ENTREVISTA COM AUTORES #297 | Autora Juliene Mattos
1 - Qual foi sua inspiração para começar a escrever?
Minha inspiração nasceu do que parece simples: o dia a dia. As conversas no ônibus, os silêncios da casa, os olhares que encontro pelos caminhos, os lugares que visito e as pessoas que amo (ou apenas observo de longe). É dessas pequenas vivências que surgem os grandes dilemas humanos que me movem a escrever: o luto, o sentimento de não pertencer, o medo e a beleza das escolhas que fazemos.
A escrita, para mim, é uma forma de cura e reflexão. Quando visto tudo isso com o manto da fantasia, fica mais fácil olhar de frente para dores profundas, sem perder a esperança. Não escrevo apenas para entreter, escrevo para tocar o leitor em algum ponto sensível da alma, para que, ao fechar o livro, ele se sinta um pouco diferente de quando o abriu: mais acolhido, mais consciente de si, talvez um pouco mais inteiro.
2 - Quais autores ou obras influenciaram seu estilo de escrita?
Costumo dizer que minha primeira grande influência foi a minha própria casa. Minha mãe é professora e, desde cedo, vivi cercada por livros. As estantes eram quase criaturas vivas, cheias de vozes me chamando. Cresci como uma leitora voraz, não sei ficar sem ler. Sidney Sheldon me ensinou a amar tramas cheias de reviravoltas; George R. R. Martin, a não ter medo da complexidade e da dor; Stephenie Meyer, a força de um romance que também fala de pertencimento. Cada um, à sua maneira, ajudou a moldar a autora que me tornei.
Mas o grande divisor de águas foi Julia Quinn. Com sua narrativa fluida, intensa e, ao mesmo tempo, leve, ela me mostrou que até os acontecimentos mais corriqueiros do cotidiano podem se transformar em tramas avassaladoras, cheias de emoção e encantamento. Mais tarde, já na vida adulta, mergulhei na literatura nacional e descobri um tesouro inesgotável: Raphael Montes, Paula Pimenta, Carla Madeira, entre tantos outros, ampliaram meu olhar, enquanto o legado de nomes como Machado de Assis, Clarice Lispector e Ariano Suassuna sempre me lembra de onde viemos e da força da nossa literatura.
Por tudo isso, sempre deixo um convite: leiam autores nacionais. Há muitos mundos, vozes e histórias poderosas nascendo aqui, na nossa própria terra.
3 - Como você lida com o bloqueio criativo?
O bloqueio criativo é, para mim, um lembrete de que a arte também respira. Sou muito disciplinada e gosto de cumprir as metas que estabeleço, inclusive na escrita, mas aprendi que criatividade não se força. Quando o bloqueio chega, é hora de soltar a caneta (sim, eu ainda escrevo à mão antes de passar para o computador) e olhar para o mundo fora das páginas.
Leio, brinco com meus filhos, abraço meu marido, deixo a vida me inspirar de novo. Às vezes, o que a mente precisa não é de mais esforço, e sim de silêncio, de pausa, de presença. É nesse intervalo entre uma respiração e outra que as ideias voltam — mais vivas, mais sinceras e, quase sempre, mais fortes do que antes.
4 - Quais desafios você enfrentou durante sua jornada como escritor(a)?
A jornada na escrita não é um mar de rosas mas, ainda assim, é o caminho mais incrível que eu poderia escolher. Um dos meus maiores desafios é conciliar o tempo: trabalho o dia inteiro e ainda sou mãe de três filhos, dois deles autistas. Entre terapias, rotina da casa, demandas do dia a dia e o cansaço, encontrar espaço para sentar, respirar e escrever exige disciplina, renúncia e, muitas vezes, escrever nas brechas: de madrugada, no intervalo, quando todos já dormiram.
E quando o manuscrito finalmente fica pronto, vem a próxima fase do desafio: encontrar espaço no mercado editorial, divulgar o livro e ser vista em meio a tantas obras incríveis que já existem por aí. Ninguém disse que seria fácil, não é mesmo? Então escolhi abraçar o processo: busco aprender sempre, me reinventar, entender o mercado, testar novas formas de alcançar leitores e fazer o melhor que posso com os recursos que tenho agora. Porque, no fim, cada passo — por menor que pareça — me aproxima dos leitores que estão esperando exatamente a história que eu tenho para contar.
5 - Você já teve experiências significativas com seus leitores? Alguma história que gostaria de compartilhar?
Para mim, o melhor da escrita é justamente o encontro com o leitor. É ouvir como a história o envolveu, o fez refletir, o que ele amou, o que o irritou, o que o fez rir ou chorar. Esse diálogo depois do livro pronto é mágico, é quando percebo que aquilo que nasceu no silêncio do meu caderno encontrou abrigo no coração de alguém.
Uma das experiências mais marcantes que vivi foi com o meu livro “João e o Pé de Sonho”. Uma mãe me contou que o leu para o filho de seis anos e, à medida que a história avançava, ele foi ficando muito emocionado. Em certo momento, virou para ela e disse que o João era igual a ele, que enxergava o mundo como ele. O livro fala sobre o autismo, e saber que uma criança se reconheceu ali, se sentiu vista e compreendida, me emocionou profundamente. Momentos como esse me lembram por que escrevo: para que, em alguma página, alguém finalmente se sinta menos sozinho.
6 - Como é o seu processo de escrita? Você segue uma rotina específica?
Meu processo de escrita é, literalmente, um exercício de caos e paixão. Não existe um “momento ideal”, escrevo quando dá, onde dá. Às vezes é de madrugada, quando todos já dormiram; outras vezes, no horário de almoço ou enquanto espero meu filho entre uma terapia e outra. Cada minuto é uma chance de colocar no papel um pedaço do que vive dentro de mim.
Costumo começar definindo o tema central da história. Pesquiso muito: mitos, lendas, símbolos, tudo o que possa expandir meu olhar sobre aquele universo. Depois traço um esboço com o início, meio e fim que imagino… mas, quando começo a escrever, deixo a imaginação tomar as rédeas. Gosto de sentir a trama junto com os personagens: rio, choro, me revolto e me apaixono com eles. É uma experiência quase fora do tempo, como se eu deixasse o mundo real por instantes e viajasse para dentro da história. Quando volto, trago comigo um pedacinho desse outro universo e é isso que faz tudo valer a pena.
7 - Qual é o impacto que você espera que suas obras tenham nos leitores?
Espero que, ao lerem minhas histórias, os leitores encontrem nelas um espelho — ainda que mágico — da própria jornada. Que se reconheçam nos personagens, nas dores e nas escolhas que eles enfrentam, e que, de alguma forma, cada página desperte uma reflexão sobre a própria vida. Quero que, ao fecharem o livro, sintam-se um pouco menos sozinhos neste mundo repleto de pressões, dúvidas e contradições.
Acredito que todos somos feitos de luz e sombra, e é justamente o que fazemos com elas que nos define — não os dons, nem os poderes, mas as escolhas. Se minhas histórias puderem lembrar alguém de que sempre é possível recomeçar, recalcular a rota e transformar o próprio destino, então já terei cumprido o meu propósito. Porque, no fim, a magia mais poderosa é a de continuar acreditando em si mesmo.
8 - Quais são seus planos para o futuro? Você está trabalhando em algum novo projeto?
Escrever, escrever e — claro — continuar escrevendo!
Em janeiro, lanço Entre Feitiços e Vampiros pela editora Flyve, uma romantasia intensa e envolvente que marca uma nova fase da minha trajetória. A história traz a colisão de dois mundos e um amor proibido entre uma feiticeira e um vampiro — luz e sombra, magia e instinto, dever e desejo.
Além desse lançamento, pretendo continuar expandindo meus universos literários, explorando novas histórias e personagens que provoquem reflexão, emoção e encantamento. Quero seguir tocando corações, mostrando que a fantasia pode ser uma ponte poderosa entre o imaginário e o que temos de mais humano. Afinal, enquanto houver histórias para contar, haverá esperança.
Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?
Se eu pudesse deixar um recado, seria este: nunca deixem de ler.
Os livros são portais, cada página é uma porta que se abre para novos mundos, novas formas de sentir, de pensar, de existir. A leitura nos amplia, nos cura e, acima de tudo, nos conecta.
E, quando abrirem um livro nacional, façam isso com o coração aberto. Há autores incríveis neste país, cheios de histórias pulsando nas veias, transformando a realidade com palavras que nascem daqui, do nosso chão. Dêem uma chance à literatura brasileira: ela é viva, diversa, emocionante e fala diretamente com a nossa alma.
Aos leitores do Lost Words e aos que ainda vão me conhecer, deixo um convite: permita-se ser tocado pelas histórias. Talvez uma delas mude o seu olhar sobre o mundo… ou sobre si mesmo. Porque ler é, no fundo, o maior feitiço que existe, aquele que desperta a magia que já vive dentro de nós.
Sobre sua(s) obra(s):
Sinopse Entre Feitiços e Vampiros - Ainda não tem capa:
Ela nasceu da luz.
Ele carrega as sombras no sangue.
Mas o destino os uniu e não aceita arrependimentos.
Maya sempre foi ensinada a temer a escuridão.
Mas quando uma fenda entre os mundos ameaça destruir Eltherys, ela é forçada a unir forças com Oliver, um vampiro de olhos lilás e passado amaldiçoado.
Ele deveria ser seu inimigo.
Mas é nele onde ela encontra respostas.
E um amor proibido que pode salvar – ou condenar – tudo o que jurou proteger.
Em meio a feitiços antigos, segredos enterrados e batalhas sangrentas, Maya precisará decidir se abraça o poder que corre em suas veias… ou se renuncia à única chance de impedir o fim.
Sinopse: Melody sempre se sentiu diferente das outras garotas da sua idade. Com todos os dilemas de uma adolescente, ela não se encaixava nos grupos da escola.
A solidão era parte do seu cotidiano.
Era como se ninguém enxergasse o mundo da mesma maneira que ela. O único local em que se sentia segura e feliz era diante do mar.
Quantas vidas o oceano abriga?
Quantas espécies ainda não foram descobertas?
Quantos mistérios se escondem em suas profundezas?
Essas perguntas reverberavam em sua mente, como um lembrete de um mistério que parecia ecoar para ser revelado.
Mas, ao descobrir sua origem e o motivo de o mar ser tão significativo, Melody precisará lidar com as consequências.
Será que ela saberá lidar com essa descoberta? - Compre aqui!
Sinopse: Ao receber o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista do meu filho, percebi que conhecia muito pouco sobre o assunto. O diagnóstico assusta, paralisa, desnorteia… A busca por conhecimento foi essencial para auxiliar minha família nessa jornada. Infelizmente, muitas pessoas ainda não têm informações corretas sobre esse transtorno. ‘João e o Pé de Sonho’ explica de forma lúdica algumas características do autismo e nos mostra que com informação, respeito e tolerância podemos superar todas as dificuldades. Embarque nessa aventura e venha conhecer o mundo através dos olhos de João. Um menino alegre e sorridente que não se sente diferente de ninguém. Afinal, todos nós, neurotípico ou neuroatípico, somos únicos e especiais! - Compre aqui!
Sinopse: Sob a sombra da guerra, ergue-se algo maior que ruínas. Quando o rugido das armas silencia, ela permanece: invisível, implacável. O peso dos silêncios, os olhares que temem o passado, as ausências que jamais se preenchem. Cada sobrevivente carrega cicatrizes que não se veem, destinos rasgados, memórias que latejam como feridas abertas. Não há heróis — há quem continue, passo após passo, entre as cinzas.
Neste cenário de devastação, duas almas desafiam o impossível: proteger uma intensa história de amor. Entre a vontade de esquecer e a necessidade de lembrar, eles descobrem que só encarando a dor é possível impedir que a história se repita. Até onde o amor pode ir para reescrever um destino? E o que sacrificamos para que a esperança não morra? - Compre aqui!
Sinopse: Contos Embaralhados trabalha os gêneros textuais de uma forma bem divertida. Aqui, os contos clássicos tornam-se atuais e os personagens que habitam o imaginário infantil reforçam a importância da leitura! - Compre aqui!
Sobre o(a) autor(a):
Juliene Mattos é natural de Belo Horizonte/MG. Jornalista, casada e mãe de três filhos é apaixonada por fantasia, filmes e séries. Cresceu rodeada por livros e se tornou uma leitora voraz. Sua vasta experiência no universo do teatro e da dança contribuiu ainda mais por sua paixão pelas diversas manifestações artísticas. Com o passar dos anos, seu interesse pela literatura aumentou, e agora pretende conquistar os leitores com histórias que toquem o coração e, ao mesmo tempo, provoquem reflexões. É também autora dos livros Contos Embaralhados (2020), João e o Pé de Sonho (2024), A Herdeira do Mar e o Reino Submerso (2025) e Entre Feitiços e Vampiros (2026).
Beijos!





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