mesmo se o que o atrapalha é, de fato, a história que está escrevendo ou um problema externo. Bloqueio nenhum resiste a bom condicionamento físico, saúde mental em dia, noites bem dormidas e disciplina.

4 - Quais desafios você enfrentou durante sua jornada como escritor(a)?
Enfrentei o desafio que todo escritor enfrenta: lidar com as prioridades do dia a dia. Trabalho, família, estudos. Se você não organiza seu tempo, a escrita sofre. Hoje consigo conciliar lazer e ocupação sem muito drama, escrevendo quase todos os dias.

5 – Você já teve experiências significativas com seus leitores? Alguma história que gostaria de compartilhar?
A grande maioria das minhas experiências com leitores foi positiva. A mais memorável, sem dúvida, foi o dia em que um grupo de leitura aqui da minha cidade, Manaus, me chamou para um café da manhã para discutir meu livro. Foi incrível, não só porque pude falar pessoalmente com leitores sobre a minha narrativa e meus personagens, mas porque conversei sobre temas e assuntos que só pude abordar comigo mesmo por mais de dois anos. Escrever um livro é uma atividade muito solitária, então, quando a oportunidade de falar sobre ele surge, o assunto e a empolgação transbordam.

6 - Como é o seu processo de escrita? Você segue uma rotina específica?
Eu chamo meu processo de escrita de “Viagem sem roteiro”. Um híbrido assimétrico entre o escritor jardineiro e o escritor arquiteto. Isto é, não planejo minha história rigidamente ou elaboro um roteiro fechado, mas também não monto a narrativa sem um norte. Antes de começar uma história, já penso no final, nos destinos dos personagens e no tema. Claro, não me acorrento a isso e muitas vezes deixo os acontecimentos e personagens me levarem (às vezes até torço para que eles superem o destino que lhes dei), mas sempre me oriento pelo final e pela mensagem que quero passar. É como se o final fosse meu “destino”, os personagens (portadores da mensagem) minha “bússola” e a narrativa e os acontecimentos “a viagem”.

Sobre minha rotina, escrevo de segunda a sexta, sempre que termino minhas obrigações do trabalho — quanto mais produtivo sou, mais tempo tenho para escrever.

7 - Qual é o impacto que você espera que suas obras tenham nos leitores?
O de sempre: espero que gostem e se entretenham das mesmas formas que me diverti e fui feliz ao escrever essas histórias.

8 - Quais são seus planos para o futuro? Você está trabalhando em algum novo projeto?
Estou escrevendo o último livro da minha trilogia, a saga Syntagma. Esse terceiro livro, chamado Deus do Nada, ocupa hoje 100% da minha atenção. Claro, penso nos projetos seguintes, inclusive em livros únicos que não estejam atrelados a uma saga extensa ou supercomplexa, mas, por enquanto, isso está apenas no reino das ideias. Quando a saga terminar, pensarei com mais cuidado nisso. Mas ideias não faltam, todas bem empolgantes.

Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Ah, que leiam. Leiam sem parar. E, é claro, deem mais chances a autores nacionais. Vão se impressionar com a qualidade que vão encontrar, se se permitirem a isso.

Sobre sua(s) obra(s):


Sinopse: E se a humanidade acabasse e os únicos sobreviventes fossem androides?

Fim das Religiões é uma história sobre o legado da humanidade e o colapso do futuro. Sobre personagens perdidos, mutilados pelo ódio, e sobre o amor, incompreendido pelos que já não estão mais vivos. É um livro que, tentando fugir do lugar-comum, aborda temas complexos com fluidez e honestidade. O transumanismo através de olhos caridosos; a singularidade virtual sem palavras obscuras; o existencialismo de coração aberto. - Compre aqui!


Sinopse: Culto às Máquinas continua a história de Fim das Religiões.

Saturno, em seu novo lar, precisa lidar com traumas e a incerteza sobre o futuro. Pedro, do outro lado do continente, tenta se adaptar à sua nova condição — o conhecimento lhe deu um poder que nunca esperou. Enquanto isso, Vivet, a maior cidade do mundo, enfrenta desafios políticos e sociais. Já Belalux, a capital do Império Solar, se prepara para um grande conflito. Estaria a Fronteira Vermelha preparada?

Uma sombra densa paira sobre o mundo da autoespécie. - Compre aqui!


Sinopse: Alguns dizem que o futuro é imprevisível. Outros, que ele se repete. Para Ana, uma jornalista, o futuro já está acontecendo. Em uma visita a uma ONG de ativistas jurídicos, ela conhece Soteria, uma inteligência artificial especializada em direito civil e penal. Ana quer saber mais sobre a atuação da IA, que se consagrou como uma defensora dos direitos dos mais pobres e desassistidos, tendo inúmeras vitórias em tribunais contra governos e grandes corporações. A entrevista, portanto, parecia ser promissora, mas, no decorrer da conversa, a jornalista descobre algo assombroso. O homem talvez não consiga prever o futuro, mas as equações das máquinas conseguem. - Compre aqui!

Sobre o(a) autor(a):


L. Z. X. Maia é manauara, graduado em economia pela Universidade Federal do Amazonas. Apesar da formação, sempre foi um amante da literatura. Tem como influências Machado de Assis, Dostoievski, Nietzsche, George R.R. Martin, Ursula le Guin e Asimov. Leitor de fantasia e grandes clássicos, gosta de navegar entre o mágico e a escuridão sólida da alma.

Beijos!

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